Alexandra Marques, in Jornal de Notícias
Um estudo realizado em 2006 sobre que modalidade laboral preferem os trabalhadores nacionais para poderem ter mais tempo para a família revela que os portugueses gostariam de poder controlar mais o seu horário de trabalho - poder sair mais cedo ou mais tarde -, não sendo apologistas da redução do horário semanal ou mesmo do trabalho a tempo parcial.
Os inquiridos justificaram as razões da sua preferência com dois factores. Porque em Portugal, num trabalho a tempo parcial - ou seja, um "part-time" - a remuneração é insuficiente para suportar os encargos mensais que têm com os agregados familiares e também porque essa opção implicaria estagnarem na carreira.
O estudo demonstra, por isso, que os activos portugueses consideram que optar por trabalhar só quatro horas por dia ou quatro dias por semana prejudicaria as promoções que as empresas atribuem. E que recaem sobre quem tem mais disponibilidade para trabalhar à noite, por turnos ou mesmo ao fim-de-semana.
Estes dados foram revelados, há dois dias, por Anália Torres, investigadora e docente no Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), na conferência sobre a conciliação da vida profissional com a vida familiar promovido em Lisboa, pela presidência portuguesa da União Europeia (UE).
A investigadora realçou ainda que um inquérito levado a cabo em 2004 sobre que factores privilegiam os portugueses na escolha do emprego, indica que o critério principal é conseguir um posto de trabalho em que tenham um vínculo contratual duradouro, ou seja segurança.
Em segundo lugar, é referida a possibilidade de ter um horário flexível para actividades extra-trabalho ou para acompanhar ou dar apoio ao cônjuge, filhos ou um familiar a cargo (pais idosos, ou um parente com deficiência ou doente). E só no fim é apontada a remuneração como factor determinante quando se trata de escolher um emprego.
Anália Torres sublinhou que estes indicadores demonstram que conciliar a vida profissional com a esfera privada é um ponto a que os trabalhadores nacionais dão muita importância.
Homens discriminados
Esta questão é aquilo a que os especialistas chamam flexibilidade interna no trabalho e cujas regras - segundo o Governo português -, devem ser definidas, em sede de negociação colectiva, pelos parceiros sociais.
Para a representante portuguesa no Instituto Europeu para a Igualdade, Maria do Céu Cunha Rego "a carta comunitária dos direitos sociais fundamentais dos trabalhadores, no ponto 16, estipula que há que desenvolver medidas que permitam a ambos os géneros conciliar as obrigações profissionais e familiares". Mas esta redacção é "uma armadilha, para soluções verdadeiramente eficazes", referiu.
"A conciliação tem a ver com a divisão equilibrada do trabalho pago e do trabalho não pago (doméstico) e de apoio à vida familiar" e que, quase em exclusividade, é exercido pelas mulheres.
Para Maria do Céu Cunha Rego as medidas previstas pela UE são insuficientes para garantir aos homens trabalhadores que são pais o direito a ficar em casa a cuidarem dos filhos. "É aceitar que os homens são dispensáveis e estão dispensados de gastar tempo com a sua família", afirmou.
Em suma, o desejo expresso pelos homens trabalhadores é terem mais tempo para acompanhar as actividades dos filhos - escolares, desportivas e outras - mas o Estado ainda não criou leis que lhes permitam fazê-lo.