Virgínia Alves, in Jornal de Notícias
Empresas receiam nova quebra na actividade, a somar a um ano com números muito baixos
As empresas do sector da construção têm uma visão pessimista para 2010, antevendo que o desemprego possa continuar a subir e atingir 95 mil trabalhadores, quando acabam de sair de mais um ano negro, com quebras homólogas superiores a 8%.
O desemprego no sector da construção tomou grandes proporções durante o ano de 2009, com cerca de 51 mil pessoas da área inscritas nos centros de emprego, ou seja, cerca de 30% do total dos desempregados no país. E, de acordo com a AECOPS - Associação de Empresas de Construção Obras Públicas e Serviços, "o desemprego será um dos maiores problemas a enfrentar em 2010".
Reis Campos, da ACCOPN - Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas, admite que possa chegar aos 95 mil trabalhadores (ver ficha).
Mas, a inexistência de trabalho não se limita ao sector, como frisou a Federação Portuguesa da Indústria da Construção e Obras Públicas (FEPICOP), recordando todos os outros sectores de actividade com os quais existem relações de interdependência, e que, por isso, o desemprego no sector arrasta consigo muitos outros.
Recuperação
Daí, insistirem que "a recuperação do sector" permitirá também "atenuar o desemprego nacional, o problema mais premente da economia". No entanto, defendem que essa recuperação depende muito da actuação do Governo.
"É necessário que sejam tomadas medidas, que sejam adjudicadas as obras calendarizadas, algumas começaram a ser adjudicadas no primeiro semestre de 2009, como foi o parque escolar, mas depois entrámos no calendário eleitoral e ficou tudo parado", referiu Reis Campos. E o "tudo" são as barragens, os parques de energia eólica, os edifícios previstos para o parque judicial, os hospitais e a reabilitação urbana, além do TGV e do aeroporto.
Apontadas algumas medidas que possam travar uma década de queda no sector, as associações lembram existirem outros entraves que irão perdurar por 2010, como "os atrasos nos pagamentos do Estado às empresas e a dificuldade na obtenção de crédito bancário", além da falta de investimento, privado ou público.
É que para a descida que se tem vindo a verificar desde 2002 no sector, pesam muito, nomeadamente, actividades de construção de habitação e não residencial.
"O investimento na construção de habitação e reabilitação diminuiu 11% em 2009. Em Portugal, ao contrário de outros países, como a França, não se investiu nesta área como uma medida anticrise", referiu Reis Campos.
E, acrescentou: "Os números são claros. Em 2009, não ultrapassámos os 30 mil fogos, ou seja, sete por mês, por concelho, quando em 2001 eram cerca de 120 mil fogos". A estes números soma ainda o facto de a actividade residencial no sector representar cerca de 38% do volume de trabalho, e à volta de 60% do número de trabalhadores. As obras públicas representam o restante (37 e 40%).