in Diário de Notícias
O número de pessoas sem-abrigo que pedem ajuda ao centro Porta Amiga da AMI em Almada é "significativo" e "tende a agravar-se" no actual contexto de crise do país, disse à Lusa a directora do centro.
O número de pedidos de ajuda ao centro Porta Amiga da organização não governamental AMI em Almada aumentou cerca de 30 por cento em relação ao ano passado. Até setembro de 2011 foram atendidas 1.322 pessoas. A diretora técnica do centro, Maria da Luz Cachapa, disse à agência Lusa que "este aumento vai ao encontro da tendência registada em todos os centros da AMI espalhados pelo país" e considerou-o "preocupante".
"O número de sem-abrigo é muito significativo. Embora seja semelhante ao do ano passado -- pouco abaixo dos 140 -- tende a aumentar dadas as cada vez mais frequentes situações de desemprego de longa duração", afirmou. Já entre 2009 e 2010 o centro registara uma subida de 900 para 1.268 pedidos de ajuda, mais de 150 feitos por pessoas com mais de 60 anos.
Maria da Luz Cachapa põe o desemprego e as carências alimentares no topo das suas preocupações: "O que acontece neste momento é que a chave para resolver os problemas da maioria das pessoas que nos procuram -- o emprego -- está cada vez mais difícil de encontrar", disse. "A classe média está fragilizada. Não estava habituada a poupar, tinha créditos. As pessoas chegam aqui endividadas, o que quer dizer que, a médio prazo, correm risco de desalojamento", acrescentou.
Quanto à ajuda alimentar, o Programa Comunitário de Ajuda a Carenciados (PCAAC), que fornece ao centro a maior parte dos alimentos distribuídos às famílias, está em risco devido a uma minoria de sete Estados membros que entendem que o serviço deve ser competência de cada país. Se a posição da Áustria, Dinamarca, Holanda, Suécia, Reino Unido, Alemanha e República Checa não se alterar, a partir de janeiro o orçamento do PCAAC será reduzido em dois terços, de 500 milhões para 113 milhões de euros.
Maria da Luz Cachapa não fez contas a quanto vai isso encurtar o que conseguem ajudar a pôr na mesa das famílias, mas antevê um cenário duro: "Se houver um corte no PCAAC teremos muito menos géneros para distribuir e os agregados familiares vão ficar muito prejudicados", afirmou. A AMI trabalha no Monte da Caparica, em Almada, desde 1996. Presta assistência básica -- refeições, roupeiro, géneros alimentares e balneário -- e técnica -- apoio social, psicológico, médico, de enfermagem e jurídico -- aos moradores dos bairros integrados no Plano Integrado de Almada.