Sérgio Aníbal, in Jornal Público
Banco de Portugal aposta no investimento empresarial e nas exportações para a continuação da retoma durante os próximos anos
2,2%
Crescimento previsto pelo Banco de Portugal para 2008, menos que os 2,4 por cento do Governo
O PIB do sector privado vai registar, durante este ano, uma taxa de crescimento de 2,2 por cento, acelerando para 2,7 por cento em 2008, o que representa, pela primeira vez desde 2001, um ritmo mais elevado do que o previsto para a evolução da totalidade da economia da zona euro.
As projecções do Banco de Portugal para a economia nacional, ontem divulgadas através da publicação do boletim económico de Verão e do relatório anual de 2006, mostram que o sector privado registou já durante o ano passado um desempenho mais positivo que a totalidade da economia, ou seja, incluindo o sector público. A diferença entre as duas taxas de crescimento foi de 0,4 pontos percentuais. Este intervalo deverá manter-se e mesmo alargar-se ligeiramente em 2007 e 2008.
De acordo com o Banco de Portugal, a totalidade da economia portuguesa vai crescer 1,8 por cento este ano e 2,2 por cento em 2008, o que significa o prolongamento do processo de divergência com o resto da Europa. A aplicação de uma política orçamental restritiva durante o ano passado e, previsivelmente, nos seguintes está assim a ser um dos principais obstáculos a um regresso mais rápido à convergência.
Não ao corte de impostos
O governador do Banco de Portugal reconheceu, no depoimento que realizou ontem na Assembleia da República, que "a forte contenção orçamental tem um impacto restritivo significativo na actividade a curto prazo". No entanto, Vítor Constâncio defendeu sempre a importância de uma correcção do défice para o desempenho futuro da economia.
Aliás, voltou a mostrar a sua oposição à possibilidade de redução dos impostos nos próximos anos. "Não se devem ter grandes aspirações relativamente a uma redução de impostos num horizonte em que Portugal se comprometeu a reduzir o défice para 0,5 por cento até 2010", afirmou.
Uma das áreas em que se nota uma maior diferença entre o sector privado e o público é no investimento. Enquanto, em 2006, o investimento público registou, devido aos cortes do Governo e das autarquias, uma quebra de 17 por cento, o investimento empresarial já cresceu a uma taxa de 1,4 por cento e deverá, nos anos seguintes, continuar a acelerar.
Retoma espera investimento
A concretização da aceleração da economia portuguesa prevista pelo Banco de Portugal - mesmo assim menos optimista que o Governo para 2008 - é baseada num cenário em que o investimento em Portugal, depois de cinco anos seguidos de desempenho muito fraco, começa, já este ano, a recuperar.
De acordo com a projecção apresentada, o investimento deverá registar, em 2007, uma variação positiva de 0,6 por cento, uma melhoria face à contracção de dois por cento que se verificou no ano passado. Para além disso, Vítor Constâncio acredita que, na parte final deste ano, este indicador "já estará a crescer a um ritmo próximo de três por cento", ganhando balanço para uma variação de 3,1 por cento durante a totalidade do ano de 2008.
Exportações resistem
O maior contributo do investimento é decisivo para a evolução da economia, já que, em contrapartida, as exportações, que em 2006 foram o grande motor da economia com uma variação de 9,1 por cento, podem começar agora a desacelerar. O Banco de Portugal prevê uma variação das vendas ao estrangeiro de 7,2 e 6,5 por cento em 2007 e 2008, respectivamente.
Ainda assim, estes números apenas serão conseguidos se as empresas portuguesas conseguirem resistir à previsível queda da procura internacional. A projecção do banco baseia-se na expectativa de que Portugal garanta, nestes dois anos, ganhos de quota de mercado, algo que não tem sido a regra na última década.
Desemprego estagnado
O Banco de Portugal acredita igualmente que, ao contrário do que aconteceu em 2006, o crescimento económico em 2007 e 2008 vai ser conseguido graças a um aumento significativo da produtividade e não do emprego. A produtividade poderá subir 1,3 e 1,4 por cento respectivamente. Isto significa também, de acordo com Constâncio, que a taxa de desemprego não fará mais do que "estabilizar" durante este período. Uma redução significativa do desemprego, considerada a questão "mais preocupante", só se registará se a economia continuar a acelerar em 2009.
2,2%
Crescimento previsto pelo Banco de Portugalpara 2008, menos que os 2,4 por cento do Governo