Jorge Marmelo, in Jornal Público
Carlos Mota Cardoso garante acompanhamento dos actuais utentes até à sua transferência para os programas oficiais
Carlos Mota Cardoso, responsável máximo pelo projecto Porto Feliz, gizado há cinco anos para acabar com os arrumadores de automóveis na cidade, considera que a "denúncia unilateral" dos protocolos com o Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT) que ditaram o fim do programa, recentemente anunciado pelo presidente da câmara, se ficou a dever a um "problema político" e também a alguma inveja: "O país é pequeno e o facto de se apresentarem resultados com um programa inovador e de sucesso, que rompeu com um figurino já gasto, ineficaz e conservador, incomoda", disse ontem Cardoso durante uma conferência de imprensa destinada a fazer o balanço do projecto.
"Não é verdade que o Porto Feliz não foi avaliado e que não foi eficaz", sintetizou Mota Cardoso, segundo o qual o programa acaba contra a vontade dos seus responsáveis. Aquele responsável afirmou ainda que será garantido o acompanhamento dos actuais utentes do projecto até à sua transferência "gradual" para os programas do IDT e disse esperar que a cidade reaja contra o fim do Porto Feliz. "Vamos lutar até onde for possível."
Considerando que a eliminação do método de tratamento criado pelo Porto Feliz "não é nada saudável" e acaba com uma das duas alternativas que existem para atacar este problema social, os responsáveis pelo projecto apresentaram números que, na sua opinião, são "fantásticos em qualquer parte do mundo" e atestam o "elevado índice de qualidade" do programa (ver caixa).
Aos números acresce o facto de as ruas do Porto terem alegadamente ficado "muito mais saudáveis e europeias" - Mota Cardoso chegou a afirmar que o problema dos arrumadores "esteve completamente desaparecido" até Novembro de 2006 -, um custo per capita "muitíssimo baixo" e o facto de o programa ter suscitado o interesse de outras cidades europeias, como Estocolmo, Barcelona, Lyon, Paris e Londres.
Confrontado com a acusação segundo a qual o número de arrumadores decresceu por terem os indivíduos sido "escorraçados" para outros concelhos, Mota Cardoso considerou que tal alegação é "absolutamente absurda e maldosa".
O Porto Feliz terá, por outro lado, diminuído o sentimento de insegurança na cidade e contribuído para especializar seis dezenas de técnicos, cumprindo ainda "todos os objectivos" em matéria de tratamento das doenças relacionadas com o consumo de droga. "Salvámos muitos doentes da morte certa", garantiu Mota Cardoso.
"É dramático que isto termine, os portugueses não podem permitir", disse Carlos Mota Cardoso, que desafiou os responsáveis do IDT a avaliarem e apresentarem os resultados alcançados pelos serviços oficiais. "Gostava de ver", disse, acrescentando que o tratamento da toxicodependência no resto do país teve como resultados "mais droga, mais tráfico, mais doenças e o enriquecimento de muita gente".