Mostrar mensagens com a etiqueta Política monetária. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Política monetária. Mostrar todas as mensagens

6.7.23

Teixeira dos Santos: críticas de Marcelo, Costa e partidos a Lagarde “foram despropositadas”


Teixeira dos Santos, antigo ministro das Finanças, sublinha que política monetária do BCE tem tido efeitos positivos e que o momento não é o de questionar o “saber” da instituição liderada por Lagarde

Fernando Teixeira dos Santos foi ministro das Finanças de José Sócrates, ex-presidente da Comissão de Mercados e Valores Mobiliários e avisa que, neste momento, "um país com a dívida de Portugal não se pode iludir com a chamada folga orçamental". Em entrevista ao programa Hora da Verdade do PÚBLICO-Renascença, defende, porém, que o próximo Orçamento do Estado deve dar prioridade ao alívio do IRS. Pode ouvir esta entrevista na íntegra no site do PÚBLICO ou na Renascença esta quinta-feira pelas 23h. 



[entrevista disponível apenas para assinantes, aqui]

4.5.23

BCE prepara a sétima subida de juros, mas pode abrandar ritmo

Sérgio Aníbal, in Público



Inflação, crescimento, emprego e taxas de câmbio dão sinais diferentes para o debate dentro do BCE sobre o que fazer às taxas de juro. Uma nova subida, contudo, é vista como certa esta quinta-feira.


Numa conjuntura em que vários factores apontam para diferentes caminhos para a inflação, os responsáveis do Banco Central Europeu (BCE) podem esta quinta-feira anunciar a sua sétima subida consecutiva das taxas de juro desde Julho. Ainda assim, desta vez, há a possibilidade de a autoridade monetária abrandar o ritmo a que está apertar a sua política monetária, dando sinais mais claros de que uma declaração de tréguas na guerra contra a escalada de preços pode estar já mais próxima.

As discussões dentro do conselho do BCE na manhã desta quinta-feira, contudo, prometem ser acesas. Os seis membros do conselho executivo, incluindo a presidente, Christine Lagarde, e os 20 governadores dos países da zona euro, incluindo o português Mário Centeno, têm dado mostras, nos últimos meses, de estar divididos em relação ao que deve ser a política monetária seguida na zona euro.

De um lado, um grupo do qual faz parte o governador do Banco de Portugal tem defendido que depois de ter subido, desde Julho do ano passado, a sua taxa de depósito de -0,5% para 3%, o BCE deveria esperar que esse abrandamento no custo de financiamento produzisse efeito, em vez de, com novas subidas de taxas precipitadas, empurrar a economia da zona euro para uma recessão profunda.

Do outro lado, um diferente grupo de governadores, até aqui a maioria, considera que o nível alto a que ainda está a inflação e principalmente a persistência da inflação subjacente (aquela que não inclui os preços dos produtos alimentares e energéticos) exigem que se continue a agir de forma agressiva, pondo o mais rapidamente possível as taxas de juro a um nível ainda mais alto.

Como que procurando agendar um maior entendimento para o futuro, as duas partes concordaram na última reunião realizada em Março, quando foi decidida pela maioria uma nova subida de 0,5 pontos percentuais das taxas de juro, que o BCE deve decidir reunião a reunião, de acordo com os dados económicos que forem sendo conhecidos.

O problema é que aquilo que os dados económicos mostraram nas semanas desde a última reunião aponta em tantos sentidos distintos que não deverá ser suficiente para permitir uma convergência de opiniões de todos os responsáveis do BCE.

Desde a última reunião ficou a saber-se que, em Março, a inflação na zona euro caiu pelo sexto mês consecutivo para 6,9%, mostrando estar no bom caminho. No entanto, depois, com os dados da inflação de Abril publicados esta semana, a notícia foi que se interrompeu esta tendência, com uma nova subida da variação de preços para 7%.

Por outro lado, a inflação subjacente teve o percurso inverso, com mais uma subida em Março e um sinal de abrandamento em Abril, o primeiro nos últimos dez meses.

A dar força àqueles que defendem que o BCE não deve abrandar no seu combate à inflação, surgiram também nas últimas semanas os dados do PIB e do desemprego, com a economia da zona euro a conseguir escapar a um cenário de recessão técnica e a taxa de desemprego a registar uma nova descida outra vez em Março. A expectativa de que o mercado de trabalho continuará sob pressão faz acreditar que se irão passar a registar aumentos salariais mais elevados, algo que começa a ser evidente nas últimas negociações laborais concluídas na Alemanha.

Em contrapartida, os inquéritos realizados pelo Eurosistema aos bancos da zona euro mostram que estes estão já, de forma clara, a endurecer os critérios de concessão de crédito, uma tendência que pode significar uma transmissão mais rápida à economia da política monetária restritiva do BCE.

E, além disso, também a dar argumentos aos que acham que o BCE deveria fazer já uma pausa, continuou-se a assistir, nas últimas semanas, a uma apreciação do euro face ao dólar e a outras divisas, algo que faz com que os bens importados, como, por exemplo, os energéticos e os alimentares, possam ficar mais baratos.

Pesados todos estes factores, a discussão promete ser animada e um consenso muito difícil. Entre os analistas, a dúvida está em saber se o BCE mantém o ritmo de subida de taxas, elevando já a sua taxa de depósito dos actuais 3% para 3,5%, ou se abranda, e se decide por uma subida de 0,25 pontos. A maioria das apostas vai para este segundo cenário, que seria uma espécie de compromisso entre as duas facções existentes dentro do BCE, havendo mesmo a expectativa de que o discurso da presidente, Christine Lagarde, comece a dar uma ideia mais concreta de até onde é que o BCE poderá ir com as suas taxas de juro.

Para os portugueses, mais do que para a maioria dos outros habitantes da zona euro, a decisão do BCE terá um impacto imediato nas suas finanças pessoais. O ritmo da subida dos juros e o ponto máximo a que deverão chegar reflectem-se de forma muito rápida nas taxas Euribor, que servem de referência para a grande maioria dos empréstimos contraídos pelas famílias e as empresas em Portugal.

De igual modo, para o Estado, os custos a que se financia, seja através de emissões de dívida nos mercados, seja através da subscrição de certificados de aforro, também são influenciados pelo nível a que o BCE põe as suas taxas.

6.9.22

Queda do euro pressiona BCE a subir ainda mais os juros

Sérgio Aníbal, in Público on-line

Os receios de uma travagem da economia europeia no Inverno, acentuados com o corte do fornecimento russo de gás, voltam a penalizar o euro nos mercados internacionais. BCE poderá acelerar subida dos juros

A três dias do início da reunião onde os responsáveis máximos do Banco Central Europeu (BCE) vão decidir que rumo dar à sua política monetária, o euro voltou a dar motivos para que as taxas de juro sejam elevadas de forma brusca numa tentativa de contrariar a inflação.

Esta segunda-feira de manhã, a moeda única europeia acentuou a tendência de forte depreciação face à divisa norte-americana que já regista há vários meses e chegou mesmo a dado momento a valer menos de 0,99 dólares, algo que já não acontecia desde 2002.

O euro tem vindo, nos últimos meses, a registar uma depreciação acentuada face ao dólar, baixando barreiras que já não eram atingidas há cerca de duas décadas.

Em meados do passado mês de Julho atingiu, pela primeira vez em quase 20 anos, a paridade face à divisa norte-americana, muito longe dos 1,6 dólares que chegou a valer em 2008 e mesmo dos 1,2 dólares que eram o seu valor há pouco mais de 12 meses.

Esta persistente e significativa quebra do euro face ao dólar representa uma pressão acrescida para que o BCE aja rapidamente e de forma ainda mais determinada para controlar a inflação.

De facto, um euro a valer menos face ao dólar significa que as importações europeias (por exemplo de bens transaccionados nos mercados internacionais em dólares como o petróleo e os cereais) ficam automaticamente mais caras. Isto representa uma inflação importada que contribui para a escalada dos preços a que se assiste na economia da zona euro, com a inflação a situar-se acima dos 9% em Agosto.

É por isso que restam poucas dúvidas que, depois de ter realizado a primeira subida das suas taxas de juro de referência desde 2011 em Julho, elevando-as em 0,5 pontos percentuais, a autoridade monetária europeia venha a realizar, na reunião do conselho de governadores agendada para a próxima quinta-feira, um movimento semelhante ou talvez até mais agressivo.

Inicialmente a expectativa, criada com as mensagens transmitidas pela presidente do BCE, Christine Lagarde, no início de Agosto, era a de que viesse a ser decidida uma nova subida de 0,5 pontos nas taxas de juro na reunião de Setembro.

Mas, agora, com o contributo decisivo da forte depreciação do euro face ao dólar, a maior parte dos investidores já está a assumir que a subida de taxas juro a realizar pelo BCE na quinta-feira pode ser de 0,75 pontos percentuais, o ritmo que tem vindo ser assumido pela Reserva Federal na sua própria viragem de rumo na política monetária.

Por seu lado, por trás da depreciação do euro nos mercados, estão as expectativas sombrias que se acumulam relativamente à evolução da economia europeia e que levam os investidores a virarem-se para o seu habitual refúgio em tempos de crise no outro lado do Oceano Atlântico.

A divisa norte-americana está a beneficiar, como é hábito, do seu estatuto de activo financeiro seguro num tempo de grande incerteza e instabilidade na economia mundial, vendo o seu valor a subir face a praticamente todas as outras divisas mundiais. E do lado do euro, a viragem de política monetária mais lenta do BCE (subindo menos as taxas de juro do que a Reserva Federal norte-americana),com continuados receios de uma travagem ou mesmo recuo da economia da zona euro já a partir do terceiro trimestre do ano, estão a contribuir para penalizar o desempenho da moeda única nos mercados.

No sábado, o anúncio russo de que a interrupção dos fluxos do gasoduto Nord Stream por alegados problemas técnicos teria um prazo indeterminado acentuou os receios que vários países da zona euro, como a Alemanha, não venham a ser capazes de reforçar as suas reservas de gás o suficiente para atravessar o próximo Inverno com escassez energética.

Isto cria um dilema a Christine Lagarde e aos seus colegas no BCE: ser mais moderado na subida de taxas de juro para não afundar ainda mais a economia ou aumentar radicalmente o custo do dinheiro, apostando tudo em limitar a queda do euro e a escalada da inflação, mesmo que isso custe à zona euro uma entrada em recessão.