Raquel Godinho, in Jornal de Negócios
Quase não têm défices públicos. Alguns têm mesmo superavit. A dívida do Estado não é um fardo e não correm o risco, como a Alemanha e a França, de vir a pagar a maior factura da crise do euro. Até porque, tirando a Finlândia, não estão na moeda única. As obrigações dos países nórdicos são o derradeiro refúgio se os esforços europeus correrem mal
A volatilidade nos mercados permanece elevada, penalizando as carteiras dos investidores, e o rumo da economia mundial é uma incógnita. Nesta conjuntura, onde devem os investidores apostar? Nenhuma classe de activos é garantia de sucesso. Mas há algumas que podem ser escolhidas com o intuito de evitar dissabores. É o caso das obrigações dos países Nórdicos. A situação orçamental mais saudável e as melhores perspectivas de crescimento face aos pares europeus são as principais vantagens desta classe.
Uma das lições que os investidores puderam retirar do que aconteceu nos mercados nos últimos meses é que, na actual conjuntura, mais do que nunca, a diversificação do investimento é fundamental, para mitigar as perdas. Diversificação de activos e geografias. É aqui que a dívida dos Nórdicos tem sido apontada pelos especialistas.
"Todos os países Nórdicos enfrentaram profundas crises económicas e bancárias nos anos 80 e 90", relembra ao Negócios a equipa de investimento do Nordea. "Todos os países utilizaram estas crises para modernizar as suas economias e reformar os sistemas bancários, de forma a torná-los mais flexíveis", acrescenta.
A gestora sublinha, ainda, que o cenário macroeconómico destes países é "saudável", pois têm algumas das instituições mais transparentes e que melhor funcionam no mundo. Por outro lado, ocupam também lugares de destaque quando se fala de educação. Ao longo do último ano e meio, a Zona Euro assumiu-se como o principal foco de preocupação dos investidores, com a crise da dívida soberana a ter impactos severos na economia. Aqui reside outro dos factores diferenciadores dos países Nórdicos, na actual conjuntura.
"Estes países vão recuperar da crise primeiro do que os outros mercados europeus, como indicam as estimativas da OCDE", ressalva a equipa de investimento da Pictet. Uma perspectiva baseada nas "economias flexíveis com sectores produtivos". A sua natureza de países industriais e exportadores também os beneficia numa altura em que a economia mundial enfrenta dificuldades no seu crescimento.
Estas características podem tornar a aposta na dívida destes países mais atractiva, sobretudo se comparada com as demais regiões. Ainda assim, a equipa de investimento da Pictet frisa que os mercados de obrigações destas economias são de dimensão média, quando comparados aos Estados Unidos e a Zona Euro. Contudo, a dívida dos quatro principais países Nórdicos (Noruega, Suécia, Finlândia e Dinamarca) apresenta a classificação de risco máxima: "AAA".
Por outro lado, Noruega, Finlândia e Suécia situam-se entre os países mundiais com os preços dos CDS (seguros contra o incumprimento da dívida) mais baixos, inferiores mesmo à Alemanha. Ou seja, estão entre os países mais seguros do mundo.
Em suma, para além da melhor conjuntura económica e orçamental, as obrigações destes países ainda "oferecem forte liquidez, qualidade de crédito e 'yields' atractivas", refere a equipa do Nordea. A mesma fonte destaca que a Noruega e a Suécia podem tornar-se opções de diversificação "mais interessantes" por não fazerem parte da União Monetária Europeia e terem o total controlo da sua política monetária e moedas.
FMI prevê que os quatro principais países nórdicos cresçam em 2012
Entre as características que mais distinguem estes países dos vizinhos europeus estão as taxas de crescimento económico e também a ausência de défice orçamental. As estimativas da OCDE revelam que estas economias deverão recuperar da crise antes dos demais mercados europeus. A sua natureza industrial e exportadora também favorece a visão optimista dos especialistas.
Noruega Excedente orçamental
PIB 2012: 2,5%
Superavit em % PIB 2012: 8,5%
Endividamento em % PIB 2012: 55,4%
A Noruega é, juntamente com a Suíça, o único país europeu com excedente orçamental. Uma característica que a distingue numa altura em que a grande maioria dos países europeus, como a Alemanha e a França, regista défices. Por outro lado, por duas vezes a Noruega rejeitou em referendo a adesão à União Europeia, o que, somado à sua não presença na Zona Euro, a "protege" mais dos problemas destas economias.
Suécia Maior crescimento do grupo
PIB 2012: 3,8%
Superavit em % PIB 2012: 0,6%
Endividamento em % PIB 2012: 32,6%
A julgar pelas últimas estimativas do FMI, a economia sueca registará o maior crescimento do PIB no próximo ano, entre o grupo dos quatro maiores países da região Nórdica. Esta economia deverá crescer 3,8%, depois do avanço de 4,4% esperado para este ano. Por outro lado, é também estimado que registe um ligeiro superavit orçamental em percentagem do PIB já este ano e também no próximo. A percentagem de endividamento é reduzida.
Finlândia Perto de chegar a superavit
PIB 2012: 2,2%
Défice em % PIB 2012: -0,2%
Endividamento em % PIB 2012: 50,3%
Numa região em que os défices orçamentais são reduzidos e alguns países apresentam mesmo excendentes, a Finlândia está já perto de deixar os números vermelhos das suas contas. Para o próximo ano, o FMI antecipa um défice de 0,2% do PIB e, segundo as mesmas previsões, em 2014, esta economia alcançará já um superavit. Quanto ao PIB, o crescimento previsto é de 2,2% para 2012, depois de uma expansão de 3,5% em 2011.
Dinamarca Endividamento reduzido
PIB 2012: 1,5%
Défice em % PIB 2012: -2,5%
Endividamento em % PIB 2012: 45,8%
Membro da União Europeia desde 1973, a Dinamarca não faz parte da Zona Euro, pelo que não é directamente afectada pela actual crise. As previsões do FMI apontam para que esta economia registe, em 2012, um crescimento em linha com o deste ano, e que comece a aumentar em 2013. O endividamento em percentagem do PIB estimado para 2012 é de 45,8%, inferior aos 81,9% e 89,4% previstos para a Alemanha e França, respectivamente.
Os melhores fundos de obrigações nórdicas
Os fundos que investem em dívida pública e privada dos países nórdicos apresentam rendibilidades elevadas nos últimos anos. A três anos, os fundos rendem até 10%, enquanto as valorizações rondam os 5% a cinco anos. Na maioria dos casos, os produtos privilegiam dívida de alta qualidade, com maturidades mais longas. Prefira os fundos que fazem a cobertura cambial para euros.


