8.10.10

Desemprego vai continuar a subir "num futuro próximo"

Por Ana Rita Faria, in Jornal Público

Banco de Portugal aponta para estagnação da economia em 2011, mas sem ter em conta o impacto das novas medidas de corte do défice


Na melhor das hipóteses, a economia portuguesa vai estagnar no próximo ano. Esta visão optimista foi ontem apresentada pelo Banco de Portugal (BdP) no seu boletim eco- nómico de Outono. Contudo, a instituição não inclui nestas últimas projecções os efeitos das medidas de austeridade anunciadas na semana passada, que, admite, terão "um impacto contraccionista" . O consumo privado vai cair e o investimento também. Em sentido contrário seguirá o desemprego, que vai continuar a subir e, segundo o BdP, poderá atingir mais 35 mil pessoas no próximo ano.

"A taxa de desemprego aumentou para um novo máximo histórico em 2010, prosseguindo a tendência observada na última década", destaca o banco central no seu boletim de Outono. "No actual quadro de desaceleração da actividade económica, e dadas as perspectivas para a actividade e para o emprego, não será de esperar uma inversão desta tendência no futuro próximo", conclui.

O Banco de Portugal prevê mesmo que a estagnação da actividade económica leve a uma redução de 0,7 por cento do emprego no próximo ano, o que empurraria mais 35 mil pessoas para o desemprego. Mas, uma vez mais, fala-se aqui apenas das consequências de uma estagnação da economia. Uma vez contabilizado o impacto das novas medidas de austeridade, o cenário deve ser bem pior.

"Estas medidas, bem como outras que venham a revelar-se necessárias, enquadram-se num processo de consolidação orçamental que, apesar de favorável - e mesmo indispensável - ao crescimento da economia no médio e longo prazo, terá um impacto contraccionista no curto prazo", refere o BdP.

Segundo a instituição liderada por Carlos Costa, esse impacto será exacerbado pelos planos de consolidação lançados por outros países do euro, pela manutenção das taxas de juro num nível próximo de zero e pelas crescentes restrições de acesso ao crédito por parte das famílias e empresas. O banco central considera, por isso, que "os riscos da projecção são marcadamente descendentes no que se refere à actividade económica", deixando o caminho aberto à possibilidade de Portugal entrar em recessão no próximo ano.

No boletim de Outono, o BdP reviu em alta o crescimento para este ano (de 0,9 para 1,2 por cento), mas baixou as previsões para 2011. Em vez de um crescimento de 0,2 por cento, previsto no boletim de Verão, o banco central espera agora que a economia nacional estagne no próximo ano, devido à "conjugação de uma contracção da procura interna, a partir da segunda metade de 2010, com um abrandamento das exportações".

Recorde no desemprego

Contudo, à semelhança do que aconteceu com as previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgadas anteontem, não foi contabilizado o impacto do novo plano de consolidação orçamental, que inclui um corte de cinco por cento na massa salarial da função pública e um aumento do IVA para 23 por cento.

Nas suas projecções, o FMI apontava também para uma estagnação da economia, mas um dos directores da instituição, Jörg Decressin, veio já dizer que, com a nova dose de austeridade, Portugal vai entrar em recessão em 2011, contraindo 1,4 por cento. Ainda assim, o Governo mantém a sua previsão, que aponta para um crescimento de 0,5 por cento em 2011.

Quanto ao desemprego, o BdP não faz previsões sobre a taxa, mas o FMI avançou anteontem com um cenário negro: Portugal deverá bater um novo recorde na taxa de desemprego em 2011, atingindo os 10,9 por cento da população activa. A previsão do Governo é, uma vez mais, inferior: 10,1 por cento. Mas, segundo o FMI, o pior ainda está por vir. A instituição prevê que, em 2012, a taxa de desemprego atinja um novo máximo histórico: 11,6 por cento. Só a partir daí, o número de pessoas sem trabalho começará a diminuir.

Contudo, ao contrário da maioria dos outros países da zona euro, nem daqui a cinco anos Portugal terá eliminado o impacto que a crise e o reforço da consolidação orçamental tiveram no mercado laboral. Em 2015, Portugal será um dos três únicos países da moeda única (juntamente com a Áustria e a Grécia) a ter uma taxa de desemprego superior à de 2010. Todos os outros vão conseguir diminuir o número de pessoas sem trabalho.

Isso empurra Portugal para o lugar de terceiro país com pior taxa de desemprego em 2015 (10,8 por cento), depois da Espanha (15,3) e da Grécia (13,4). Este ano, Portugal estava "somente" em quinto, atrás de Espanha, Eslováquia, Grécia e Irlanda. Contudo, as previsões do FMI para o desemprego também não incluem o impacto que as novas medidas de corte do défice terão no mercado de trabalho, o que deixa antever um cenário ainda pior.