Por Ana Rita Faria, in Jornal Público
O economista Silva Lopes admitiu hoje ter receio de uma intervenção do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Portugal, pois considera que a ajuda não teria agora os mesmos resultados que no passado.
“Desta vez, tenho medo se o FMI vier”, admitiu o ex-ministro das Finanças, que falava no colóquio sobre dívida pública que está a decorrer na Assembleia da República.
O economista vê como possível que Portugal tenha de recorrer ao FMI mas diz que, ao contrário do que aconteceu nas últimas intervenções que tiveram “um resultadão”, “agora não iria dar, desde logo porque não podemos desvalorizar a moeda”, como se fez em 1983, por exemplo.
“Agora só podemos cortar na despesa e cortar na despesa dá recessão”, defende Silva Lopes, considerando irrealistas a previsão de crescimento económico de 0,2 por cento avançada pelo Governo na proposta do Orçamento do Estado para 2011. “Gostava de acreditar no número do Governo, mas não acredito”, reitera, apontando como válida a previsão do FMI de uma recessão de 1,4 por cento no próximo ano.
O ex-ministro das Finanças sublinha, contudo, que o Governo está a tomar as medidas necessárias para evitar que seja cortado o acesso ao financiamento. “Se o Governo não tomasse estas medidas, não nos emprestavam mais dinheiro lá fora e a recessão seria mil vezes pior”, admite, defendendo que a União Europeia é que não devia impor condições “tão recessivas” de redução do défice como está a fazer.
Sobre a transferência para o Estado do fundo de pensões da Portugal Telecom, o economista entende que “é uma receita extraordinária que vai provocar o aumento da dívida pública”. “É uma forma de financiamento encoberto”, acusa Silva Lopes.
“Recebemos agora dois mil milhões de euros, conseguimos a meta do défice mas os contribuintes no futuro vão ter de assumir um valor maior”, salienta.
O economista diz mesmo ironicamente que “as malfeitorias que temos feito na contabilidade das despesas públicas já vem muito de trás” e avança com uma proposta de aplicar a lei da rolha ao Parlamento, “impedindo os deputados de fazer propostas de aumento de receitas em fazer propostas de corte nas despesas”.


