15.3.16

Grupo de Chaves da Amnistia Internacional: “Luta pelos direitos da mulher deve ser uma luta sistemática”

Cátia Portela, in "Diário Atual"

O Grupo de Chaves da Amnistia Internacional organizou na terça-feira, dia 8, uma exposição de rua sobre as “Mulheres Ativistas” como forma de assinalar o Dia Internacional da Mulher.

IMG_3413Em frente à Câmara de Chaves foram colocados vários painéis com a fotografia de 34 mulheres, entre quais cinco portuguesas, que dedicaram grande parte da sua vida à luta pela igualdade de género. São mulheres que em diferentes períodos de tempo e um pouco por todo o mundo reivindicaram direitos iguais dentro da sociedade em que estavam inseridas.

Em 1910 a ONU instituiu o dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher como forma de assinalar os grupos de mulheres operárias que no final do século XIX saíram à rua em protesto contra as 15h laborais e os salários baixos.

Desde então, outras mulheres se celebrizaram e inclusive receberam o prémio Nobel, como é o caso recente da paquistanesa Malala Yousafzai, de 18 anos, que ficou conhecida principalmente pela defesa do acesso à educação pelas mulheres na sua região natal, onde os talibãs locais impedem as jovens de frequentar a escola. O ativismo de Malala ficou conhecido pelo mundo inteiro tornando-se num movimento internacional.
O Grupo de Chaves da Amnistia Internacional procurou “assinalar mulheres portuguesas, americanas, de diferentes países africanos e asiáticos, de diferentes idades, de diferentes extratos sociais, no sentido de mostrar que esta não é uma luta só do ocidente, ou só da Europa, ou só das mais ricas, ou só das mais instruídas. É uma luta em diferentes países, de diferentes épocas históricas e com diferentes domínios”, explicou a vice-coordenadora do grupo flaviense.

“É óbvio que a luta das ativistas pela igualdade de género num país como Portugal, ou num país como o Afeganistão e a Arábia Saudita, por exemplo, são diferentes. São diferentes porque os direitos e as conquistas vão-se alterando de país para país consoante o período político e histórico que está a viver”, acrescentou Brigite Gonçalves dando como exemplos alguns casos ocorridos no nosso país e lembrando que a luta pelos direitos da mulher deve ser uma luta sistemática.

Para a vice-coordenadora do Grupo de Chaves da Amnistia Internacional, Portugal tem evoluído e as mulheres já tiveram muitas conquistas, no entanto há domínios que ainda é preciso intervir, nomeadamente a nível laboral onde os salários continuam a ser diferentes entre homens e mulheres com a mesma função e categoria profissional, sendo que o do homem é superior ao da mulher. Também ao nível da política, a advogada defendeu que as mulheres deveriam ter maior representatividade uma vez que na sociedade há mais mulheres do que homens. Porém, tal não acontece porque “tem a ver com o modus operandi e com a forma como historicamente e tradicionalmente estas coisas sempre foram decididas. Normalmente é em pequenos núcleos de homens que se decide quem vai ocupar determinados lugares”, rematou.

“Há muitos outros exemplos”, continuou, “há imensas mulheres licenciadas e doutoradas em economia e em gestão mas ainda não as vemos por exemplo na banca ou no setor financeiro. Também na área financeira, as empresas mais cotadas em Portugal nenhuma delas é presidida no seu conselho de administração por uma mulher. O poder, seja nas academias, seja no setor empresarial ou na política, continua a estar concentrado nas mãos dos homens. Portanto, ainda faz sentido continuar a lutar pelos direitos da mulher porque a luta está inacabada, ou seja, já se conquistou muita coisa mas há uma série de domínios onde é preciso continuar a intervir”, concluiu.

Grupo de Chaves da Amnistia Internacional presente na cidade há três anos.

A exposição dedicada aos direitos da mulher foi mais uma das atividades organizadas pelo Grupo de Chaves da Amnistia Internacional.
“Quase todos os meses temos uma ação. O facto de ser uma cidade pequena e do interior leva a que não consigamos fazer marchas nem vigílias com grande visibilidade. Mesmo assim, optamos por estratégias diferentes, ou seja, fazemos coisas mais simbólicas mas que se notam. Por exemplo, somos o grupo que recolhe mais assinaturas a nível nacional, conseguimos recolher mais de seis mil assinaturas há dois anos e o ano passado quatro mil”, disse a coordenadora do grupo.

“Acho que todos nós podemos ajudar, e esta exposição foi um bocadinho para demonstrar isso. Nesta exposição estão mulheres que, de uma maneira ou de outra, lutaram por uma causa: algumas delas pelos direitos ambientais, outras pela igualdade, outras lutaram contra discriminação, pelos direitos LGBTI, de liberdade de imprensa…todas elas lutaram de uma maneira diferente. Elas não eram ninguém e mudaram o mundo. Nós também podemos mudar o mundo, com as nossas ações, com a nossa tenacidade, não desistindo, não ficando calada, porque o silêncio é morte”.
Paula Dias define-se como uma defensora de causas, tanto ambientais como animais, e por isso mesmo é que decidiu criar um grupo da Amnistia Internacional na cidade.

As principais causas defendidas pelo Grupo de Chaves são o desaparecimento forçado de Juan Almonte Herrera, na República Dominicana, e o caso de Laísa Santos Sampaio, uma ativista dos direitos ambientais no Brasil. No caso de Juan Almonte Herrera o Grupo de Chaves está a desenvolver, em parceria com o Grupo de Lugo e o Grupo de Sintra, várias ações. No outro caso, este ano o grupo teve uma proposta para a realização de uma ação conjunta com o Grupo alemão na abertura dos Jogos Olímpicos, sendo que “a ideia é fazermos uma atividade nos dois países em simultâneo”.
O Grupo de Chaves da Amnistia Internacional é um dos grupos mais ativos do país, juntamente com o Grupo de Coimbra, num universo que ultrapassa os 40.

“Sou suspeita para dizê-lo mas a prova é que sou contactada muitas vezes por outros grupos portugueses, espanhóis, franceses, inclusive do Togo, na África, do Brasil, e dá-me uma satisfação imensa partilhar a minha experiência com eles e ao mesmo tempo aprender coisas novas”, afirmou.
A partilha é a filosofia do grupo que existe na cidade há três anos e que conta já com cerca de 90 elementos, 13 que pagam quotas à secção portuguesa da Amnistia Internacional e os restantes que ajudam das mais variadas formas.