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1.8.23

“Assustar-me-ia a proibição do uso de tecnologia ou telemóveis em todas as escolas”

Miguel Dantas, in Público online

Psicóloga Tânia Gaspar defende benefícios da tecnologia na sala de aula, mas alerta para a necessidade de criar actividades atractivas nos recreios para afastar crianças dos telemóveis.

Permitir ou proibir telemóveis nas escolas? A partir de que idade? É possível arranjar um meio-termo? O debate arrasta-se há anos e não deverá abrandar no próximo ano lectivo, com queixas e petições para a limitação do uso de tecnologia nas salas de aulas e recreios. Na semana em que a UNESCO veio alertar para os perigos, o PÚBLICO falou com a psicóloga e professora Tânia Gaspar, coordenadora no estudo internacional Health Behavior School Aged Children, promovido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), sobre o tema.

A UNESCO defende, num relatório divulgado na quarta-feira, que o uso de telemóveis devia ser proibido nas escolas se trouxer maior desordem do que incentivos à aprendizagem. Concorda com esta visão?

Tenho muito respeito pela reflexão e julgamento das outras pessoas – especialmente de entidades como a UNESCO. Pela experiência que tenho com escolas e estudos nacionais e internacionais, considero que essa medida existe porque não foi feita prevenção. De alguma maneira não gostaria de concordar com isso, porque as tecnologias fazem parte da nossa vida, do nosso futuro. Não consigo conceber uma formação que não tenha as tecnologias, é a mesma coisa do que decidir tirar a Matemática das escolas.

O relatório foca-se principalmente na utilização dos telemóveis dentro da sala de aula.
É algo que tem sido recomendado e promovido pelos próprios professores e Ministério da Educação, no sentido de os alunos utilizarem isso como um recurso à aprendizagem. Uma vez que gostam tanto do telefone e têm tantas competências de pesquisa, poderem usar esse dispositivo com o fim de aprendizagem dos conteúdos programáticos parece-me adequado. A não ser que não tenham telefone e se criem desigualdades sociais. Mas o que me parece é que [proibir] é uma medida de desespero e dizer: ‘Não consigo gerir os telemóveis na sala de aula, vamos proibir.’ Nesse caso, a ideia passaria por pensar como se pode fazer essa utilização saudável.

O recreio deve ser uma zona livre de telemóveis?
Durante as aulas, as crianças estão concentradas e focadas na matéria. Ao saírem para intervalo, precisam de tempo para descontrair. Se não tiverem esse momento, existirá uma quebra de rendimento no regresso à sala de aula. [A utilização do telemóvel nos recreios] Pode afectar também as relações interpessoais – na substituição do contacto pessoa a pessoa com os outros colegas. Há ainda jovens que têm maior dificuldade nas relações interpessoais que acabam por não desenvolver essas competências. No recreio há um maior risco do que em contexto de sala de aula: como não há uma supervisão, existe uma maior tendência de os alunos passarem os intervalos ao telemóvel. Há uma estratégia que algumas escolas têm adoptado: os jovens colocam os telemóveis numa caixa e o telemóvel não é utilizado nos momentos que não são oportunos.

Acha que há uma idade indicada para uma criança começar a ter telemóvel?
Isso depende da criança e das circunstâncias: a criança mora ao lado da escola ou mais longe? Numa primeira fase, os pais dão o telemóvel por uma questão de segurança. Ali por alturas do 5.º, 6.º ou 7.º ano há uma maior dificuldade em regular [o uso de telemóvel]. O que podemos fazer? É importante fomentar actividades alternativas. Muitas escolas têm poucas condições ou recursos para se desenvolverem actividades nos recreios. Podia existir algum trabalho nas escolas e de formação aos auxiliares para que exista uma gestão de recreio mais estratégica e planeada, para os miúdos não sentirem que não têm nada para fazer e que a melhor alternativa é ligarem-se aos telefones.

Cada escola é livre de decidir ou não o uso dos telemóveis. Acredita que o Ministério da Educação devia definir uma política comum para o ensino público neste tema?
Isto não é uma coisa consensual. Normalmente as medidas mais gerais são as que têm um consenso mais vincado. O que a ciência nos diz é que não são as tecnologias ou os telemóveis que são o problema. Custa-me, enquanto cientista e pessoa que trabalha com os jovens, a ideia de retirar as tecnologias da escola. No resto da vida deles existe e na escola não? Como é que as escolas os preparam para a vida se não integram estes elementos? O que considero é que há falta de prevenção e criação de condições para que os telemóveis sejam usados de forma saudável. Esta medida de dar a decisão a cada escola é permitir que as escolas que conseguem encontrar esse compromisso e equilíbrio entre utilização de tecnologias e dinâmicas das escolas os possam usar, permitindo também que os que não têm essas ferramentas tenham uma decisão mais “autoritária” de retirar os telefones. Assustar-me-ia a proibição do uso de tecnologia ou telemóveis em todas as escolas.

8.9.22

Mais de 90% dos alunos já têm vales para levantar manuais escolares

Samuel Silva, in Público online


Foram emitidos mais de 5,5 milhões de “vouchers”. Há dezenas de queixas relacionadas com a utilização da plataforma MEGA, mas pais e directores dizem que os problemas são menores do que em anos anteriores.

Mais de 90% dos estudantes do ensino público já resgataram o vale que lhes permite levantar os livros com que vão regressar às aulas dentro de cerca de uma semana. A plataforma online Mega – Manuais Escolares Gratuitos, do Ministério da Educação, onde as famílias podem gerar o documento que dá acesso ao manual, continua a causar problemas, mas em menor escala do que em anos anteriores, garantem pais e directores.

Até ao momento, foram emitidos mais de 5,5 milhões de vales – cada aluno gera um por disciplina –, entre manuais novos e reutilizados, informa ainda o Ministério da Educação, em resposta escrita enviada ao PÚBLICO. Entre os dias 13 e 16 de Setembro quase um milhão de alunos voltam às escolas. Cerca de 900 mil já têm os vales que lhes permitem levantar os respectivos manuais de forma gratuita, na sua escola ou em livrarias, segundo a tutela.


Desde 2019 que os livros escolares são gratuitos em todos os níveis de ensino da escolaridade obrigatória nas escolas públicas. A medida, introduzida em 2016, foi progressivamente alargada. Os vales para o levantamento dos manuais escolares começaram a ser disponibilizados a 2 de Agosto para os alunos do 1.º ciclo do ensino básico e dos 8.º e 11.º anos de escolaridade. Uma semana depois, a plataforma começou a gerar os vales para os restantes níveis de ensino.


Desde esse momento, o Portal da Queixa registou 79 queixas relacionadas com a plataforma Mega, nove das quais surgiram já durante este mês de Setembro. A maior parte dos problemas apontados prendem-se com atrasos na disponibilização dos vales, que foram sendo ultrapassados ao longo das últimas semanas.

Neste portal, os pais queixam-se ainda de erros no funcionamento da plataforma Mega, da atribuição de vales errados – indicando, por exemplo, um manual que não é o adoptado na respectiva escola – e, em algumas situações, do estado de conservação dos manuais que são reutilizados.

No ano passado, cerca de 60% dos manuais escolares foram reutilizados, uma medida estimulada pelo Ministério da Educação com um prémio monetário entregue às escolas com melhores prestações, depois de o Tribunal de Contas ter lançado um alerta para o risco de o programa de entrega dos livros gratuitos deixar de ser financeiramente sustentável. No último ano lectivo, a tutela investiu cerca de 66 milhões de euros com a aquisição de manuais novos.

À Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap) chegaram “menos queixas” do que em anos anteriores relativas à utilização da plataforma Mega, afirma a presidente, Mariana Carvalho. “Só pode ser sinal de que as coisas estão a melhorar”, valoriza.

No entanto, a Confap recebeu, sobretudo nas últimas semanas, algumas dezenas de queixas da parte dos encarregados de educação. A maior parte destas prendem-se com a forma como muitas famílias usam a Mega. “A plataforma só é usada uma vez por ano”, explica Mariana Carvalho, pelo que há pessoas que perdem as palavras-passe ou que, entretanto, deixaram de usar o endereço de correio electrónico associado. Nesses casos, apesar de o Mega ter um sistema de recuperação de acesso, como existe noutras plataformas do Estado ou do sector privado, há situações em que os pais são obrigados a deslocarem-se pessoalmente às escolas para gerar novos códigos.

Outro problema comum reportado pelos encarregados de educação à Confap prende-se com a necessidade de se deslocarem às escolas para levantar os vales por erro da escola, em situações em que são dados como perdidos manuais que estão em condições de ser reutilizados. “As crianças não ficam sem livros, mas causa transtorno às famílias”, explica Mariana Carvalho.

Apesar dos problemas comunicados à Confap ou ao Portal da Queixa, o Ministério da Educação assegura que o “reporte” que tem tido da utilização da plataforma Mega “é bastante satisfatório e ilustrativo da eficaz resposta do sistema”. “A entrega de vales consiste numa operação em grande escala que envolve cerca de um milhão de alunos, sendo que cada aluno tem diversas disciplinas e respectivos manuais”, contextualiza ainda a tutela na resposta enviada ao PÚBLICO.

O presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (Andaep), Filinto Lima, fala igualmente de um arranque de ano lectivo “pacífico” no que à distribuição de manuais escolares diz respeito. Nos primeiros anos de utilização da Mega, a Andaep deu conta de vários problemas na utilização da plataforma. Em 2018, por exemplo, numa altura em que eram distribuídos apenas os manuais do 1.º ao 6.º ano do ensino básico, várias escolas não conseguiram validar os dados necessários para a disponibilização dos vales, devido a incompatibilidade dos programas informáticos. “Pelo feedback que temos tido das várias escolas, não tem havido problemas a esse nível”, sublinha o dirigente.

Actualização às 15h00: corrige a informação sobre o sistema de recuperação de acesso da plataforma Mega, que existe, tal como existe noutras plataformas do Estado ou do sector privado, ao contrário da informação inicial.

2.3.21

Escolas já alimentam 40% dos alunos que serviam antes do confinamento

in Expresso

As escolas serviram, na semana passada, 45 mil refeições por dia, o que representa o dobro das refeições servidas durante a primeira semana de confinamento. Também o número de alunos em regime presencial tem aumentado

Na semana passada, as escolas públicas serviram refeições a 40% dos alunos que eram atendidos antes do confinamento. Segundo o "Público", foram servidas, em média, 45 mil refeições por dia, um número que tem aumentado desde que foram encerradas as escolas.

Os dados do Ministério da Educação indicam que o número de refeições duplicou face à primeira semana de aulas à distância, em que foram servidas, em média, 21 mil refeições diariamente. Já antes da suspensão das aulas, durante as três primeiras semanas de janeiro em que as escolas funcionaram normalmente, as cantinas serviram uma média de 115 mil refeições por dia.

O número de refeições servidas ao longo dos últimos dias ganha ainda mais peso quando o comparamos com abril do ano passado, altura em que as escolas estavam também fechadas e em que foram servidas 10 mil refeições por dia. No ano passado, apenas os alunos mais carenciados, do escalão A da Ação Social Escolar, tinham acesso às refeições escolares.

Além das refeições, também o número de alunos em regime presencial tem vindo a aumentar. Na semana passada, segundo os dados da tutela, foram à escola 18 mil crianças e jovens e, na primeira semana de ensino à distância, estavam nos estabelecimentos de ensino 12.500 alunos. Além dos filhos dos profissionais do serviços essenciais, estão a ser encaminhados estudantes com problemas de acesso à internet, por exemplo.

Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, explicou que as escolas recebem também alunos que "não têm o ambiente familiar adequado e aqueles que não estão a responder às tarefas que os professores lhes enviam".