9.7.10

"Aumento brutal de impostos" revela falta de solidariedade do Estado

in Jornal de Notícias

O antigo ministro das Finanças Bagão Félix defende que o "aumento brutal de impostos" em Portugal é revelador de uma falha na solidariedade do Estado para com as pessoas e empresas que tem de ser combatida.

"Não podemos, quando reduzimos a despesa, cortar naquilo que é a essência da vida das pessoas e manter absolutamente incólume o aparelho do Estado", sublinhou na quinta feira Bagão Félix, ao considerar que se a crise atual constitui "uma dificuldade é também uma oportunidade".

Em declarações aos jornalistas, antes de uma conferência sobre solidariedade que marcou o arranque das festas do Espírito Santo de Ponta Delgada, o antigo ministro acrescentou que, funcionando como o "verdadeiro imposto", a despesa não é toda igual.

"Uma coisa é despesa social -- aquela que se faz com desempregados, com reformados, com os doentes - e outra é a despesa do aparelho do Estado, que, por vezes, tem institutos a mais, empresas públicas a mais, conselhos de administração excessivos, vícios de contratação", considerou Bagão Félix.
Além de insistir na necessidade da manifestação da solidariedade de um Estado que se deve "dar ao respeito", sendo "contido e austero", o ex-ministro alertou para a necessidade no cenário actual de um comportamento solidário "de baixo para cima e não de cima para baixo".

"A certa altura, as pessoas começaram a pensar que a solidariedade passou a poder ser dispensada porque o Estado providenciava tudo, a solidariedade foi de algum modo nacionalizada", sustentou, insistindo na importância de um comportamento solidário entre gerações.

Para Bagão Félix, "uma das grandes falhas das sociedades contemporâneas é a diluição da solidariedade entre as diferentes gerações, entre os mais novos e os mais velhos".

"Os mais velhos, por vezes, gastam o que não podem, passando os encargos para as gerações que hão de vir, e as gerações mais novas, por vezes, desperdiçando a sabedoria dos mais velhos e dos que têm uma vivência a dar e a partilhar", advogou.