19.10.10

Um milhão de portugueses não tem conta bancária

Lucília Tiago, in Jornal de Notícias

Há cerca de um milhão de portugueses que não têm conta bancária e dos que têm, metade não faz qualquer poupança. O motivo para ambas as situações é o mesmo: falta de dinheiro, segundo revelam os primeiros resultados do inquérito sobre literacia financeira do BdP.

Os termos "spread" e TAEG são conhecidos e referidos por muitos portugueses. Mas serão importantes na hora de contrair um empréstimo? Os resultados preliminares do inquérito à literacia financeira conduzido pelo Banco de Portugal (BdP), mostram claramente que não. São 41% os portugueses que dizem desconhecer o spread do seu empréstimo da casa e a mesma percentagem sublinha que foi o valor da prestação mensal do crédito o factor principal para a escolha do banco onde pedir o dinheiro. Apenas 4% reconhecem que a TAE (que inclui comissões, juros e seguros obrigatórios) foi relevante para a escolha do banco.

Poupar para... consumir

Mas voltemos ao início, ou seja, aos 11% (ou um milhão de pessoas) que nem sequer utiliza o sistema bancário. A maioria (67%) não tem conta pura e simplesmente porque não tem rendimento para tal. Apenas 6% refere não ter conta por os custos de manutenção serem elevados.

Restam os 89% que têm conta bancária. Mas, como revela o inquérito, isso não é sinónimo de poupança. Deste total, cerca de metade (52%) diz poupar, enquanto 48% afirmam não pôr dinheiro nenhum de lado, porque (dizem-no 88%) o rendimento não chega para isso, ou ainda (e são 7% que assim pensam) poupar não é uma prioridade.

Os resultados desta parte do inquérito mereceram a atenção do governador do Banco de Portugal, tendo Carlos Costa alertado que não ter hábitos de poupança torna as pessoas "vulneráveis a situações futuras". Referiu ainda que a crise e o elevado desemprego não são motivo para não poupar, dando como exemplo o que se passa em Espanha onde o aforro tem subido nos últimos meses.

"Tudo depende da forma como a crise é interiorizada pela população", precisou. E, neste contexto, manifestou alguma preocupação com o facto de entre os que poupam, apenas um em cada cinco o fazer com intenções de longo prazo. Os restantes poupam para consumir. e não para acumular uma base de riqueza.

Pela positiva, Carlos Costa destacou a confiança, revelada neste inquérito, que os dois mil inquiridos mostraram ter no sistema bancário e nos funcionários dos bancos. Prova dessa confiança está no facto de o "conselho do balcão" ser o factor que mais pesa na escolha dos produtos bancários.

Apesar do reflexo que as taxas de juro têm ou podem ter na gestão do dia-a-dia das pessoas, apenas 16% e 22% dizem conhecer o valor exacto das taxas de juro dos seus depósitos e empréstimos, respectivamente. Uma expressiva parte da população (37%) não compara as condições dos vários bancos antes de fazer um depósito e ainda são mais (40%) os que dizem não fazer qualquer comparação de taxas de juro antes de contrair um empréstimo.

Entre os que têm cartão de crédito, 52% paga a totalidade do saldo que usou no mês seguinte, mas 43% opta pelo pagamento parcial, o que implica suportar juros, cuja taxa 27% diz não saber qual é. Menos usados são os "adiantamentos de ordenado": apenas um quarto o faz.