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20.2.23

No Algarve "estamos na Idade Média na saúde mental" de crianças e adolescentes

Maria Augusta Casaca, in TSF

Saúde Mental para Crianças e Adolescentes do Algarve e Alentejo só em Lisboa.

A Rede Nacional de Serviços de Urgência de Psiquiatria da infância e adolescência, em vigor desde o início do mês, está organizada em urgências regionais, sendo que o Hospital D. Estefânia atenderá além de Lisboa e Vale do Tejo, a população do Alentejo e do Algarve. Na região sul, quem é adolescente e necessita de apoio ao nível da saúde mental, não tem qualquer alternativa a não ser deslocar-se a Lisboa.

É o caso das meninas que estão na Casa de Acolhimento da Associação De Proteção à Rapariga e à Família. Nesta altura estão ali 16 jovens. Ao longo dos anos têm sido muitas as vezes que as técnicas da instituição foram obrigadas a deslocar-se de urgência com várias raparigas para Lisboa.

"Aqui em Faro, num fim de semana ou na urgência não há pedopsiquiatra", relata a presidente da instituição. "Ou quem faz o atendimento assume uma resposta, ou então a miúda tem que ir para a Estefânia, que é a referência para todo o sul de Portugal", adianta Filomena Rosa. Para serem observadas fazem 600 quilómetros, muitas vezes agitadas e a necessitar de um apoio imediato.
Estas jovens têm idades compreendidas entre os 12 e 18 anos, mas podem prolongar a sua vida na casa de acolhimento até aos 24 anos, se estiverem a estudar. Têm vidas difíceis que obrigaram à institucionalização e os problemas de saúde mental são recorrentes, como passarem por um sofrimento imenso ou automutilarem-se.

Filomena Rosa dá o exemplo de uma jovem que precisava de ser internada com urgência, mas no D. Estefânia não havia vaga. A alternativa foi bem pior." Destruía, agredia pessoas lá fora e, como não havia vaga no Hospital [D. Estefânia] foi-lhe aplicada uma medida tutelar educativa", conta.

Com um único pedopsiquiatra na região que não tem mãos a medir, a presidente da Associação de Proteção à Rapariga considera que as respostas ao nível da saúde mental são insuficientes e deviam melhorar urgentemente " Tem que se criar uma rede de saúde mental no Algarve ou, pelo menos, um departamento que tem o número de técnicos que precisa", considera." Para ver se saímos da idade média em termos de respostas à saúde mental no Algarve", enfatiza.

Centro Hospitalar do Algarve tem apenas um pedopsiquiatra a meio tempo

A presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA) admite que o hospital não tem capacidade para observar adolescentes na especialidade de psiquiatria. O único pedopsiquiatra que existe nem sequer trabalha a tempo inteiro no hospital."Não há clínicos suficientes para manter uma escala de urgência", admite. " Eu não posso manter uma escala de urgência aberta com um pedopsiquiatra que faz 20 horas semanais", afirma. Ana Varges Gomes considera que a situação nunca melhorará se se continuarem a formar poucos pedopsiquiatras no país.

Para enfatizar a falta de especialistas nesta área, lembra que Coimbra, que tem vários médicos pedopsiquiatras, este ano só formou um especialista. "Já tentamos sugerir algum apoio, nem que fosse por vídeo consulta para uma primeira abordagem", conta. No entanto, "pela lei as crianças têm que ser vistas por um pedopsiquiatra, nós não temos e por isso têm que ir até Lisboa". A presidente do CHUA defende que a Ordem dos Médicos devia pensar numa forma de criar para os psiquiatras de adultos uma especialização para a infância, para tentar ultrapassar o problema a curto prazo.
O Centro Hospitalar e Universitário do Algarve em março um outro pedopsiquiatra a trabalhar, mas ainda é um dado incerto.

12.9.18

Todos os dias, cinco crianças são vítimas de crimes sexuais em Portugal

in o Observador

Os dados revelados pela Polícia Judiciária indicam que, do total de 1.518 casos relacionados com crimes sexuais registados nos primeiros seis meses do ano, 885 foram com crianças e adolescentes.
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Lisboa, Porto e Aveiro são os distritos que registaram os valores mais elevados de crimes sexuais (268, 217 e 95 casos, respetivamente).

Nos primeiros seis meses do ano, cinco crianças foram vítimas de crimes sexuais diariamente e foi registada mais do que uma violação por cada 24 horas. Os dados são da Polícia Judiciária (PJ), que indica ainda que dos 1.518 casos relacionados com abuso e coação sexual, lenocínio, pornografia, prostituição ou violação, 885 envolveram crianças e adolescentes e a maior parte foi perpetrada por familiares ou alguém próximo, avança o Jornal de Notícias.

Lisboa, Porto e Aveiro são os distritos que registaram os valores mais elevados de crimes sexuais (268, 217 e 95 casos, respetivamente) e, refere a PJ, os números pouco diferem dos que foram registados no mesmo período em 2017.

Segundo Ana Vasconcelos, “estes crimes irão perturbar as vítimas [menores] ao nível da sua autoestima e autoconfiança. Também irão perturbar as suas futuras relações amorosas e a sua sexualidade”. A pedopsiquiatra forense acrescentou, em declarações ao JN, que “as memórias episódicas traumáticas” poderão causar “uma personalidade alterada” se as vítimas não forem acompanhadas e ajudadas em tempo útil.

Os dados indicam ainda que o número de vítimas confirmadas é menor do que os inquéritos abertos, mas é muito superior ao número de detidos. Este ano, foram detidos 123 suspeitos, 29 dos quais por violação. Dentro deste número, seis dos detidos tinham uma relação familiar com a vítima e sete conheciam quem violavam.

É mais fácil cometer esses abusos sobre quem está mais próximo e é por isso que isto acontece com professores, treinadores e também com os pais, irmãos, tios e avôs. É mais fácil o muro de silêncio ser levantado aí”, explicou ao JN Carlos Poiares, professor de psicologia forense.

Depois do abuso sexual de crianças (665 casos), a violação (231) e a importunação sexual (97) ocupam o pódio da lista dos crimes sexuais mais cometidos, seguindo-se os atos sexuais com adolescentes (83).

18.3.16

“A escola mudou pouco, os adolescentes mudaram muito”

Andreia Sanches, in "Público"

Reacções ao estudo da OMS sobre a adolescência, divulgado nesta terça-feira. Joaquim Azevedo, investigador da Universidade Católica, avisa que "a indisciplina cresce, cresce, cresce” cada vez mais.

No seu trabalho, Joaquim Azevedo, investigador da Universidade Católica, doutorado em Ciências da Educação, acompanha escolas diariamente. Visita-as, fala com alunos e professores. E regista o seguinte: “A indisciplina cresce, cresce, cresce” cada vez mais. E, com este clima na escola, “se os adolescentes se sentissem lá muito bem, isso é que era estranho”.

Este é o primeiro comentário que faz a uma das conclusões do grande estudo internacional sobre a adolescência, divulgado nesta terça-feira pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Um estudo que mostra que os adolescentes portugueses são dos que se sentem mais apoiados pela família, têm consumos de álcool ligeiramente abaixo da média observada noutros pontos do globo e, mais dos que os outros, quando têm relações sexuais usam preservativo. Boas notícias, portanto. Mas — e esta é a primeira má notícia — a escola em Portugal é pouco amada.

Dados: cerca de um quarto dos adolescentes de 15 anos dos 42 países e regiões participantes no estudo da OMS gostam “bastante” da escola. A Arménia tem o melhor resultado, a Bélgica francófona o pior. Portugal surge na 33.ª posição: só 11% dos rapazes e 14% das raparigas de 15 anos dizem que gostam muito da escola.

O problema não são os colegas — que são, na verdade, o que os portugueses mais gostam na escola. O problema são mesmo as aulas, consideradas aborrecidas, e “a matéria”, que é descrita como excessiva, explicou Margarida Gaspar de Matos, a investigadora que em Portugal coordena este estudo da OMS desde que, em 1998, o país começou a participar.

A indisciplina, prossegue Joaquim Azevedo, é, então, uma das culpadas. E tem crescido por muitas razões, diz. Uma delas é que “a escola não cativa”. Os professores queixam-se de que “os alunos chegam desmotivados”, o que “também é esquisito”, porque a motivação também se ganha na escola. Mas o facto é que “a escola mudou pouco e os adolescentes mudaram muito”. E se se tenta ensinar “nativos digitais” de uma forma semelhante àquela que “existia há 50 anos”, como acontece, dificilmente os "nativos digitais" gostarão muito das aulas.

Segundo a OMS, os adolescentes portugueses são também dos que maior pressão relatam ter com a vida escolar: o país está na lista dos 10 onde, aos 15 anos, a “pressão com os trabalhos escolares” é maior, acompanhado da Finlândia e da Espanha, entre outros.

Os portugueses são, igualmente, dos que menos se têm em conta como alunos. É assim desde cedo: aos 11 anos, aparecem quase no fim da tabela, com a 38.ª pior auto-avaliação do seu desempenho escolar. Aos 15 é pior. Só 35% das raparigas e 50% dos rapazes consideram que têm bom desempenho escolar, quando a média dos 42 países é 60%.

A secretaria de Estado da Juventude e do Desporto, tutelada pelo Ministério da Educação, reconhece o problema e faz saber: “Torna-se prioritário encontrar novas formas de motivar os alunos para o infinito mundo de aprendizagens que a escola lhes pode dar: o desporto escolar e a promoção de hábitos de vida saudáveis são temas a que daremos total prioridade e que, esperamos, contribuirão para combater a insatisfação dos nossos jovens face à escola. Queremos ainda dar um novo fôlego à educação para a cidadania e à valorização da educação não formal, também enquanto ferramentas de educação para a diferença, fazendo frente aos níveis elevados de bullying a que tantos adolescentes estão sujeitos, conforme releva mais uma vez este estudo.”

“Currículo pouco amigável”
José Morgado, professor do departamento de Psicologia e Educação do ISPA-Instituto Universitário, também analisou os dados. E diz que esta conjugação — não temos uma relação forte com a escola, sentimo-nos pressionados por ela e achamos que não somos grande coisa como alunos — não existe por acaso. “É a tempestade perfeita." E, em parte, tem a ver com o facto de “o sistema se ter orientado, de uma forma absolutamente excessiva para os resultados” — ou seja, para os exames e para as notas que neles se conseguem.

O professor de Psicologia aponta ainda o dedo ao “currículo pouco amigável” que se adoptou em Portugal. “Um currículo muito extenso, muito colado ao manual escolar.” Lembra que só entre o 1.º e o 9.º ano, o Governo definiu “mais de 900 metas” curriculares, enquantro "outros países andam a trabalhar para diminuir a extensão" dos currículos e torná-los "mais integrados".



Mas para se sentirem bem na escola, continua Joaquim Azevedo, que integra o Serviço de Apoio à Melhoria das Escolas (uma estrutura da Católica) os adolescentes não precisam que ela seja fácil. “Uma escolha acolhedora é uma escola disponível para orientar” os jovens, “muito exigente em termos de ensino” e com bons professores, sublinha.

Outros países investiram muito “na melhoria das competências dos professores”, lembra, defendendo que, desde logo, 16 valores (numa escala que vai até 20) devia ser a média mínima exigida em Portugal a quem quer tirar um curso para ser professor.

Bullying é problema
Beatriz Pereira, investigadora do Centro de Investigação em Estudos da Criança, do Instituto de Educação, na Universidade do Minho, diz que coisas tão simples como dar oportunidade aos adolescentes de escolherem mais actividades escolares — teatro, desporto, canto, por exemplo, — e de as desenvolverem “ajudaria a reforçar os laços com a escola, a vestirem a camisola”. Dentro da sala, contudo, o que faz mesmo a diferença, concede, é o professor e, por isso, também acha que se deve apostar mais e mais na formação dos docentes.

O Health Behaviour in School-aged Children, divulgado nesta terça-feira, é um estudo feito de quatro em quatro anos pela OMS. Baseia-se nas respostas de mais de 220 mil adolescentes europeus e do Norte da América (6000 portugueses). A recolha foi feita em escolas com 6.º, 8.º e 10.º anos, em 2014. O objectivo é avaliar hábitos, consumos, comportamentos, com impacto na saúde física e mental dos jovens. E a escola, diz-se, tem um enorme impacto.

O estudo não inclui perguntas que permitam aferir se a indisciplina, de que fala Joaquim Azevedo, aumentou ou não. Mas há dados sobre bullying por exemplo. Aos 11 anos, entre 11% (raparigas) e 17% (rapazes) disseram que foram alvo de bullying na escola, “duas ou três vezes por mês nos últimos dois meses”. O país tem a 16.ª taxa mais alta de alunos de 11 anos que se dizem vítimas de bullying.

Aos 15 anos (entre 9 e 12% dizem-se vítimas) estamos comparativamente pior — em 12.º lugar em 42 países.

José Morgado diz que estudos nacionais até têm apontado para percentagens mais altas. Seja como for, uma coisa é certa: “O bullying continua a ser um problema, e é tão importante trabalhar com as vítimas como com os agressores, como com os assistentes — os alunos que assistem e que podem ter um papel mais activo”, nomeadamente na denúncia do problema nas escolas.

17.3.16

Os adolescentes portugueses têm um problema com a escola. E tem piorado.

ANDREIA SANCHES, in "Público"

Grande estudo da OMS sobre a adolescência. Portugal é dos países onde há menos jovens a dizer que gostam muito da escola. E os seus níveis de satisfação com a vida já conheceram melhores dias. Mas em muitos aspectos são mais saudáveis.

adolescentes portugueses sentem-se mais apoiados pela família. Queixam-se menos de dores de cabeça, de estômago, de dificuldades em dormir. São dos que mais tomam o pequeno-almoço todos os dias, o que, é sabido, é bastante saudável. Têm consumos de álcool ligeiramente abaixo da média observada noutros países. E fumar vai sendo menos frequente. O novo grande estudo internacional sobre a adolescência, da Organização Mundial de Saúde (OMS), faria respirar de alívio milhares de pais em Portugal se ficássemos por aqui. Mas não é o caso. Primeira má notícia: os adolescentes portugueses são dos que gostam menos da escola, em 42 países e regiões analisados. E piorou bastante nos últimos anos.

"Quando em Portugal perguntamos do que é que gostam na escola, as aulas aparecem em último lugar. Pior que as aulas, só mesmo a comida da cantina. E isto tem sido recorrente, somos sempre dos piores no gosto pela escola e na percepção de sucesso escolar. Não há nenhuma razão demográfica ou geográfica que eu conheça que explique tal, e o atraso provocado pelo obscurantismo de antes do 25 Abril (sendo uma incontestável verdade) já devia, por esta altura, estar ultrapassado.” Quem o diz é Margarida Gaspar de Matos, a investigadora que em Portugal coordena este estudo da OMS desde que, em 1998, o país começou a participar.

Chama-se Health Behaviour in School-aged Children, é feito de quatro em quatro anos. Os resultados da edição de 2014/2015 são apresentados nesta terça-feira de manhã, em Bruxelas. Baseiam-se nas respostas de mais de 220 mil adolescentes europeus e do Norte da América.

A recolha foi feita em escolas com 6.º, 8.º e 10.º anos. O objectivo é avaliar hábitos, consumos, comportamentos, com impacto na saúde física e mental, em diferentes fases de crescimento: aos 11, aos 13 e aos 15 anos.

Em Portugal participaram 6000 adolescentes — em Dezembro de 2014 o PÚBLICO divulgou as primeiras conclusões do inquérito nacional, aplicado nesse ano, que mostravam um número crescente de jovens a queixar-se de sintomas que revelavam mal-estar psicológico, tristeza, stress, insatisfação. Agora, com este relatório internacional, esses dados são vistos à luz do que se passa noutros pontos do globo.

A escola vai mal
Gostas muito da escola? Cerca de um quarto dos adolescentes de 15 anos dos 42 países e regiões participantes dizem que sim. A Arménia tem o melhor resultado, a Bélgica francófona o pior, Portugal surge com a 33.ª pior posição: só 11% dos rapazes e 14% das raparigas dizem que gostam bastante da escola.

Os adolescentes portugueses são também dos que maior pressão sentem com a vida escolar e dos que menos se têm em conta como alunos. É assim desde cedo: aos 11 anos, aparecem quase no fim da tabela, com a 38.ª pior auto-avaliação do seu desempenho escolar. Aos 15 é pior. Só 35% das raparigas e 50% dos rapazes consideram que têm bom desempenho escolar, quando a média dos 42 países é 60%.


Os macedónios, os albaneses, os búlgaros, os israelitas e os ingleses são os que mais acham que na escola até se saem bem; os portugueses e os húngaros estão no extremo oposto.

“Isto é um forte alerta aos responsáveis pela educação neste país”, diz Margarida Matos, em resposta ao PÚBLICO. “É preciso avaliar a situação, identificar determinantes, estudar casos de sucesso noutros países, aprender com o que funciona bem. A minha percepção, neste e noutros casos, é que temos uma tendência nacional para nos esmerarmos na legislação, mas esta raras vezes é antecedida de uma avaliação dos pontos fortes e fracos das situações e ainda mais raras vezes é seguida por um estudo das consequências e dos riscos. Do ponto de vista da populações (e neste caso das famílias) parece que os governantes andam a saltar de medida em medida ‘apenas’ para fazer diferente, sem grande racional por trás.”

Nem sempre estivemos tão mal: em 1997/1998, ano de estreia dos portugueses no estudo da OMS, o país era o 2.º no gosto pela escola, em 28 participantes. Melhor do que a Noruega, Israel ou os Estados Unidos, por exemplo. Mais de um terço dos jovens portugueses de 15 anos diziam então que gostavam muito da escola.

Em 2001/02 descíamos para 8.º no ranking. Quatro anos depois já aparecíamos em 22.º. E se em 2009/10 se registou uma ligeira melhoria (o país ficou 21.º), em 2014/15 estamos pior do que nunca, com o tal 33.º lugar.

As raparigas são mais propensas a relatar saúde irregular, múltiplas queixas, menor satisfação com a vida

Relatório da OMS
O problema não são os colegas — que são, na verdade, o que os portugueses mais gostam na escola, seguindo-se os “intervalos” entre aulas. O problema são mesmo as aulas, consideradas aborrecidas, e “a matéria”, que é descrita como excessiva, prossegue a investigadora da Faculdade de Motricidade Humana, da Universidade de Lisboa.

As diferenças de género são evidentes: as raparigas têm quase sempre pior percepção da sua competência escolar. Aos 15 anos gostam menos da escola do que eles. E são também elas que mais se mostram mais stressadas com os trabalhos para casa. De resto, em Portugal, como no resto do mundo, as meninas estão a suscitar preocupações crescentes aos peritos da OMS. “São mais propensas a relatar saúde irregular, múltiplas queixas, menor satisfação com a vida”, lê-se nas conclusões do relatório internacional.

E a vida em geral?

A Experiência que se tem com a escola pode ser crucial no desenvolvimento da auto-estima e de comportamentos saudáveis. Os adolescentes que sentem que a escola os apoia estão mais propensos a ter comportamentos positivos e a serem mais saudáveis”, prosseguem os peritos da OMS, “têm níveis de satisfação com a vida mais elevados, menos queixas relacionadas de saúde e apresentam menor prevalência de consumo de tabaco”. Em suma: as escolas têm um papel essencial no bem-estar.
“A experiência que se tem com a escola pode ser crucial no desenvolvimento da auto-estima e de comportamentos saudáveis. Os adolescentes que sentem que a escola os apoia estão mais propensos a ter comportamentos positivos e a serem mais saudáveis”, prosseguem os peritos da OMS, “têm níveis de satisfação com a vida mais elevados, menos queixas relacionadas de saúde e apresentam menor prevalência de consumo de tabaco”. Em suma: as escolas têm um papel essencial no bem-estar.

Em Portugal, contudo, como já se viu, a escola não parece ser grande fonte de felicidade. E os temas “satisfação com a vida” e “bem-estar” foram mesmo dos mais surpreendentes no inquérito português quando ele foi divulgado no fim de 2014. Quase um em cada três adolescentes disse que se sentia deprimido mais do que uma vez por semana. Eram 13% em 2010. E um em cada cinco alunos do 8.º e 10.º anos magoara-se a si próprio nos 12 meses anteriores ao inquérito, sobretudo cortando-se nos braços, nas pernas, na barriga.

As perguntas relacionadas com auto-lesões não foram incluídas no estudo internacional agora tornado público, uma vez que nem todos os países as colocaram nos inquéritos. Não eram obrigatórias. Mas atente-se, por exemplo, à pergunta sobre “satisfação com a vida”: os adolescentes portugueses estão comparativamente em pior posição, aos 13 e 15 anos, do que os de outros países. Números: em Portugal, 74% das raparigas e 83% dos rapazes de 15 anos deram uma nota de 6 ou mais à sua felicidade (numa escala de 0 a 10); a média do HBSC é de 79% e 87%, respectivamente, o que significa que sobretudo as raparigas portuguesas estão aquém da média. Globalmente, o país aparece neste indicador em 36.º lugar, em 42. Há quatro anos, estávamos melhor, em 28.º.

Os luxemburgueses, os galeses, os ingleses, os polacos e os macedónios são os menos satisfeitos de todos, aos 15 anos de idade. E é na Arménia, na Moldávia, na Albânia, na Holanda e na Suíça que se encontram as maiores percentagens de satisfação com a vida.

“O que aconteceu em Portugal foi que os jovens com elevada satisfação melhoraram, os com muito baixa satisfação continuaram assim, mas os que tinham uma satisfação mediana desceram”, explica Margarida Gaspar de Matos. A recessão económica, diz, “além de ter feito descer a satisfação com a vida, foi fonte de iniquidade, uma vez que não afectou os mais satisfeitos, havendo uma associação da satisfação com a vida com a condição económica — quanto melhor condição económica mais satisfação com a vida”.

Sexo com preservativo

A boa notícia é o facto de quando se fala dos chamados “sintomas múltiplos” — dores de estômago, de cabeça, dificuldades em dormir — o país aparecer muitíssimo melhor do que outros, com percentagens bem abaixo de média de jovens a declarar tais sofrimentos. “Ainda temos um bom Sistema Nacional de Saúde, certo? A precariedade afecta primeiro a satisfação e o bem-estar e só depois a saúde física”, continua a investigadora.
Boa notícia é o facto de quando se fala dos chamados “sintomas múltiplos” — dores de estômago, de cabeça, dificuldades em dormir — o país aparecer muitíssimo melhor do que outros, com percentagens bem abaixo de média de jovens a declarar tais sofrimentos. “Ainda temos um bom Sistema Nacional de Saúde, certo? A precariedade afecta primeiro a satisfação e o bem-estar e só depois a saúde física”, continua a investigadora.

E como se saem os portugueses em matéria de consumos? Há “bons resultados, comparados com as médias HBSC”, prossegue. Comece-se pelo tabaco: 10% das raparigas e 12% dos rapazes de 15 anos fumam pelo menos uma vez por semana, a média dos países do HBSC é 11% e 12%. Quanto ao uso de cannabis passa-se o mesmo (entre 10 e 13% já usaram, a média é 13% e 17%, o país onde há mais gente a consumir é a França, entre 14 e 16%).


No que diz respeito ao uso de preservativo, apesar diminuição registada em Portugal, desde 2010, “estamos, ainda assim, nos sete primeiros lugares”, nota Margarida Matos: 75% das raparigas de 15 anos e 73% dos rapazes da mesma idade que já tiveram relações sexuais disseram que usaram preservativo na última vez. Suíça, Grécia e Ucrânia têm as taxas de utilização mais altas; Polónia, Malta e Suécia as piores.

A propósito, mais um dado: aos 15 anos, 13% das raparigas e 26% dos rapazes portugueses disseram já ter ido relações sexuais, contra uma média internacional de 17% e 24%, respectivamente. De resto, em relação há quatro anos, há menos jovens a iniciar a sua vida sexual antes dos 15 (em Portugal a percentagem era de 18% e 27%; a nível mundial era de 23% e 29%).

No entanto, em termos globais, diminuiu a percentagem de jovens que usam preservativo, de 78 para 65% (média HBSC).

As más notícias regressam quando se chega ao capítulo do peso/obesidade. Em Portugal, há mais adolescentes com excesso de peso ou até mesmo obesos do que a média. No grupo dos miúdos de 15 anos, o país está no 12.º lugar (entre 16% e 21%, respectivamente raparigas ou rapazes, apresentam peso a mais ou obesidade, o que significa um ligeiro aumento em relação há quatro anos).

Pesados e parados
As meninas portuguesas de 13 anos são mesmo das que têm mais excesso de peso nos 42 países analisados: 24% têm peso a mais ou estão já obesas, sendo que uma prevalência igual é observada no Canadá e maior só em Malta.

Portugal tem ainda um ponto a seu desfavor: aos 11, 13 ou 15 anos os adolescentes portugueses são dos que menos exercício físico fazem diariamente — o indicador é “60 minutos por dia de actividade física moderada a vigorosa”, que é o recomendado, como lembra a OMS.

“Temos agora uma regulação cuidada sobre a alimentação nas escolas”, nota Margarida Matos. “Mas por qualquer motivo os alunos continuam a queixar-se que comem mal.” Ou seja, “tanto na área da alimentação na escola como na área da prática da actividade física, o que quer que ande a ser feito não está a dar resultado”. Serão necessárias novas abordagens.

Alguma intervenção centrada na “educação para a diferença, para a tolerância e para a expressão convivial de pontos de vista diferentes” é também sugerida pela investigadora, para atacar a questão do bullying.


Aos 11 anos, por exemplo, entre 11% (raparigas) e 17% (rapazes) disseram que foram alvo de bullying na escola, “duas ou três vezes por mês nos últimos dois meses”. A média é 13%. O país tem, assim, a 16.ª taxa mais alta de alunos de 11 anos que se dizem vítimas de bullying.

O cenário piora quando se avalia a percentagem de adolescentes que foram vítimas “pelo menos uma vez nos últimos dois meses” — ou seja, quando se procura aferir um bullying menos frequente, 34% dos alunos de 15 anos dizem ter sido vítimas. Bem acima da média HBSC de 23%.

A coordenadora do HBSC sublinha que “diminuíram muito as situações de vitimização desde 2002” e que “agora estamos ‘apenas’ um pouco acima da média”. Subsiste, contudo, “algo de chamemos-lhe ‘cultural’” — relações interpessoais algo “belicosas” entre pares, mesmo quando se diz que se gosta dos colegas: é “o empurrão”, é o “não deixar falar”, é o “chamar parvo”, é o “insulto ocasional”.

Margarida Matos remata: “Talvez esteja na hora de incluir, nos programas das escolas, um aspecto convivialidade positiva entre pares, nomeadamente nas questões entre idades, entre géneros e entre culturas.”

19.12.14

Mais adolescentes com sintomas físicos e psicológicos de mal-estar

Andreia Sanches, in Público on-line

Em “tempos de recessão”, foram inquiridos seis mil alunos, com uma idade média de 14 anos. Estudo para a OMS será divulgado nesta sexta-feira.

Menos adolescentes portugueses planeiam ir para o ensino superior. Mais queixam-se de sintomas físicos e psicológicos de mal-estar. Mais, também, relatam comportamentos de bullying e provocação na escola. E mais dizem já ter feito mal a si próprios de propósito. Estes são alguns dos resultados de um estudo que será divulgado nesta sexta-feira com base em seis mil inquéritos a alunos do 6.º, 8.º e 10.º anos.

A Saúde dos Adolescentes Portugueses (2014) é o título do relatório nacional que deverá integrar o grande retrato internacional da adolescência, conhecido por Health Behaviour in School-aged Children, da Organização Mundial de Saúde. O levantamento é realizado de quatro em quatro anos, por uma rede de profissionais ligados à saúde e à educação que analisam os estilos de vida dos adolescentes e os seus comportamentos, em 43 países. Em Portugal, que participa desde 1998, foram inquiridos este ano 6026 alunos, com idades entre os 10 e os 20 anos (média de 14 anos).

Um comunicado desta quinta-feira da autoria da equipa portuguesa — coordenada pela investigadora Margarida Gaspar de Matos e que inclui membros da Faculdade de Motricidade Humana, da Universidade de Lisboa, e do Centro da Malária e Doenças Tropicais, da Nova de Lisboa — antecipa algumas das conclusões, sem contudo adiantar números.

Sublinhando que este estudo “aparece numa altura especialmente relevante, uma vez que permite estimar o impacto da recessão económica na saúde dos adolescentes”, os investigadores dizem que as respostas dos alunos revelam uma “pior saúde física e mental” do que há quatro anos. Em relação à saúde mental especificamente, consideram que este “é um assunto sub-estimado e a carecer de atenção urgente”.

O “aumento de comportamentos auto-lesivos, problemática esta que foi já identificada em 2010 e se agravou em 2014” é apenas um dos sinais, acrescentam.

Entre as boas notícias, estão o decréscimo do consumo de tabaco (em queda desde 2006) e do álcool, “embora se necessite agora de avaliar se os consumidores consomem menos, ou consomem mais mas em menos dias”.

Já no campo da sexualidade, sublinha-se o facto de o número de adolescentes que já teve relações sexuais dentro das idades consideradas no estudo estar a diminuir desde 2006. Em 2014, contudo, “reporta-se uma diminuição do uso de preservativo e um aumento das relações sexuais associadas ao consumo de álcool”.

Foi ainda perguntado aos alunos o que mais gostavam na escola. A resposta foi “os colegas“ e “os intervalos”, aparecendo “as aulas” em penúltimo lugar e, em último lugar, a “comida da cantina”. Sobre as preocupações que a escola suscita, disseram que "a matéria é difícil, demasiada e aborrecida". Os investigadores notam que estudos anteriores têm identificado "uma fragilidade na relação dos adolescentes portugueses com a escola" maior do que a observada noutros países.

4.11.14

Mais de 70% dos jovens portugueses com sinais de dependência da Internet

Samuel Silva, in Público on-line

Estudo do ISPA mostra também que 13% dos casos são graves, podendo implicar isolamento e comportamentos violentos.

Este é o retrato de uma geração que vive quase permanentemente ligada. Através dos computadores ou dos dispositivos móveis, os jovens e adolescentes nacionais passam muito do seu tempo na Internet. Um tempo excessivo em muitos casos. Um estudo do ISPA mostra que quase três quartos da população até aos 25 anos apresenta sinais de dependência do mundo digital. Em casos mais extremos, o vício do online pode implicar isolamento, comportamentos violentos e obrigar a tratamento.

“Percebemos que a dependência da Internet é generalizada”, sintetiza a investigadora da Unidade de Intervenção em Psicologia do ISPA – Instituto Universitário, Ivone Patrão, coordenadora deste estudo. Nos últimos dois anos, este trabalho passou por três fases de aplicação de questionários junto de jovens e adolescentes dos 14 aos 25 anos, envolvendo quase 900 inquiridos. Esta é, portanto, uma imagem com grande-angular do que está a acontecer em muitas casas.

Os exemplos recolhidos pelo PÚBLICO corroboram os resultados da investigação. Quase todos os casos partilham também o pedido para que seja mantida a reserva da identidade dos jovens envolvidos. As histórias repetem-se, porém, e soam familiares aos pais. Alguns adolescentes deixam para trás um percurso académico de bom nível para se fecharem no quarto a jogar computador dia e noite. Há amizades de infância que são postas de lado em detrimento do contacto online. O isolamento em relação à família, as mudanças de comportamento, os casos de violência inexplicável face ao insucesso num jogo digital ou à proibição de continuar ligado, são outros comportamentos comuns.

Os investigadores do ISPA também elencam alguns componentes-chave para identificar os casos de dependência da Internet numa espécie de retrato-tipo do jovem viciado no mundo online: grau elevado de importância conferido ao computador ou aos dispositivos móveis; sintomas de tolerância face ao uso; sintomas de abstinência face ao não uso (como irritabilidade, dores cabeça, agitação e por vezes agressividade) e, em casos mais extremos, recaída face às tentativas sucessivas para parar.

Os números a que chegou a equipa de Ivone Patrão no ISPA dão uma outra camada de leitura desta realidade. Há quase três quartos (73.3%) dos jovens que apresentam sintomas de viciação na Internet. Destes, 13% apresentam níveis severos de dependência, que se manifestam através dos comportamentos mais extremos descritos pelos pais e elencados pelos investigadores. Os próprios jovens parecem ter noção disto, uma vez que mais de metade (52,1%) dos inquiridos se percepciona como “dependentes da Internet”.

Maioria frequenta o secundário

Os investigadores do ISPA chegaram também a outro retrato-tipo: os jovens dependentes são sobretudo do sexo masculino, não têm relacionamento amoroso e frequentam o ensino secundário. Este foi um dos primeiros resultados a que a equipa da Unidade de Intervenção em Psicologia chegou, em 2012, quando aplicou um primeiro questionário – desenvolvido pela Nottingham Trent University, que é parceira deste trabalho – de modo a validá-lo para a realidade portuguesa. As conclusões iniciais motivaram a continuação da investigação nas duas fases seguintes, que agora são divulgadas publicamente.

Outros estudos recentes confirmam os sinais de uma geração cada vez mais dependente da tecnologia, levando mesmo a situações-limite em que “é posto em causa o bem-estar físico” dos jovens e adolescentes, conta a investigadora da Faculdade de Ciência Sociais da Universidade Nova de Lisboa, Cristina Ponte, que liderou os projectos EU Kids Online e, mais recentemente, Net Children Go Mobile.

Neste último trabalho, cujos resultados nacionais serão discutidos numa conferência no final do mês, 6% dos jovens admitem ter ficado “sem comer ou sem dormir por causa da Internet”, por exemplo. “Há uma pressão para estarem sempre ligados”, avalia esta especialista. Na sua investigação recolheu exemplos que atestam esta situação, como a de um menino de 12 anos que contava, por entre risos, que no smatphone e no tablet nunca se fica offline, por causa dos sinais sonoros com os alertas para as actualizações no email ou nas redes sociais. O rapaz dava também conta da forma como os amigos ficavam zangados se ele não respondesse rapidamente a alguma mensagem, por exemplo, mesmo no horário em que devia estar a dormir.

“Os jovens estão a usar demasiado as tecnologias. Quase minuto a minuto”, confirma Rosário Carmona, psicóloga, que tem tratado casos de dependência da Internet no Centro de Apoio ao Desenvolvimento Infantil (Cadin), em Cascais. “Quando lhes pergunto se já foram ao email hoje, eles riem-se. Não foram ao email, porque não saíram do email”, ilustra.

Rosário Carmona tem lidado com os casos mais patológicos de dependência do mundo online, aqueles em que “a utilização da Internet se sobrepõe a outras dimensões da vida” e que estão sobretudo associados aos jogos multiplayer. “É um ciclo vicioso”, expõe. O jovem tem dificuldades em fazer amigos e por isso joga muito tempo. Torna-se cada vez melhor no jogo e prefere ficar em casa a jogar, em vez de sair para estar com amigos, a família ou mesmo ir à escola. “Todos procuramos aquelas situações em que somos mais competentes”, explica a psicóloga.

Dependência associada a depressão

Uma das principais conclusões a que chegou a equipa do ISPA no seu estudo sobre os usos da Internet foi a de que os jovens que apresentam sinais de dependência do mundo online têm também sintomas de isolamento e, por vezes, de depressão. Entre os inquiridos do estudo do ISPA que revelam sinais de dependência, quase um quarto (22,1%) apresenta elevados níveis de isolamento social. “Esta dependência está associada ao isolamento social, mas não está associada ao isolamento emocional”, adverte, porém, Ivone Patrão, coordenadora deste trabalho.

Estes são jovens isolados, mas que encontram nas conversas e nos encontros online “um escape”. Esta é, portanto, uma dependência que “traz uma mais-valia”, ainda que do ponto de vista psicológico não seja saudável, expõe a mesma especialista. “O desafio da adolescência é sair do núcleo familiar e passar o foco para o mundo social. Na Internet, tudo isto é mais fácil”, acrescenta Rosário Carmona, da Cadin. Os jovens têm a sensação de satisfazer online as suas necessidades de contacto social. A psicóloga encontra também entre os dependentes do mundo virtual com quem costuma lidar sintomas de isolamento ou depressão.

“Na prática clínica, estamos a perceber que a dependência não é causa, mas consequência”, diz. Quando um adolescente fica deprimido, por força de algum episódio escolar ou familiar, por exemplo, está a conseguir encontrar nas novas tecnologias um refúgio.

Por isso, a especialista não é apologista da solução mais comumente encontrada pelos pais para responder ao uso excessivo do computador pelos filhos e que é fruto de tensões familiares: retirar o computador ou limitar fortemente o acesso a ele. “O uso excessivo da Internet está a suprir uma outra necessidade do jovem. Se lhe tiramos o computador, ele fica no vazio. É preciso fazê-lo ganhar o gosto por actividades alternativas, antes de diminuir o tempo online”, defende a psicóloga que, recentemente, fez um estágio num centro especializado no tratamento de casos de dependência em Seul. Na Coreia do Sul, o problema tomou tal dimensão que o Ministério da Educação já promove a identificação precoce de crianças e jovens em risco e a realização de programas de prevenção.

Intervenção de prevenção

Por cá ainda não há nenhuma iniciativa do género. Esta é “uma área emergente”, classifica Ivone Patrão do ISPA, em que “importa intervir do ponto de vista preventivo”. “Temos cada fez mais pessoas com acesso a computador e na experiência clínica percebo que cada vez mais os adolescentes estão entregues a si próprios no uso do computador. Há uma necessidade de educar os jovens para a forma como podem fazer um uso saudável destes dispositivos”, propõe a investigadora.

A dependência da Internet é considerada uma dependência comportamental, sem substância. “As consultas que existem destinam-se a dependências de substâncias, como o álcool e as drogas”, explica Ivone Patrão, alertando para as limitações destas terapêuticas. O passo seguinte da investigação do ISPA passará, por isso, pelo desenvolvimento de formas de intervenção e terapêuticas para contrariar o vício do online nos jovens em Portugal. Noutros países, estão a ser dados passos na farmacologia, no sentido de desenvolver novas drogas que actuem sobre estes casos específicos.

Esta discussão foi alimentada pela nova edição do Manual de Diagnóstico das Doenças Mentais (DSM-V), lançada pela Associação Americana de Psiquiatria no ano passado, que inclui um anexo em que é recomendado o estudo e a compreensão dos critérios de diagnósticos das dependências comportamentais como as dos jogos e da Internet. Em Portugal, o Plano Nacional dos Comportamentos Aditivos e das Dependências 2013-2020, aprovado na semana passada pelo Conselho de Ministros, prevê o alargamento da área de intervenção do SICAD às dependências sem substância como o jogo ou a Internet.

30.9.14

Cerca de 7% dos adolescentes têm comportamentos autolesivos

in iOnline

Dados internacionais revelam que cerca de 10% dos adolescentes já terão tido pelo menos um episódio de autolesão ao longo da sua vida.

Cerca de 7 por cento dos adolescentes, a maioria raparigas, já se auto lesaram, comportamentos "secretos" não detetados pelos serviços de saúde ou escolares, revela um estudo que envolveu estudantes de 14 escolas públicas da área da Grande Lisboa.

Somando os jovens com comportamentos autolesivos com aqueles que apresentam pensamentos de autolesão, o estudo concluiu que para 13,5% dos adolescentes da amostra estes comportamentos “são ou poderão ser um potencial risco de saúde”.

O estudo "Comportamentos autolesivos em adolescentes Características epidemiológicas e análise de fatores psicopatológicos, temperamento afetivo e estratégias de coping" decorreu entre 2010 e 2013 e envolveu 1.713 adolescentes, com idades entre os 12 e os 20 anos, a maioria (56%) do sexo feminino.

A investigação visou identificar a prevalência deste problema e caracterizar de “forma pormenorizada” estes comportamentos e os jovens que os realizam.

O estudo revela que 7,3% dos adolescentes já tinham apresentado, pelo menos, um episódio de autolesão, sendo que destes, 46% já tinham realizado este comportamento mais vezes.

Cerca de 6% da amostra relatou pensamentos de autolesão (sem o comportamento associado), sendo estes também mais frequentes nas raparigas.

A probabilidade de comportamentos autolesivos é “significativamente maior nas raparigas, naqueles que vivem noutro sistema familiar que não o nuclear e naqueles com maior insucesso escolar”.

Em declarações à Lusa, o psiquiatra Daniel Sampaio, orientador do estudo, considerou estes números preocupantes, advertindo que “é preciso estar atento” a esta situação.

Estes comportamentos dos jovens se cortarem, queimarem, ingerirem uma substância numa dose excessiva “significam sofrimento na adolescência”, disse o psiquiatra.

“São um sinal de alarme para uma adolescência que não está a correr bem”, adiantou Daniel Sampaio.

A grande maioria dos jovens negou ter falado com alguém ou ter pedido ajuda, permanecendo estes comportamentos "secretos" e não detetados pelos serviços de saúde ou escolares, refere o estudo.

Só 19% dos jovens admitiu ter feito algum pedido de ajuda e apenas 13% recorreu ao hospital após a autolesão, tal acontecendo sobretudo em casos de sobredosagens.

Questionados sobre se durante qualquer episódio de autolesão pensaram “decididamente em morrer”, 42% afirmaram que sim.

Os jovens que relatavam autolesão apresentavam maior sintomatologia depressiva e ansiosa, assim como maiores taxas de consumo de álcool, de embriaguez, de consumo de tabaco e de utilização de drogas ilegais e maior número de acontecimentos de vida negativos.

Daniel Sampaio sublinhou que os pais, a escola e sociedade devem estar atento a este problema, mas realçou o papel importante dos colegas na deteção destes casos.

“Normalmente é mais fácil que eles confidenciem os problemas a um colega ou a um amigo do que aos pais ou ao professor”, justificou, defendendo a realização de um trabalho nas escolas para alertar para o problema.

“Já se fala alguma coisa [no problema], já temos estudos sobre isso, já temos professores mais habilitados a falar no assunto, já temos alguns psicólogos nas escolas atentos mas é preciso fazer muito mais”, defendeu.

Dados internacionais revelam que cerca de 10% dos adolescentes já terão tido pelo menos um episódio de autolesão ao longo da sua vida.

*Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico aplicado pela Agência Lusa

9.4.14

Cada vez mais adolescentes em fuga devido à crise

Dina Margato, in Jornal de Notícias

Escapuliram-se de casa mais adolescentes em 2013. Do total de 60 casos chegados à Linha SOS Criança Desaparecida, 34 dizem respeito a fugas. Também no ano passado, a GNR registou 277 desaparecimentos.

A pedopsiquiatra Ana Vasconcelos vê neste crescendo um reflexo das dificuldades económicas, agitadoras dos conflitos familiares. "Quando a casa não tem um ambiente contentor de que os adolescentes precisam, quando os pais não conseguem oferecer-lhes isso, já que eles próprios estão desamparados, o adolescente fica sem bússola". O argumento é desdobrado: "Muitas vezes, o jovem transforma-se no consolo dos pais e invertem-se os papéis, ficando aquele sobrecarregado".

7.4.12

Adolescentes: 18% dos jovens em acolhimento revelam problemas de comportamento

Por Agência Lusa, in iOnline

Dezoito por cento das crianças e jovens, que em 2011 se encontravam em instituições de acolhimento do Estado, tinham problemas de comportamento, especialmente os da faixa etária dos 15-17 anos, segundo um relatório do Instituto de Segurança Social.

Das 8938 crianças e jovens acolhidas, 1622 revelavam problemas de comportamento, mas a maioria de grau ligeiro que passa mais por atitudes de oposição às regras do que por quebra de normas sociais.

Contudo, relativamente a 2010, o documento aponta para um aumento deste tipo de problemas em 2011 (1293 – 14,1 por cento em 2010), sobretudo na faixa etária dos 15-17 anos, tendo sido identificados 795 casos.

Segundo o Relatório de Caracterização Anual da Situação de Acolhimento das Crianças e Jovens relativo ao ano de 2011, problemas de comportamento pressupõem a existência de um padrão persistente de comportamentos em que são violados os direitos básicos de terceiros ou importantes normas sociais próprias da idade do sujeito.

Este ano o documento do Instituto de Segurança Social (ISS) introduziu uma discriminação maior relativamente a este ponto, consoante o grau de gravidade dos comportamentos (ligeiros, médios, graves).

O relatório atesta que, dos 468 jovens entre os 12 e os 17 anos com problemas médios ou graves, apenas 127 (27 por cento) beneficiam de um acompanhamento pedopsiquiátrico ou psiquiátrico regular.

Em 12,5 por cento dos jovens com problemas de comportamento, existe um outro problema de saúde mental associado, em 13 por cento dos jovens está presente ou uma debilidade ou deficiência mental e, em oito por cento, a toxicodependência.

Em termos de escolaridade, o documento salienta uma tendência para o insucesso escolar a partir dos 11 anos, idade que representa a transição do 1.º ciclo para o 2.º ciclo.

Estes jovens já evidenciam dificuldades de aprendizagem mais cedo, pelo que o ISS deduz que “há um desajustamento entre o insucesso escolar e a oferta de alternativas de aprendizagem adaptadas a esta população alvo que fomente a motivação para aprender e estudar”.

O insucesso e o risco de abandono escolar tornam-se ainda mais notórios em 48,7 por cento dos jovens com 13 anos.

O ISS nota ainda que, devido às circunstâncias adversas do seu processo de desenvolvimento assim como aos traumas sofridos, as crianças e jovens em acolhimento evidenciam dificuldades acrescidas na progressão curricular e na adaptação à comunidade escolar, quando inseridas no ensino regular.

No relatório, o instituto alerta ainda para os tempos de permanência em acolhimento, destacando a importância da realização dos Planos de Intervenção Individuais, uma vez que 22,9 por cento das crianças e jovens estavam, em 2011, acolhidos há quatro ou mais anos e 75 por cento dos jovens com mais de 15 anos estiveram em acolhimento quatro ou mais anos.

A situação dos jovens que já atingiram os 21 anos e que permanecem no sistema de acolhimento (24) também deve ser motivo de atenção, segundo o ISS.