Isabel Teixeira da Mota, in Jornal de Notícias
Pedro Carneiro fundou e dirige a Orquestra de Câmara Portuguesa e prossegue uma prestigiada carreira internacional a solo
Depois de ouvir a Primeira Sinfonia de Beethoven pela Orquestra de Câmara Portuguesa, Richard Morrison, destacado crítico musical do britânico "The Times", exprimiu a sensação que viveu escrevendo: "Uma viagem de montanha-russa a transbordar de adrenalina, sob a direcção resplandecente de Pedro Carneiro."
A originalidade de Pedro Carneiro, 35 anos, é reconhecida internacionalmente, não só como director de orquestra, mas como solista: está entre os melhores percussionistas do mundo, considerado um virtuoso da marimba.
O projecto que o trouxe de volta a Portugal - a OCP - revela o quanto dessa originalidade se mantém viva. A OCP, criada em 2007, não é uma simples orquestra, é uma associação musical orientada para o serviço ao público. "Este projecto só seria possível se os nossos músicos tivessem uma consciência social muito forte e tomassem consciência de quão importante a arte pode ser", diz Pedro Carneiro.
Na OCP, composta por 36 membros entre os 18 e os 35 anos, "todos sabem que têm responsabilidades de voluntariado". Numa noite tocam no CCB, onde têm residência - abriram a temporada de música 2010/2011 no Grande Auditório e foram efusivamente aplaudidos -, no dia seguinte actuam num centro de acolhimento de deficientes. "Um músico não pode centrar-se apenas na pauta", afirma o maestro.
Pedro nasceu envolto em música. Filho de músico, seu pai, José Augusto Carneiro foi professor do Conservatório e primeiro trompetista da extinta Orquestra Sinfónica da RDP.
Na sua precoce irrequietude experimentou quase todos os instrumentos de orquestra, até se fixar no território instrumental da percussão. Hoje sente-se inspirado pelo maestro e pianista Daniel Barenboim, também filantropo.
Actualmente, à OCPSolidária Pedro Carneiro juntou outros dois projectos: a OCPZero, destinada a jovens músicos dos 14 aos 18 anos, para potenciar o seu talento (estão abertas inscrições até final de Outubro); e a OCPDois, destinada aos amadores de música, músicos reformados, clubes recreativos e associações locais.
Pedro Carneiro lamenta que em Portugal não existam redes de cidadania e sublinha que "enquanto não for feita uma aposta profunda na educação e na cultura, será difícil o desenvolvimento do trabalho artístico". "A única forma de eu estar em Portugal é sendo pró-activo", diz. E a OCP é claramente um acto de cidadania pró-activa.


