por João Cristóvão Baptista, in Diário de Notícias
Economia irá estagnar em 2011 e emprego cairá 0,7%. Problema de "interpretação" levou banco central a emitir esclarecimento sobre metas do défice orçamental.
O mercado de trabalho em Portugal continuará a sofrer os efeitos da crise em 2011. Segundo as previsões do Boletim de Outono do Banco de Portugal (BdP), o País deverá assistir à extinção de 35 mil empregos no próximo ano, uma contracção de 0,7%. De acordo com o documento divulgado ontem de manhã, que revê em alta o crescimento do PIB para este ano, a economia nacional irá estagnar em 2011. .. ou até entrar em recessão, já que muitas das últimas medidas de austeridade não estão contabilizadas.
A instituição liderada por Carlos Costa explica que a diminuição do emprego é uma implicação da estagnação económica e que "reflecte uma contracção do emprego no sector privado, assim como uma redução do número de efectivos da Administração Pública". O Banco de Portugal assinala ainda que é "particularmente marcante o facto de o emprego continuar a registar quedas consecutivas mais de um ano após o ponto mais baixo da recessão". E, no actual quadro de desaceleração da actividade económica, "não será de esperar uma inversão desta tendência no futuro próximo", adianta o banco central. Ou seja, o desemprego irá atingir novos máximos históricos.
Mais optimista que o FMI, a OCDE e o próprio Governo, o banco central prevê que, este ano, o produto interno bruto (PIB) deverá crescer 1,2%. Anteriormente previa um crescimento de 0,9% e o governo aponta para uma expansão de 0,7%. Contudo, para o próximo ano, a autoridade monetária calcula que a economia portuguesa registe um crescimento nulo (0,0%), quando no Boletim de Verão apontava para um avanço de 0,2%. E o cenário poderá até ser pior, já que "a actual projecção incorpora medidas de consolidação orçamental anunciadas em meados de Maio, mas não as medidas orçamentais anunciadas a 29 de Setembro, dado que ainda não cumprem plenamente os critérios acordados no âmbito dos exercícios de projecção do Eurosistema", explica o banco central.
A divulgação do Boletim de Outono acabou, todavia, por ficar marcada por um problema de "interpretação" no que diz respeito ao capítulo sobre a política orçamental.
No documento, o BdP recorda o pacote de austeridade apresentado por Teixeira dos Santos a 29 de Setembro e sublinha que "as medidas de carácter permanente, desde já bem especificadas, não parecem ser suficientes para garantir a prossecução do objectivo assumido para 2011 [redução do défice para 4,6% do PIB]", deixando assim antever a necessidade de adopção de novas medidas de austeridade. Mas, ao final da tarde, o Banco de Portugal emitiu um esclarecimento, sublinhando que nas suas contas entraram "apenas as medidas de política orçamental já aprovadas em termos legais, ou com elevada probabilidade de aprovação legislativa, e especificadas com detalhe suficiente". Ou seja, as medidas, afinal, são suficientes.
Curiosamente, embora também ainda não tenha sido concluída, a transferência do Fundo de Pensões da PT para o Estado - anunciada no fim de Setembro - é já apontada pelo banco central como a medida que permitirá ao Governo assegurar o cumprimento da meta do défice estabelecida para este ano.


