Pedro Araújo, in Jornal de Notícias
Contratação colectiva permitiu ganho no poder de compra de 3,5% em 2009, mas baixará 50%.
De Janeiro a Novembro passado, 1 278 577 trabalhadores foram cobertos por convenções colectivas que, em média, previam um aumento salarial de 2,7% e uma duração de 16,6 meses. Ganho obtido no poder de compra será atenuado durante este ano.
Os dados oficiais são da Direcção-Geral de Emprego e das Relações de Trabalho e mostram que o universo coberto pelas convenções colectivas está em perda relativamente ao período Janeiro-Novembro de 2008, altura em que mais de 1,6 milhões de trabalhadores já tinha acordado aumentos em torno de 3% - o ano fecharia com ganho salarial médio de 3,1%. No ano passado, o ganho de poder de compra foi de apenas 0,5%, uma vez que a inflação média de 2008 foi de 2,6%.
Quanto a 2009, as contas são bem diferentes. Nos 11 meses em causa, houve uma "perda" homóloga de 370 751 trabalhadores e o aumento médio dos salários ficou--se pelos 2,7% (variação anualizada), beneficiando contudo de uma inflação média de -0,8%. Ou seja, os trabalhadores que foram assinando acordos salariais desde o início do ano beneficiaram de uma quebra de preços quase contínua ao longo de 2009. Contas feitas, o ganho médio do poder de compra foi de 3,5%.
Pior perspectiva terá esse mesmo universo de 1,2 milhões de trabalhadores por conta de outrem em 2010. Uma vez que a vigência média dos respectivos acordos salariais se alonga ou até ultrapassa os 12 meses (16,6 meses), é com esse mesmo ganho no vencimento que terão de se bastar em 2010, aguentando a previsível subida de preços.
Nessa matéria, há três cenários: a OCDE refere +0,7%, o FMI +1%, enquanto o Banco de Portugal e a Comissão Europeia afinam pelos +1,3%. Se optarmos pelo cenário intermédio (+1%), os 2,7% de aumento médio no salário equivalem a um ganho de poder de compra na ordem de 1,7%. Ou seja, metade do ganho de poder de compra obtido, em 2009, perder-se-á em 2010.
A maioria dos trabalhadores viu o seu salário actualizado nos segundo (302 437) e terceiro (365 943) trimestres, sendo que a vigência média foi de 12,5 e 14,8 meses, respectivamente. Cingindo-nos ao terceiro trimestre, altura em que um maior número de trabalhadores viu o seu salário aumentado, o sector da "agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca" foi aquele que registou maior evolução: +4,9% (variação anualizada), mas com pouco impacto na massa salarial do país, uma vez que estamos a falar de 10 711 trabalhadores.
Ainda no 3.º trimestre, a indústria transformadora beneficiou de um aumento médio salarial de 1,9%, abarcando 148 763 trabalhadores. Seguiu-se o sector das actividades de "saúde humana e apoio social", com 71 115 trabalhadores a beneficiar de um aumento de 3,2%.
Segundo o Boletim Económico de Outono do Banco de Portugal, o crescimento das remunerações por trabalhador deverá situar-se em cerca de 3,5%, reflectindo nomeadamente a actualização da tabela salarial do sector das administrações públicas em 2,9% e o aumento do salário mínimo nacional em 5,6%.