Natália Faria, in Público on-line
No 12.º ano, 38% dos alunos têm apoio ao estudo, segundo relatório da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência. Entre os alunos com notas entre os 18 e os 20 valores, 47% têm explicações. Já entre os que não passam dos nove valores, apenas 21% usufruem desse apoio. A maioria dos pais opta por pagar ao explicador fora da escola.
Os alunos do 12.º ano que mais recorreram ao apoio ao estudo no ano lectivo de 2018/19 (dentro da escola, mas sobretudo pagando a um explicador) são os que já tinham as melhores notas no ano lectivo anterior. No universo das escolas públicas e privadas, 47% dos alunos que chegaram ao 12.º ano com notas entre 18 e os 20 valores usufruíam desse apoio, segundo um relatório da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação (DGEEC). No outro extremo, entre os alunos com negativa, e que são em tese os que mais necessitariam desse complemento, apenas 21% beneficiavam de apoio ou explicações.
Contas feitas, o relatório em que a DGEEC se dedica a analisar a frequência de actividades complementares de apoio ao estudo no final do secundário ao longo de quatro anos lectivos (de 2014/15 a 2018/19) conclui que havia, em 2019, mais de 36 mil alunos do 12.º ano a frequentar explicações ou aulas de apoio, o equivalente a 38% do total de alunos que nessa altura frequentavam o último ano do percurso escolar obrigatório, quer em escolas públicas quer em privadas.
Na maior parte dos casos, o apoio ao estudo (mais procurado nas disciplinas de Matemática e Português) era assegurado fora dos portões da escola: em centros de explicações ou com recurso a explicadores particulares. E isto pode ajudar a explicar porque é que, do universo total de alunos do 12.º ano, apenas 21% dos que tinham negativa beneficiavam desse apoio complementar, contra 79% que não o faziam, ainda segundo o relatório, que precisa, além disso, que, entre os alunos com notas entre os 15 e os 17 valores, também 43% tinham explicações.
Se tomarmos como universo total os 38% de alunos do 12.º ano com direito a apoio ao estudo, as contas alteram-se, mas apenas para reforçar a conclusão de que os que mais necessitariam de apoio ao estudo são os que menos beneficiam dele. Do bolo total dos alunos com apoio, 0,1% apresentavam notas negativas, 54% tinham entre 10 e 14 valores na pauta de classificações, 37% entre 15 e 17 valores e os restantes 9% entre 18 e 20 valores. O que o relatório não explica é até que ponto o facto de apenas 0,1% dos alunos com explicações apresentar nota negativa decorre ou não do sucesso das próprias explicações.
Quanto às motivações dos estudantes com apoio, 34% referiram a necessidade de melhorar notas muito baixas e 27% a preparação para os exames, ao mesmo tempo que a melhoria de boas notas e a ajuda na organização ao estudo foram apontadas por 23% e 16% dos alunos, respectivamente. Sem surpresas, as motivações dos alunos variavam consoante os agregados familiares: a melhoria das notas muito baixas foi a razão apontada pelos alunos cuja escolaridade da família era mais baixa (85% dos alunos cuja famílias tinham escolaridade igual ou superior ao terceiro ciclo do ensino básico, face aos 66% que tinham o secundário ou superior) enquanto os filhos de pais com maior capital escolar recorreram ao apoio sobretudo para obterem ajuda na organização do estudo e assim melhorarem as boas notas, com o intuito de assegurarem a entrada num curso superior cuja média era elevada.
Mais apoio fora da escola
O relatório não inclui nem o efeito da pandemia nesta realidade de recurso sistemático às explicações nem o novo quadro curricular, que só chegou ao 12.º ano no ano lectivo de 2020/21. Por outro lado, os dados referem-se apenas aos alunos do 12º ano. Logo, não podem ser entendidos como representativos da totalidade do percurso escolar dos estudantes portugueses. Ainda assim, a DGEEC consegue colocar alguma luz sobre um mercado que movimenta acima dos 200 milhões de euros por ano e envolve aproximadamente 244 mil alunos portugueses, segundo o estudo mais recente feito em 2019 pela marca Ginásios da Educação Da Vinci, um franchising que opera em Portugal desde 2008, com 42 “escolas” que dão apoio a cerca de 5400 alunos por todo o país.
Numa balbúrdia em que se conjugam explicadores privados, centros de explicações, aulas de apoio, dentro e fora da escola, em casa do aluno ou do explicador ou ainda pela internet, há muito que os investigadores que se dedicam a este tema vinham reclamando do Ministério da Educação um estudo que permitisse caracterizar melhor a realidade. E, embora parcelar, este relatório permite concluir desde logo que a proporção de 38% dos alunos que recorrem a apoio ao estudo no 12.º ano se manteve constante ao longo dos quatro anos de escolaridade analisados. O que mudou foi a preferência pelo apoio ao estudo fora dos portões da escola, que aumentou dos 24% em 2014 para os 29% de 2019, ao mesmo tempo que o recurso ao apoio escolar garantido pelas próprias escolas baixou quatro pontos percentuais, de 12% para 8%.
Entre os 38% de alunos com apoio, a larga maioria (78%) frequentava explicações fora da escola. Destes, 58% preferiram em 2018/19 um explicador particular, embora a frequência de um centro de estudos ou explicações tenha aumentado sete percentuais ao longo dos quatro anos em análise. Passou de 35% em 2014/15 para os 42% de 2018/19.
Filhos de universitários: maioria tem explicações
Sem detectar grandes discrepâncias entre regiões, o estudo confirma que o apoio ao estudo é procurado quase exclusivamente (95%) pelos alunos que pretendem prosseguir estudos. E são precisamente os que querem entrar na universidade aqueles que mais privilegiaram as explicações fora da escola: 80%. Já entre os que tencionavam despedir-se da escola uma vez completado o 12.º ano a proporção dos que procuraram o apoio dentro da escola aumenta para os 50%.
Sem surpresas, a DGEEC concluiu também que quanto mais escolarizados são os agregados familiares maior é o recurso ao apoio ao estudo por parte dos alunos. Entre os filhos de pais com o ensino superior, 58% tinham explicações, numa proporção que desce para os 36% entre os filhos de pais com o secundário. Finalmente, entre os alunos cujos pais não foram além do 1.º ciclo do ensino básico e secundário, apenas 16% tinham apoio complementar.
Igualmente pouco surpreendente é a constatação de que foram os alunos filhos de famílias com poucos recursos que mais optaram pelas explicações ou apoio dentro da escola (47%), ao passo que, entre os filhos de universitários com direito a apoio, apenas 15% usufruíam daquele que era oferecido pela própria escola, optando os restantes 85% por pagar o apoio do seu bolso no mercado privado.
No ano lectivo de 2018/19, a grande maioria (92%) dos estudantes com apoio ao estudo frequentava cursos científico-humanísticos, contra os 8% que eram alunos de cursos profissionais. Na contraposição entre as escolas públicas e privadas, conclui-se que, entre os alunos de cursos científico-humanísticos de escolas públicas, 52% participavam em actividades complementares de apoio ao estudo, dez pontos percentuais abaixo dos 62% que frequentavam o mesmo curso, mas numa escola privada.
A maioria dos alunos (70%) usufruía de entre uma a três horas de apoio ao estudo, sobretudo a Matemática (metade dos alunos que procuram explicações fazem-no a esta disciplina) e a Português (22%).