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24.8.21

Apoio ao estudo só chega a 21% dos alunos com média negativa no 12.º ano

Natália Faria, in Público on-line

No 12.º ano, 38% dos alunos têm apoio ao estudo, segundo relatório da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência. Entre os alunos com notas entre os 18 e os 20 valores, 47% têm explicações. Já entre os que não passam dos nove valores, apenas 21% usufruem desse apoio. A maioria dos pais opta por pagar ao explicador fora da escola.

Os alunos do 12.º ano que mais recorreram ao apoio ao estudo no ano lectivo de 2018/19 (dentro da escola, mas sobretudo pagando a um explicador) são os que já tinham as melhores notas no ano lectivo anterior. No universo das escolas públicas e privadas, 47% dos alunos que chegaram ao 12.º ano com notas entre 18 e os 20 valores usufruíam desse apoio, segundo um relatório da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação (DGEEC). No outro extremo, entre os alunos com negativa, e que são em tese os que mais necessitariam desse complemento, apenas 21% beneficiavam de apoio ou explicações.

Contas feitas, o relatório em que a DGEEC se dedica a analisar a frequência de actividades complementares de apoio ao estudo no final do secundário ao longo de quatro anos lectivos (de 2014/15 a 2018/19) conclui que havia, em 2019, mais de 36 mil alunos do 12.º ano a frequentar explicações ou aulas de apoio, o equivalente a 38% do total de alunos que nessa altura frequentavam o último ano do percurso escolar obrigatório, quer em escolas públicas quer em privadas.


Na maior parte dos casos, o apoio ao estudo (mais procurado nas disciplinas de Matemática e Português) era assegurado fora dos portões da escola: em centros de explicações ou com recurso a explicadores particulares. E isto pode ajudar a explicar porque é que, do universo total de alunos do 12.º ano, apenas 21% dos que tinham negativa beneficiavam desse apoio complementar, contra 79% que não o faziam, ainda segundo o relatório, que precisa, além disso, que, entre os alunos com notas entre os 15 e os 17 valores, também 43% tinham explicações.

Se tomarmos como universo total os 38% de alunos do 12.º ano com direito a apoio ao estudo, as contas alteram-se, mas apenas para reforçar a conclusão de que os que mais necessitariam de apoio ao estudo são os que menos beneficiam dele. Do bolo total dos alunos com apoio, 0,1% apresentavam notas negativas, 54% tinham entre 10 e 14 valores na pauta de classificações, 37% entre 15 e 17 valores e os restantes 9% entre 18 e 20 valores. O que o relatório não explica é até que ponto o facto de apenas 0,1% dos alunos com explicações apresentar nota negativa decorre ou não do sucesso das próprias explicações.


Quanto às motivações dos estudantes com apoio, 34% referiram a necessidade de melhorar notas muito baixas e 27% a preparação para os exames, ao mesmo tempo que a melhoria de boas notas e a ajuda na organização ao estudo foram apontadas por 23% e 16% dos alunos, respectivamente. Sem surpresas, as motivações dos alunos variavam consoante os agregados familiares: a melhoria das notas muito baixas foi a razão apontada pelos alunos cuja escolaridade da família era mais baixa (85% dos alunos cuja famílias tinham escolaridade igual ou superior ao terceiro ciclo do ensino básico, face aos 66% que tinham o secundário ou superior) enquanto os filhos de pais com maior capital escolar recorreram ao apoio sobretudo para obterem ajuda na organização do estudo e assim melhorarem as boas notas, com o intuito de assegurarem a entrada num curso superior cuja média era elevada.

Mais apoio fora da escola

O relatório não inclui nem o efeito da pandemia nesta realidade de recurso sistemático às explicações nem o novo quadro curricular, que só chegou ao 12.º ano no ano lectivo de 2020/21. Por outro lado, os dados referem-se apenas aos alunos do 12º ano. Logo, não podem ser entendidos como representativos da totalidade do percurso escolar dos estudantes portugueses. Ainda assim, a DGEEC consegue colocar alguma luz sobre um mercado que movimenta acima dos 200 milhões de euros por ano e envolve aproximadamente 244 mil alunos portugueses, segundo o estudo mais recente feito em 2019 pela marca Ginásios da Educação Da Vinci, um franchising que opera em Portugal desde 2008, com 42 “escolas” que dão apoio a cerca de 5400 alunos por todo o país.

Numa balbúrdia em que se conjugam explicadores privados, centros de explicações, aulas de apoio, dentro e fora da escola, em casa do aluno ou do explicador ou ainda pela internet, há muito que os investigadores que se dedicam a este tema vinham reclamando do Ministério da Educação um estudo que permitisse caracterizar melhor a realidade. E, embora parcelar, este relatório permite concluir desde logo que a proporção de 38% dos alunos que recorrem a apoio ao estudo no 12.º ano se manteve constante ao longo dos quatro anos de escolaridade analisados. O que mudou foi a preferência pelo apoio ao estudo fora dos portões da escola, que aumentou dos 24% em 2014 para os 29% de 2019, ao mesmo tempo que o recurso ao apoio escolar garantido pelas próprias escolas baixou quatro pontos percentuais, de 12% para 8%.

Entre os 38% de alunos com apoio, a larga maioria (78%) frequentava explicações fora da escola. Destes, 58% preferiram em 2018/19 um explicador particular, embora a frequência de um centro de estudos ou explicações tenha aumentado sete percentuais ao longo dos quatro anos em análise. Passou de 35% em 2014/15 para os 42% de 2018/19.
Filhos de universitários: maioria tem explicações

Sem detectar grandes discrepâncias entre regiões, o estudo confirma que o apoio ao estudo é procurado quase exclusivamente (95%) pelos alunos que pretendem prosseguir estudos. E são precisamente os que querem entrar na universidade aqueles que mais privilegiaram as explicações fora da escola: 80%. Já entre os que tencionavam despedir-se da escola uma vez completado o 12.º ano a proporção dos que procuraram o apoio dentro da escola aumenta para os 50%.

Sem surpresas, a DGEEC concluiu também que quanto mais escolarizados são os agregados familiares maior é o recurso ao apoio ao estudo por parte dos alunos. Entre os filhos de pais com o ensino superior, 58% tinham explicações, numa proporção que desce para os 36% entre os filhos de pais com o secundário. Finalmente, entre os alunos cujos pais não foram além do 1.º ciclo do ensino básico e secundário, apenas 16% tinham apoio complementar.

Igualmente pouco surpreendente é a constatação de que foram os alunos filhos de famílias com poucos recursos que mais optaram pelas explicações ou apoio dentro da escola (47%), ao passo que, entre os filhos de universitários com direito a apoio, apenas 15% usufruíam daquele que era oferecido pela própria escola, optando os restantes 85% por pagar o apoio do seu bolso no mercado privado.

No ano lectivo de 2018/19, a grande maioria (92%) dos estudantes com apoio ao estudo frequentava cursos científico-humanísticos, contra os 8% que eram alunos de cursos profissionais. Na contraposição entre as escolas públicas e privadas, conclui-se que, entre os alunos de cursos científico-humanísticos de escolas públicas, 52% participavam em actividades complementares de apoio ao estudo, dez pontos percentuais abaixo dos 62% que frequentavam o mesmo curso, mas numa escola privada.

A maioria dos alunos (70%) usufruía de entre uma a três horas de apoio ao estudo, sobretudo a Matemática (metade dos alunos que procuram explicações fazem-no a esta disciplina) e a Português (22%).


3.3.21

Rede DLBC Lisboa dá apoio escolar a alunos do 7º ao 12º ano

Rafael Tomaz Albuquerque, in Público on-line

A associação criou a iniciativa “Apoio Escolar Online” na tentativa de reduzir assimetrias sociais existentes e possíveis impactos que confinamento pode causar nas actividades lectivas dos jovens

Na tentativa de responder às possíveis lacunas provenientes do ensino à distância, a Rede DLBC Lisboa – Associação para o Desenvolvimento Local da Base Comunitária de Lisboa lançou em Fevereiro uma nova campanha que pretende dar apoio educativo aos alunos que estão a ter aulas online.

De acordo com a associação, o projecto “Apoio Escolar Online”, que tem como lema “Ninguém pode ficar para trás”, pretende aliar a disponibilidade de adultos com competências nas disciplinas chave do 7º ao 12º ano de escolaridade, às necessidades dos alunos em risco de insucesso escolar agravado pelo menor suporte familiar em contexto de confinamento covid-19.

A rede DLBC Lisboa é uma federação de organizações que trabalha nos territórios do município de Lisboa, em particular sob os territórios mais carenciados. A rede tem cerca de duzentas organizações associadas – desde a Câmara Municipal de Lisboa, a várias universidades, à grande maioria das juntas de freguesia do concelho, passando pela Fundação Gulbenkian ou a Santa Casa da Misericórdia, bem como uma grande maioria de organizações de base local (associações de pais, associações de moradores, entre outros). A estrutura foi criada em 2015 e desde então constitui-se como uma entidade gestora de fundos europeus, como é o caso do Fundo Social Europeu (FSE) ou do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), no território de Lisboa, aplicando-os nas áreas da educação, emprego e inclusão.

Rui Franco, presidente da Rede DLBC Lisboa, confirmou ao PÚBLICO que o novo projecto pretende mobilizar explicadores voluntários para um “programa de apoio educativo online de grande escala”. A associação assegura que o programa é totalmente gratuito para os alunos e assegurará mecanismos de monitorização de qualidade e segurança.

De acordo com Rui Franco, os alunos inscritos serão divididos em grupos, no máximo de cinco estudantes, que serão atribuídos a um explicador voluntário. Cada grupo terá duas sessões semanais, sendo que cada explicador pode vir a ser responsável por três grupos.

O presidente da associação sublinha que, com recurso a financiamento já aprovado pelo FSE, cada voluntário irá receber uma compensação pecuniária no valor de cerca de 120 euros mensais.

Dependendo da quantidade e diversidade da procura dos alunos, bem como da oferta de voluntários, o presidente garantiu que a iniciativa poderá assegurar cerca de 200.000 horas de apoio educativo só para alunos da cidade de Lisboa, no presente ano lectivo. A associação já está em contactos com outras organizações espalhadas pelo país, com o intuito de expandir o programa para outras localidades. Assim, ainda não existe uma noção concreta do número de alunos que poderá vir a usufruir desta iniciativa, contudo, só no concelho de Lisboa poderão ser “20, 30, 40 mil” confirmou Rui Franco.

O presidente da associação focou ainda dois objectivos fulcrais a alcançar para que o projecto vá ao encontro das expectativas. Por um lado, a DLBC Lisboa está a “trabalhar com o departamento de educação da Câmara Municipal de Lisboa para que a plataforma online que a autarquia disponibilizou para alunos do 1º ciclo, seja adaptada para ser usada pelos alunos deste programa” (2º e 3ºciclos, ensino secundário). Deste modo, a iniciativa poderá contar com uma plataforma online gratuita que permita aos voluntários ter mais recursos pedagógicos e maior proximidade com os estudantes. Por outro lado, “em articulação com o Ministério da Direcção Regional de Educação e com os agrupamentos de escolas, pretende-se que cada grupo de alunos possa vir da mesma escola, e desejavelmente da mesma turma, de modo a que o explicador que vai acompanhar o estudo dos jovens se mantenha em articulação constante com o professor dos respectivos alunos”.

Os formulários de inscrição no programa já estão disponíveis para os alunos, podendo aceder a eles aqui. Para além das inscrições via online, a Rede DLBC Lisboa celebrou protocolos com os agrupamentos de escolas do concelho, de modo a que divulgação do projecto aos alunos possa acontecer com um maior dinamismo. Já os voluntários interessados em participar na iniciativa podem fazê-lo através deste link.

Todo o programa, assim como o processo de contratação dos voluntários, será da responsabilidade da Rede DLBC Lisboa, em articulação com a Câmara Municipal de Lisboa, o Programa Operacional Regional de Lisboa e o Ministério de Educação.

A iniciativa pretende assim disponibilizar um programa de auxílio educativo gratuito e online, que permita de algum modo colmatar as deficiências do ensino à distância, apoiando os alunos através de estudo conjunto, da realização de trabalhos de casa e do aprofundamento do programa indicado pelos professores, até ao final do presente ano lectivo e respectivas avaliações e exames.

Texto editado por Ana Fernandes