11.7.07

Comunidade ismaili quer criar banco de microcrédito com parceiros financeiros

António Marujo, in Jornal Público

Projecto faz parte das comemorações dos 50 anos do imamato de Karin Aga Khan, que hoje se assinalam com uma celebração em Lisboa


A Comunidade Ismaili portuguesa está a promover um banco de microcrédito com o objectivo de apoiar pessoas que queiram criar pequenas empresas. O projecto passará pela implantação da Agência Aga Khan para o Microcrédito em Portugal e pelo estabelecimento de parcerias com instituições financeiras, de modo a criar, de raiz, um banco destinado ao microcrédito, cujo objectivo não é o lucro.

Esta será uma das iniciativas com que a comunidade pretende comemorar, em Portugal, o 50.º aniversário do imamato de Karim Aga Khan IV - e cuja data hoje se assinala. Para marcar o dia, os cerca de oito mil muçulmanos ismailis portugueses juntam-se hoje numa celebração festiva destinada exclusivamente à comunidade, que decorrerá durante várias horas em Lisboa. Amanhã, a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento (AKDN, da sigla em inglês) organiza uma recepção a várias entidades públicas, no Centro Ismaili, para assinalar também a efeméride.

Entre as iniciativas previstas para este ano de Jubileu dourado, está ainda a criação de um curso de Direito Canónico ou Religioso, englobando várias religiões, numa parceria com a Universidade Católica. Nazim Ahmad, representante da AKDN em Portugal, diz que a ideia ainda está em estudo. Mas a comunidade pretende concretizar as diversas iniciativas durante o Jubileu do 49.º imã dos muçulmanos xiitas ismailis.

Além dos dois projectos referidos, a comunidade pretende desenvolver um programa de educação para o pluralismo religioso e criar uma escola de excelência, com o nível básico e secundário. Esta escola, de acordo com Nazim Ahmad, não fechará as portas a alunos provenientes de meios desfavorecidos, antes procurará integrar todos os que se destaquem no nível de aprendizagem. A escola ficará no concelho da Amadora e funcionará em regime de internato.

Esta Academia de Excelência, como Ahmad lhe chama, pretende ajudar a criar uma "educação de topo", com um currículo semelhante ao do sistema de ensino português, mas com exigência e enriquecido com matérias sobre pluralismo religioso e história da civilização islâmica. Há já uma escola semelhante em Moçambique e um projecto na Índia.

Momento maior deste ano de celebrações que hoje se inicia pode ser a visita do Aga Khan a Portugal, numa data ainda sujeita a negociação. O Presidente da República e o primeiro-ministro já se mostraram disponíveis para convidar o líder ismaili a visitar Portugal, mas a presidência portuguesa da União Europeia não permitiu ainda que se pudesse encontrar uma data. O Aga Khan, de resto, planeia visitar os 35 países onde há muçulmanos ismailis.

A AKDN em Portugal tem já vários projectos no âmbito social. Estes mais não fazem do que traduzir a "consciência social do islão, por meio de uma iniciativa institucional", diz Nazim Ahmad. Um dos projectos é o K"Cidade, um programa de desenvolvimento comunitário em meio urbano, que está a ser concretizado na Alta de Lisboa e Ameixoeira (Lisboa) e em Mira-Sintra (Sintra). Neste programa, as parcerias incluem o Comité Português da Unicef, o Patriarcado e a Misericórdia de Lisboa.
Apesar da ligação ao imã ismaili, a AKDN tem um estatuto de organização não confessional. A AKDN investe anualmente cerca de 300 milhões de dólares, em mais de 200 instituições de cuidados de saúde e 300 escolas nos países mais pobres.
A comunidade tem já vários projectos em Portugal que mais não fazem que "traduzir a consciência do islão"