20.7.07

Meia centena de imigrantes clandestinos perdida nas águas das Canárias

in Jornal Público

A catástrofe aconteceu quando uma embarcação de ilegais sobrelotada se voltou devido a vagas de cinco metros e ventos de 80 quilómetros por hora

Navios de socorro e militares procuravam ontem à tarde dezenas de náufragos de uma embarcação de clandestinos sobrelotada que se afundou ao largo das ilhas espanholas das Canárias, no Atlântico. Nas águas do Sul da Itália, as autoridades italianas procuravam um navio de pesca tomado de assalto por imigrantes ilegais (ver caixa).
O naufrágio ocorreu quando dois navios de uma sociedade espanhola de salvamento assistiam, a cerca de 90 milhas náuticas a sul de Tenerife, um cayuco, um pesqueiro africano tradicional, com uma centena de pessoas a bordo, que tentava com dificuldade alcançar a costa do arquipélago. A tragédia deu-se de um momento para o outro.

Quando o Luz de Mar e o Conde de Gondomar já tinham resgatado 48 pessoas, ondas de cinco metros e ventos de 80 quilómetros por hora voltaram a embarcação e mergulharam nas águas os outros ocupantes, de acordo com um comunicado da empresa Salvamento Marítimo. "Estima-se que se encontravam a bordo cerca de 100 pessoas", admitiu a nota, calculando em meia centena o número de desaparecidos.

Resgate de "grande risco"

As operações de resgate estavam a ser feitas em condições de "grande risco", por os sinistrados estarem muito nervosos, disse o delegado do Governo nas ilhas, José Segura, citado pelo diário El Pais.

"Continuamos as buscas", disse um porta-voz da prefeitura de Tenerife, ao largo da qual ocorreu o desastre, citado pela AFP.

Uma frota de quatro navios daquela sociedade e vários outros que se encontravam nas imediações participava à tarde nas buscas, ajudada por dois aviões e dois helicópteros.

Um vaso militar francês, o Tonnerre, o segundo maior da Marinha gaulesa depois do porta-aviões Charles De Gaulle, participou durante algumas horas no auxílio antes de abandonar a área. O tempo continuava mau.

As Canárias são uma das principais portas de entrada de imigrantes africanos. A maior parte chega de pirogas a motor, às vezes com um ou mais mortos a bordo. Recolhidos em centros de acolhimento, são depois repatriados.

Um imenso fluxo de clandestinos, cerca de 31.200 pessoas, incitou o Governo espanhol a intensificar os seus controlos marítimos e a pedir ajuda à União Europeia. Ainda assim, desde Janeiro chegaram às ilhas mais de 4700 candidatos à imigração.
Até ao fim do dia, não havia notícias de sobreviventes.

Um grupo de clandestinos tunisinos tomou o controlo de um barco de pesca italiano, ao largo da ilha de Lampedusa, no Sul da Itália, para evitar ser repatriado. A guarda costeira italiana procurava ontem o barco. Os amotinados faziam parte de um grupo maior de ilegais recolhidos pelo pesqueiro quando pretendiam entrar na Itália. Um vedeta levou uma parte para Lampedusa enquanto o barco levou a outra na direcção da Tunísia. Ao verem a manobra, os clandestinos tomaram conta do leme.