15.10.10

Fundação AMI alerta para aumento de pobreza

por Ana Cristina Pereira, in Jornal Público

Estamos a meio de Outubro e Ana Martins, directora do departamento de Acção Social da AMI (Assistência Médica Internacional), conhece "crianças que ainda não têm os livros escolares". Efeitos da pobreza, que alastra. No primeiro semestre, a AMI apoiou 7026 pessoas, mais do que nos 12 meses de 2005 ou 2006.

Sabe os números de cor. Repetiu-os ontem a todos quantos lhe ligaram, instigados por um alerta emitido pela fundação. Não são representativos da população portuguesa, mas funcionam como um "indicador de que as situações de pobreza continuam a crescer" em Portugal.

A estatística revela um crescimento de 26 por cento face a igual período de 2009. Muitos dos que, entre Janeiro e Julho, bateram às portas de um dos 12 centros Porta Amiga fizeram-no pela primeira vez: 2474. São desempregados, trabalhadores que não auferem mais do que o salário mínimo, beneficiários de pensões baixas, sobretudo. A subida maior nota-se entre a população sem-abrigo. No primeiro semestre, as equipas de rua da AMI apoiaram 113 pessoas - 54 em idêntico período do ano passado.

Não houve um reforço orçamental. E isso, reconhece Ana Martins, tem consequências: "Os géneros alimentares têm de ser divididos por mais pessoas. Cada vez temos menos coisas para distribuir e mais pessoas. Os clubes de emprego também têm cada vez menos propostas para apresentar a mais pessoas."

A situação agravou-se com as mudanças introduzidas a 1 de Agosto nas prestações sociais não contributivas, como o rendimento social de inserção, o subsídio social de desemprego ou o abono. Sem qualquer aumento de rendimento, famílias com filhos sofreram cortes no apoio aos materiais e às refeições escolares, exemplifica. A fórmula de cálculo alterou-se. Agora, apoios como viver numa habitação social contam como rendimento.