António Marujo, in Jornal Público
Projecto faz parte das comemorações dos 50 anos do imamato de Karin Aga Khan, que hoje se assinalam com uma celebração em Lisboa
A Comunidade Ismaili portuguesa está a promover um banco de microcrédito com o objectivo de apoiar pessoas que queiram criar pequenas empresas. O projecto passará pela implantação da Agência Aga Khan para o Microcrédito em Portugal e pelo estabelecimento de parcerias com instituições financeiras, de modo a criar, de raiz, um banco destinado ao microcrédito, cujo objectivo não é o lucro.
Esta será uma das iniciativas com que a comunidade pretende comemorar, em Portugal, o 50.º aniversário do imamato de Karim Aga Khan IV - e cuja data hoje se assinala. Para marcar o dia, os cerca de oito mil muçulmanos ismailis portugueses juntam-se hoje numa celebração festiva destinada exclusivamente à comunidade, que decorrerá durante várias horas em Lisboa. Amanhã, a Rede Aga Khan para o Desenvolvimento (AKDN, da sigla em inglês) organiza uma recepção a várias entidades públicas, no Centro Ismaili, para assinalar também a efeméride.
Entre as iniciativas previstas para este ano de Jubileu dourado, está ainda a criação de um curso de Direito Canónico ou Religioso, englobando várias religiões, numa parceria com a Universidade Católica. Nazim Ahmad, representante da AKDN em Portugal, diz que a ideia ainda está em estudo. Mas a comunidade pretende concretizar as diversas iniciativas durante o Jubileu do 49.º imã dos muçulmanos xiitas ismailis.
Além dos dois projectos referidos, a comunidade pretende desenvolver um programa de educação para o pluralismo religioso e criar uma escola de excelência, com o nível básico e secundário. Esta escola, de acordo com Nazim Ahmad, não fechará as portas a alunos provenientes de meios desfavorecidos, antes procurará integrar todos os que se destaquem no nível de aprendizagem. A escola ficará no concelho da Amadora e funcionará em regime de internato.
Esta Academia de Excelência, como Ahmad lhe chama, pretende ajudar a criar uma "educação de topo", com um currículo semelhante ao do sistema de ensino português, mas com exigência e enriquecido com matérias sobre pluralismo religioso e história da civilização islâmica. Há já uma escola semelhante em Moçambique e um projecto na Índia.
Momento maior deste ano de celebrações que hoje se inicia pode ser a visita do Aga Khan a Portugal, numa data ainda sujeita a negociação. O Presidente da República e o primeiro-ministro já se mostraram disponíveis para convidar o líder ismaili a visitar Portugal, mas a presidência portuguesa da União Europeia não permitiu ainda que se pudesse encontrar uma data. O Aga Khan, de resto, planeia visitar os 35 países onde há muçulmanos ismailis.
A AKDN em Portugal tem já vários projectos no âmbito social. Estes mais não fazem do que traduzir a "consciência social do islão, por meio de uma iniciativa institucional", diz Nazim Ahmad. Um dos projectos é o K"Cidade, um programa de desenvolvimento comunitário em meio urbano, que está a ser concretizado na Alta de Lisboa e Ameixoeira (Lisboa) e em Mira-Sintra (Sintra). Neste programa, as parcerias incluem o Comité Português da Unicef, o Patriarcado e a Misericórdia de Lisboa.
Apesar da ligação ao imã ismaili, a AKDN tem um estatuto de organização não confessional. A AKDN investe anualmente cerca de 300 milhões de dólares, em mais de 200 instituições de cuidados de saúde e 300 escolas nos países mais pobres.
A comunidade tem já vários projectos em Portugal que mais não fazem que "traduzir a consciência do islão"