Lucília Tiago, in Jornal de Notícias
Cobrança duvidosa na habitação bate máximo de 15 meses
O crédito de cobrança duvidosa totalizava, no final de Maio, 2,23 mil milhões de euros, atingindo um valor sem paralelo nos últimos cinco anos. A subir está também o malparado dos empréstimos para habitação que totaliza já 1,22 mil milhões de euros, sendo necessário recuar a Fevereiro de 2006 para encontrar um montante tão elevado.
A constante subida das taxas de juro parece começar a ter efeitos na capacidade das famílias para pagarem as prestações mensais dos créditos, concretamente no da habitação. De mês para mês, a cobrança duvidosa nos empréstimos para compra de casa tem vindo a aumentar subiu seis milhões de Abril para Maio e 60 milhões se a comparação for feita com Maio de 2006. De acordo com o Boletim Estatístico do Banco de Portugal, há 15 meses que o malparado na habitação não atingia um valor tão alto.
Esta aparente maior dificuldade de alguns em ter as prestações em dia não significa que a procura de crédito se tenha retraído. Antes pelo contrário. O montante total de crédito para habitação, consumo e outros fins registou em Maio uma subida (tanto homóloga como mensal). Ao todo (e excluindo as titularizações), as famílias devem agora 119,99 mil milhões de euros (mais 1,2 mil milhões do que em Abril), dos quais 95,87 mil milhões correspondem a empréstimos usados para comprar casa.
Os dados relativos ao malparado de todos os segmentos de crédito mostram também que este se agravou em Maio, atingindo 2235 milhões de euros - um valor que não tem paralelo nos últimos anos. Numa comparação com Dezembro de 2002, verifica-se que o crédito de cobrança duvidosa aumentou 521 milhões de euros neste período.
Entre as várias finalidades de empréstimos, constata-se que os destinados ao consumo continuam a crescer (ainda que a um ritmo inferior a anos anteriores), sendo também aqui que o malparado também mais tem subido. De Abril para Maio este indicador degradou-se 16,75%, comportamento que, de alguma forma, sustenta a ideia de que quem tem dificuldade em pagar as prestações dos empréstimos começa por deixar para trás a dos créditos para compra de bens de consumo e só depois entra em incumprimento com o da habitação.
Se as taxas de juro sobem e começam a reflectir-se negativamente nos empréstimos, o mesmo não se passa com os depósitos a prazo, principalmente com as novas (recentes) operações, cuja taxa de juro atingiu 3,53% em Maio (contra 3,46% no mês anterior). Nos depósitos até um ano, a taxa de juro foi igual.
Analisando a taxa de juro dos saldos dos depósitos a prazo até dois anos, constata-se que esta também subiu de um mês para outro, ao passar de 2,61% para 2,67%. Para as aplicações a mais de dois anos, a taxa de juro estava em Maio nos 2,75%.
Estes valores mostram que são as novas operações de depósito que oferecem taxas de remuneração mais atraentes e mais próximas dos juros praticados nos empréstimos. Entre os saldos dos depósitos e os novos, há uma diferença de quase um ponto percentual. Evoluções e variações que devem ser levadas em conta pelos aforradores na gestão das suas poupanças.