5.1.10

Liberalização provocou fuga de encomendas para a Ásia

in Diário de Notícias

Cinco anos após a abolição das quotas de importação sobre o têxtil e o vestuário, os empresários acusam a liberalização do comércio de provocar a fuga de encomendas para a Ásia e de ser a principal causa da crise vivida pelo sector.

"A liberalização desregrada provocou uma quebra significativa na produção da indústria comunitária", disse à Lusa o secretário-geral da Associação Nacional das Indústrias de Têxteis-Lar (ANITLAR).

Segundo Luís Ribeiro Fontes, "nos primeiros nove meses de 2009, a produção comunitária de produtos têxteis e de vestuário caiu cerca de 20 por cento, quando o consumo no retalho apenas teve uma quebra de 0,2 por cento", o que, acrescentou, "significa que os países asiáticos estão a ganhar posições".

O porta-voz da indústria de têxteis-lar, que exporta cerca de 80 por cento da sua produção, critica a ausência de reciprocidade e a falta de equidade nas regras que os países concorrentes estão obrigados a respeitar.

"Uma empresa portuguesa que vende para a Europa está sujeita a regras ambientais e sociais que elevam os custos de produção e os concorrentes asiáticos não estão obrigados a qualquer tipo de normas", acusa Ribeiro Fontes, reclamando ainda de ausência de reciprocidade, porque, diz, "há mercados que continuam a praticar taxas aduaneiras elevadíssimas".

Em declarações à Lusa, o director-geral da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) afirmou que "a abolição das quotas é um bom exemplo do que é a globalização desregulada", considerando que "estes cinco anos demonstram bem que o que foi implementado sem as necessárias precauções foi penalizador para a indústria portuguesa e europeia em geral".

Paulo Vaz realça que "não está contra a liberdade do comércio", mas, contrapõe, "esta liberalização não é justa, porque as nossas fronteiras estão abertas, mas, quando tentamos o sentido oposto, há vários entraves administrativos e elevadas taxas aduaneiras".

Passados cinco anos, o director-geral da ATP considera que a única mais-valia da liberalização do comércio foi obrigar a indústria nacional a subir na cadeia de valor, produzindo artigos de maior valor acrescentado, com recurso a novos materiais e tecnologias.

O presidente da Associação Nacional das Indústrias de Vestuário e Confecção (ANIVEC/APIV) considera que a quebra do consumo não estaria a ser tão sentida no sector se as fronteiras não tivessem sido abertas a países com os quais, diz, "é impossível competir".

"Quer o mercado português quer o europeu têm tido uma preocupação crescente com o consumidor, estando a ser impostas novas exigências em termos de produção, que ainda encarecem mais o produto e competimos com países que não têm qualquer obrigação desse género", explica Alexandre Pinheiro, que considera que cabe ao consumidor ser mais exigente na hora de comprar.

A 01 de Janeiro de 2005, a Organização Mundial de Comércio (OMC) pôs fim ao regime de quotas à importação que dominava o comércio de produtos têxteis e de vestuário, que vigorava há 40 anos, com a oposição de 71 associações empresariais de 38 países que alertavam para a ameaça da liberalização do comércio, sobretudo, a livre circulação de produtos importados da China.