23.7.07

A incompetência do instituto de emprego

Ricardo Dias Felner, in Jornal Público

Tudo se passou em meia hora. O PÚBLICO quis saber, junto de vários centros de emprego, da existência ou não de vagas para a contratação de imigrantes. O périplo começou com um contacto para o Centro de Emprego de Torres de Moncorvo. Um homem afável atendeu o telefone. "Ainda temos, sim senhor. Mas só nas áreas da restauração e dos serviços."

Contudo, e apesar da segurança transmitida pelo funcionário, os dados não batiam certo com os indicadores já reunidos. Era necessário prosseguir as investigações.
Centro de Emprego das Caldas da Rainha, dois minutos depois. "Está tudo esgotado. Só com um parecer extraordinário do ministério, indicando que a pessoa vai ocupar um lugar importante para o país", contrapôs uma mulher, apressada. Caldas da Rainha voltava a baralhar. Parecer extraordinário?! Nunca tinha ouvido falar.

Rumo de novo ao norte. No Centro de Emprego de Chaves ninguém sabia de parecer nenhum. Ninguém sabia de nada. Ainda há vagas em alguma actividade profissional? "Não sei." E não consegue saber? "Não." Porquê? "O sistema informático não permite. Essa informação está centralizada."

Ora, o sistema informático "não permite" em Chaves, mas permitira nas Caldas da Rainha e em Torre de Moncorvo. E permite em Ourique, no minuto seguinte. "Deixe-me ver aqui no computador. A construção civil é a única bloqueada", informa uma senhora, sem hesitar.

O jornalista questiona-se então: por que razão tem Ourique um sistema informático que "permite" e Chaves não? Estará Ourique a prevaricar, violando informação "centralizada" - confidencial? Será a funcionária de Ourique uma hacker encapotada ou uma visionária?

A ser verdade, não seria a única. No Centro de Emprego de Amarante também acedem aos dados informáticos. No entanto, neste caso, os números voltam a não coincidir: para além do bloqueio para a "construção civil, não há vagas também para a agricultura e para a hotelaria". A confusão instala-se outra vez. Mas então os dados não estavam centralizados? Não são os mesmos para toda a gente?

Pelos vistos, não. E admite-se que o problema seja da tutela, o Instituto de Educação e Formação Profissional, que dias antes respondera a perguntas do PÚBLICO, um mês depois de enviadas, com umas tabelas infantis e confusas.