Dulce Furtado, in Jornal Público
a Em nenhuma outra etapa do périplo de cinco nações que o Presidente norte-americano, Georges Bush, está a fazer na América Latina foi tão evidente o empenho de Washington em passar a mensagem de que os Estados Unidos são um país generoso como na de ontem, na Guatemala.George Bush visitou agricultores pobres das montanhas guatemaltecas e centros médicos militares que prestam assistência a populações indígenas. As imagens revelavam "o líder da nação mais rica do mundo a dar a mão ao pobres", notava ontem o site do jornal Washington Post.
No tempo que restou, Bush encontrou-se com o seu homólogo guatemalteco, Oscar Berger (conservador), para promover o comércio livre e discutir a imigração e o reforço da luta contra a droga. Este périplo de aproximação de Washington aos aliados conservadores e de esquerda moderada na região tem estado a ser "desafiado" pelo Presidente venezuelano, Hugo Chávez, que em simultâneo viaja pela América do Sul virada à esquerda. Ontem mesmo, e já em tom azedo, o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow, frisava que Bush "não leva mais ninguém na bagagem".
À semelhança do que se passara no Brasil, no Uruguai e na Colômbia - assim como nos países do tour alternativo de Chávez -, os protestos estiveram ontem nas ruas de várias cidades guatemaltecas, onde muitos ainda recordam o apoio dado pelos Estados Unidos à repressão militar feita durante a guerra civil que assolou o país (1960-1996). Sem evidenciar sinais de desânimo, porém, Bush empenhou-se em passar na Guatemala - que aderiu no ano passado ao Acordo de Comércio Livre da América Central (CAFTA) - a mensagem de que os Estados Unidos são um país dotado de compaixão.
E reiterou o compromisso - feito nas etapas anteriores - de ajuda no combate à pobreza na América Latina, onde o poder de Washington é cada vez mais questionado desde que, nos sufrágios dos últimos dois anos, a região virou maioritariamente à esquerda.Segue-se, a partir de amanhã, a última etapa de Bush na região, o México. Será uma visita de dois dias com o tema da imigração na ribalta, dada a longa e porosa fronteira e a assimetria de riqueza entre os dois países.


