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11.11.22

O efeito destrutivo da fome no mundo

Francisco Louçã, opinião, in Expresso
 
Segundo o Programa Alimentar Mundial da ONU, 828 milhões de pessoas, mais de um décimo da Humanidade, vai dormir cada noite com fome. Cerca de 45 milhões estão a morrer de fome

O discurso de vitória de Lula voltou a um dos temas e ações mais importantes das suas presidências anteriores: garantir que cada pessoa tome um pequeno-almoço, um almoço e um jantar, deixando de viver sob a tormenta diária da fome. Foi coerente consigo próprio, com a sua campanha e com uma prioridade humana essencial. Mas é preciso reconhecer que não foi fundamentalmente pela expectativa desta resposta que ganhou as eleições, mas antes pelo temor que o desastre pandémico, a arrogância militarizada e a boçalidade do adversário criaram entre pessoas das mais sofridas do país. Ao contrário da sua primeira vitória, Lula não foi agora eleito por um movimento que aspirava a uma mudança social urgente, foi eleito pelo desespero perante a selvajaria bolsonarista e para evitar que o país continuasse a afundar-se. A esperança de uma viragem progressista é curta e, aliás, o que disso houver vai ser depressa atenuado pelas composições das alianças de governo e pelo negócio orçamental com os coronéis das amibas políticas que dominam o parlamento, o “centrão”.

Acresce que, maioritário entre os homens brancos e entre os de maio­res rendimentos — exatamente o padrão Trump —, Bolsonaro obteve a sua maior votação de sempre (como também aconteceu com Trump na sua recandidatura), tendo sido derrotado porque nunca nenhum candidato recebeu tantos votos quantos os de Lula (como aconteceu com Biden). Ou seja, a direita de hoje tem motivos para recear o risco eleitoral de uma polarização democrática, mas festeja o sucesso fulgurante da sua recomposição (a afirmação da hegemonia da extrema-direita) e comprovou que mesmo a ganância desenfreada (o saque da Amazónia), o espetáculo dos príncipes tartufos (os filhos de Trump e Bolsonaro e o seu séquito) ou ainda o isolamento internacional (o Brasil desapareceu do mapa-mundo) são multiplicados pelo movimento identitário mais poderoso do século XXI: a redescoberta do fanatismo religioso como a voz da política. Os bufões que são agora os ícones da direita, e assim vão permanecer, se não reforçar-se, fazem-se adorar como a reencarnação da fúria divina e têm multidões a segui-los. É o regresso do reprimido, a mais antiga das estratégias de dominação, o terror que cria cumplicidade das vítimas.

A FOME NÃO É SÓ A LONJURA

E é aqui que o apelo de Lula ganha um novo sentido, porventura até distinto do que significava quando iniciou o seu mandato em 2003. O Brasil é dos países que tem capacidade excedentária na produção de bens alimentares, mesmo que a expansão dessa potência, particularmente no cultivo de soja, seja responsável pela desflorestação. Pode, portanto, dar passos importantes no sentido daquela promessa, embora isso implique decisões difíceis e ignoradas em mandatos anteriores, como planear a produção agrícola, adaptar a agropecuária, controlar preços e proteger a floresta. Mas quatro quintos da população mundial vivem em países que, pelo contrário, dependem da importação de alimentos, e, segundo o Programa Alimentar Mundial da ONU, 828 milhões de pessoas, mais de um décimo da Humanidade, vai dormir cada noite com fome. Cerca de 45 milhões, segundo a mesma organização, estão a morrer de fome. E o que a comunidade internacional faz para responder a este problema é ocultá-lo: o Programa anunciou este ano que a restrição orçamental forçou a redução da ração alimentar mínima que distribui no Sudão do Sul, Nigéria (o país rico que exporta gás e petróleo, notou?) e Iémen, para poder abranger mais pessoas. A fome está a destruir uma parte do mundo.

Lula não foi agora eleito por um movimento que aspirava a uma mudança social urgente, foi eleito pelo desespero perante a selvajaria bolsonarista e para evitar que o país continuasse a afundar-se

Há três razões que agravam esta regra da fome: a crise climática, as guerras e a desigualdade que organiza a produção alimentar. Nenhuma delas é passageira, tendem a agravar-se e as consequências não se conseguem contar em infâncias perdidas, em número de mortos e em pessoas forçadas a fugir e a emigrar. Um desses motores da fome instalou-se na Europa, com a invasão russa da Ucrânia, e tem impacto no mundo inteiro.


O EFEITO DA GUERRA NA UCRÂNIA

Antes da guerra, a Rússia e a Ucrânia eram responsáveis por 28% da exportação mundial de trigo, sendo a Rússia o primeiro exportador mundial e a Ucrânia o quinto, mas também de 29% da cevada, 15% do milho e 75% do óleo de girassol. Alguns paí­ses dependiam destas importações: o Egito comprava a estes dois países 86% do seu trigo, a Turquia 77% e o Paquistão 88%. Por essa razão e apesar das sanções, a Rússia aumentou as suas exportações de cereais, sendo 2022 o seu melhor ano. Mas, com a guerra, 26 países congelaram as suas vendas de cereais, tendo a Índia chegado a proibi-las. Ora, como seria de esperar, o efeito nos preços seguiu, ou até antecipou estas restrições, afetando sobretudo os países africanos e o sul da Ásia. Esta rota do medo provoca a espiral de preços, ampliados por esta especulação que o poder inflacio­nário entrega às mãos das grandes empresas distribuidoras (o preço internacional do óleo de girassol voltou entretanto ao nível anterior à guerra, mas a notícia não chegou aos supermercados). Segundo a ONU, estas restrições retiram 15% das calorias consumidas no mundo.

Pelo menos no Brasil, Lula anuncia que se esforçará por cuidar da sua gente. Do lado de cá do Atlântico a guerra continuará a ser melhor negócio do que essa ideia simples de cuidar da alimentação de quem não tem nada, para garantir o dia de amanhã.

4.5.22

INSEGURANÇA ALIMENTAR GRAVE AFETOU QUASE TRÊS MILHÕES EM MOÇAMBIQUE EM 2021

in Rádio Comercial

De acordo com as Nações Unidas, é o número mais elevado desde a seca de 2016.
Quase três milhões de pessoas em Moçambique tinham em 2021 uma situação alimentar de crise ou emergência, o número mais elevado desde a seca de 2016, conclui um relatório hoje publicado.

De acordo com o relatório, publicado anualmente pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Programa Alimentar Mundial e a União Europeia, no ano passado, 193 milhões de pessoas em 53 países estavam em situação de insegurança alimentar aguda, ou seja, precisavam de assistência urgente para sobreviver.

A classificação engloba os níveis entre 3 e 5 da escala internacional de segurança alimentar: crise, emergência e desastre.

Em Moçambique, segundo o estudo, 2,91 milhões de pessoas estavam no nível 3 ou acima: 2,65 milhões em situação de crise e 260 mil em situação de emergência.

Isto representa 16% da população analisada pela organização, que estudou 33 áreas em 11 províncias e 12 cidades, abrangendo 60% da população total de Moçambique, de 30,1 milhões.

Segundo as conclusões, 15 áreas no leste de Cabo Delgado, no sul de Tete, e na maioria dos distritos de Gaza e Inhambane, assim como no distrito de Dondo, em Sofala, e no de Magude, em Maputo, estavam em situação de crise.

Todas as outras áreas analisadas estavam no nível 2 da escala internacional de segurança alimentar, na qual se encontravam 8,41 milhões de pessoas.

Quase 75 mil crianças com menos de 5 anos tinham baixa estatura em 2021, dos quais 27 mil de forma severa, e metade das crianças da província de Cabo Delgado tinha baixo peso, concluem os investigadores.

Os autores do documento sublinham que o número de pessoas em situação de crise ou emergência em Moçambique em 2021 foi superior ao de 2020 em 240 mil pessoas e foi o maior número registado desde que o país foi fortemente afetado pela seca de 2016, ligada ao fenómeno climático do El-Niño.

A crise alimentar foi agravada pelo conflito e consequente movimento populacional no norte de Moçambique, que provocou uma perturbação da produção agrícola e do fornecimento de alimentos e fez subir os preços, enquanto períodos secos, secas, chuvas intensas e inundações afetaram a produção agrícola em todo o país.

As restrições relacionadas com a pandemia de covid-19 continuaram também a afetar as atividades económicas, pode ler-se no relatório.

Sublinhando que as pessoas obrigadas a abandonar as suas casas estão entre as mais vulneráveis à insegurança alimentar e à malnutrição, os autores do relatório contabilizam em 950 mil os deslocados internos – devido ao conflito e insegurança no norte do país e devido aos danos provocados pelos ciclones dos últimos anos no centro – e em 25 mil os refugiados e requerentes de asilo em Moçambique.

Nas suas projeções para 2022, os autores do relatório antecipam que a situação da insegurança alimentar melhore na maioria do país, exceto na região de Cabo Delgado, onde se estima que esteja 50% da população de Moçambique em crise alimentar ou pior.

O relatório estima que 1,86 milhões de pessoas no país estivessem em situação de crise alimentar ou pior até março de 2022, nomeadamente em Cabo Delgado, Manica, Tete e Gaza.

20.4.21

Apelo pede missão contra a fome que afeta 34 milhões de pessoas

por Notícias ao Minuto

Mais de 260 organizações não-governamentais apelaram hoje aos países doadores cinco mil milhões de dólares (mais de quatro mil milhões de euros) para as agências das Nações Unidas poderem salvar 34 milhões de pessoas em risco alimentar.

"Nós apelamos para a doação de cinco mil milhões de dólares de fundos suplementares para o auxílio alimentar de urgência", referem numa carta aberta divulgada hoje.

O documento assinado por organizações não-governamentais de todo o mundo refere que milhões de pessoas estão a morrer de fome no mundo e que precisam de ajuda de emergência.

Esta mobilização vem reforçar o apelo lançado pelo Programa Alimentar Mundial (PAM) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) que solicitaram estes fundos adicionais para o ano de 2021.

Segundo as ONG, bastaria dedicar o equivalente a 26 horas do gasto militar mundial para conseguir reunir esse valor.

As organizações sublinharam que, por enquanto, foram prometidos apenas 5% dos 7,8 mil milhões de dólares solicitados no total para o ano de 2021 pela ONU para garantir a segurança alimentar.

No final de 2020, a ONU estimou que 270 milhões de pessoas em todo o mundo estavam a passar fome ou prestes a não ter o suficiente para comer.

Um total de 174 milhões de pessoas em 58 países correm o risco de morrer de subnutrição ou falta de alimentos "e esse número só aumentará nos próximos meses se nada for feito", denunciaram as ONG.

15.2.21

Programa Alimentar Mundial alerta que 12,4 milhões de pessoas na Síria estão a passar fome

Jornal Económico com Lusa 

“Mais do que nunca, um número crescente de sírios está a passar fome, a cair na pobreza e na insegurança alimentar”, afirmou à agência de notícias francesa AFP Jessica Lawson, porta-voz do PAM na Síria.

O Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas disse hoje que cerca de 12,4 milhões de pessoas sofrem de insegurança alimentar na Síria, devastada pela guerra, um número que considerou “alarmante”.

“Quase 60% da população síria encontra-se atualmente numa situação de insegurança alimentar”, informou a agência da ONU, referindo-se aos resultados de um estudo realizado em finais de 2020 em todo o país.

“Este é de longe o número mais alto alguma vez registado”, sublinhou aquela entidade.

O país (com cerca de 20 milhões de habitantes, segundo o PAM) tinha atingido um recorde anterior em maio, com 9,3 milhões de pessoas a não conseguirem comer o suficiente.

“Mais do que nunca, um número crescente de sírios está a passar fome, a cair na pobreza e na insegurança alimentar”, afirmou à agência de notícias francesa AFP Jessica Lawson, porta-voz do PAM na Síria.

“É alarmante que uma refeição básica esteja fora do alcance da maioria das famílias”, frisou.

Num país devastado por quase uma década de guerra, cerca de 83% da população vive abaixo do limiar da pobreza, de acordo com as estatísticas da ONU.

Nos últimos meses, a crise económica no vizinho Líbano, que abrandou acentuadamente o fluxo de dólares americanos para a Síria, e as medidas impostas pela pandemia de covid-19, agravaram ainda mais a situação, com a libra síria a cair em relação ao dólar para um mínimo histórico. Além disso, o aumentos de preços também degradou as condições de vida.

“A situação económica na Síria está a exercer pressão sobre as famílias que não têm mais nada, depois de anos de conflito, e muitas delas dependem exclusivamente da ajuda humanitária para sobreviver”, adiantou Lawson.

O conflito sírio, que começou em março de 2011, com a repressão sangrenta de manifestantes anti-regime, causou a mortes de mais de 387.000 pessoas e forçou milhões de sírios ao exílio.

5.9.17

"Fome é uma situação rara. Quatro países à beira de fome ao mesmo tempo?"

in TVI24

Mundo enfrenta maior crise humanitária em 70 anos com quatro países em risco de fome, afirma do diretor do Programa Alimentar Mundial. São precisos 850 milhões de euros

O diretor do Programa Alimentar Mundial alertou hoje para aquilo que considera ser a maior crise humanitária em 70 anos, com mais de 20 milhões de pessoas no Iémen, Somália, Sudão do Sul e Nigéria em risco de fome.

Uma fome é uma situação rara. Quatro países à beira de fome ao mesmo tempo? Nunca se ouviu falar. Enfrentamos a maior crise humanitária em 70 anos, com 20 milhões de pessoas perto de morrer à fome em quatro países”, disse David Beasley em entrevista à Lusa.

O americano, que foi nomeado para o cargo pelo secretário-geral, António Guterres, em março deste ano, diz que a situação mais grave acontece no Iémen, onde perto de sete milhões de pessoas são incapazes de sobreviver sem algum tipo de ajuda alimentar.
ONU precisa de 850 milhões de euros

O Programa Alimentar Mundial precisa de 850 milhões de euros para impedir a fome em quatro países até ao final do ano, acrescentou David Beasley.

Precisamos de quase 850 mil milhão de dólares para combater a fome nestes países nos próximos seis meses. Quando estamos com poucos fundos, o programa é obrigado a cortar nas rações de comida, deixando as pessoas com menos do precisam para ter uma vida normal e saudades. Quanto mais dramáticos os cortes, maior o número de pessoas que pode morrer por falta de comida”, disse.

“Falta de fundos significa que pessoas podem morrer. É tão simples quanto isso”, acrescenta o responsável.