17.11.09

Daniel Bessa: "Vamos moderar as expectativas" na economia

Francisco José Cardoso*, in Jornal de Notícias

Economista alerta que, apesar de uma certa recuperação, ainda é preciso "algum cuidado"

Em mais um Encontro Millennium, do BCP, desta vez no Funchal, o economista Daniel Bessa, orador convidado da iniciativa, defendeu a necessidade de uma certa cautela quando se fala em retoma da economia nacional.

Actual director-geral da COTEC Portugal - Associação Empresarial para a Inovação, Daniel Bessa salientou que, apesar de os indicadores que, desde Março de 2009, têm dado sinais de recuperação, inclusive o PIB (Produto Interno Bruto), no "verde" desde o início do 4.º trimestre, avisou: "Prognósticos só no fim do jogo".

E passou a explicar: "Há muita especulação sobre o que pode seguir, mas o facto é que a economia está em alguma recuperação, que ainda não atingiu o emprego, mas que já chegou ao PIB. Dito isto, vamos moderar as expectativas".

Daniel Bessa foi claro ao afirmar que é preciso "algum cuidado". E exemplificou com as perspectivas da procura: "Em 2010, o consumo privado na União Europeia deverá ser menor do que em 2009. O mesmo deverá acontecer com o investimento privado (famílias e empresas), tanto na UE como nos Estados Unidos".

Para o ex-ministro da Economia (entre 1995 e 1996), as actuais medidas institucionais à economia, principalmente à banca, que contribuíram para aumentar os défices públicos em quase todas as economias, e as previsões de melhoria da procura em 2010, praticamente assegurada pela despesa pública, "não é boa notícia". E justificou: "Porque cedo ou tarde esses estímulos terão que ser retirados. Achava eu que não haveria problemas com o défice português em 2010, que não viriam grandes orientações de Bruxelas, mas parece que há indicações que é preciso começar a travar o défice".

Daniel Bessa não acredita que, só por si, Portugal consiga baixar novamente o défice aos 3%, como prometeu o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos. "Ele diz que vamos tratar disso e que lá para 2013 estaremos outra vez nos eixos, mas provavelmente isto não chegará e é provável que alguém exija acção mais concreta e determinada mais cedo", prognosticou.

Reforçou a sua ideia no que toca a esta temática, ao lembrar que os bancos centrais "continuam muito activos em emprestar dinheiro aos bancos e até 'curto-circuitando' os bancos comerciais, emprestando directamente às grandes empresas", lembra. Bessa apelou ao Governo para que não cometa o erro de apostar na procura interna em detrimento do aumento da exportação, que será possivelmente a salvação da economia nacional.