Ana Peixoto Fernandes, in Jornal de Notícias
Segundo o secretário internacional da organização sindical Comissões Obreiras (CCOO), Javier Dongil, esta disparidade ao nível dos custos laborais revela bem as diferenças salariais entre os dois lados da fronteira e que somadas a outras questões como o IVA mais baixo do lado de lá, conferem um poder de compra significativamente maior aos espanhóis.
A diferença nota-se, desde logo, nos quase 200 euros a mais do salário mínimo praticado em Espanha e que ainda assim quase nenhuma entidade patronal se limita pagar. Ou seja, os ordenados são quase sempre superiores a esse valor, sendo que apenas alguns profissionais dos sectores mais baixos, como empregadas domésticas e aprendizes de profissão, os auferem. Por outro lado, segundo Dongil, no país vizinho as tabelas salariais são definidas através de convénios sectoriais, o que atira os valores base quase sempre para cima.
O sector têxtil constitui um dos exemplos da divergência dos salários praticados nos dois países. "O salário mínimo no sector têxtil em Galiza é de mais 750 euros e em Portugal fica-se por pouco mais e 400 euros [450 euros]", revela, referindo a propósito que de uma forma geral "o custo laboral é da ordem dos 20% acima na Galiza". "É uma média feita sobre os salários de todos os sectores por comparação com os de Portugal", afirma Javier Dongil.
Ainda segundo dados fornecidos por este dirigente, que também é membro do Comité Sindical Inter-regional (CSI) Portugal/Galiza, na Galiza um professor catedrático ganha em média 2500 euros (35 446,42 euros/ano) e um do secundário anda muito próximo disso (33 043,61 euros/ano). Já um médico de clínica gera aufere um salário base de 2775 euros, mais um complemento fixo de 1.088 euros mês, e um enfermeiro tem um salário base de 1843 euros e um complemento mensal fixo de 418 euros. Na construção civil os salários oscilarão entre 1000 e 1500 euros.
As disparidades são fáceis de encontrar, nomeadamente a nível dos bens essenciais (ver exemplo na caixa de números).
Os gastos que as entidades patronais têm, actualmente, com cada um dos seus trabalhadores em Espanha são em média 20% superiores aos dos dispendidos em Portugal. A distância nos salários coloca Espanha muito acima de Portugal.