Produto Interno Bruto português no segundo trimestre ficou apenas 3,4% abaixo do mesmo período de 2019. Despesas de consumo das famílias e das Administrações Públicas já ultrapassaram o patamar pré-crise, tal como o investimento. Mas as exportações, penalizadas pelo turismo, ainda contabilizam uma quebra superior a 15%
Perto de 1750 milhões de euros. Foi essa a distância a que o Produto Interno Bruto (PIB) português no segundo trimestre deste ano ficou do valor registado no mesmo período de 2019, ou seja, antes da crise pandémica. A diferença foi de apenas 3,4%, sinalizando que a economia portuguesa está perto de regressar ao patamar pré-crise. Mas, uma análise do Expresso aos dados publicados esta terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), mostram que a recuperação está a ser assimétrica. Na frente interna, o consumo das famílias e das Administrações Públicas já ficou no segundo trimestre acima do segundo trimestre de 2019. Também o investimento ultrapassou o patamar pré-crise. Mas, na frente externa, as exportações, penalizadas pelo turismo, ainda contabilizam perdas a dois dígitos.
Um crescimento histórico de 15,5% - o mais elevado desde pelo menos 1978. Foi assim o comportamento da economia portuguesa no segundo trimestre deste ano, beneficiando tanto do efeito de base - um ano antes Portugal enfrentou o primeiro confinamento geral para travar a pandemia de covid-19 e a atividade económica caiu a pique - como do impulso dado pela reabertura do país após o segundo confinamento geral no início de 2021.
Como resultado, o PIB atingiu 48,99 mil milhões de euros, ficando a cerca de 1750 milhões de euros de distância do valor do segundo trimestre de 2019. Em termos percentuais, a quebra foi de 3,4%.
Contudo, por trás destes números, estão velocidades de recuperação diferentes entre os vários componentes do PIB. Na frente interna predominam as boas notícias, mas na frente externa os dados são mais sombrios.
Os números do INE indicam que no segundo trimestre deste ano a procura interna em Portugal - consumo privado e público, bem como investimento - ficou 1,1% acima do registado no segundo trimestre de 2019.
As despesas de consumo final ultrapassaram o patamar pré-crise, com o valor do segundo trimestre a ultrapassar em 1,5% o do mesmo período de 2019. E tanto as famílias residentes no país (mais 0,6%), como as Administrações Públicas (mais 5,6%) consumiram acima do período homólogo de 2019.
Onde é que as famílias estão a gastar mais? Comparando as despesas de consumo final no segundo trimestre de 2021 e no mesmo período de 2019, conclui-se que houve um aumento de 7,1% nos bens alimentares. Já nos bens duradouros - automóveis, mobílias e computadores, entre outros bens - as despesas de consumo final das famílias ficaram praticamente em linha com 2019, com uma quebra muito ligeira de 0,5%. Por fim, nos bens correntes não alimentares e serviços, o patamar pré-crise ainda não foi atingido, mas por uma margem pequena (redução de 1%).
Passando para o investimento, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) é o indicador mais importante na análise e regista um crescimento de 2,8% entre o segundo trimestre de 2019 e o mesmo período deste ano. Mais ainda, todas as componentes da FBCP, com exceção do equipamento de transporte, estão acima do patamar pré-crise pandémica. Os incrementos são de 0,4% nos recursos biológicos cultivados, de 2,3% nas outras máquinas e equipamentos e sistemas de armamento, de 9,8% na construção, e de 0,6% nos produtos de propriedade intelectual. Em sentido inverso, como referido, a FBCF em equipamento de transporte contabiliza uma queda acentuada, de 29,6%.
TURISMO PENALIZA EXPORTAÇÕES
O cenário é diferente quando se analisa a frente externa da economia portuguesa. No segundo trimestre deste ano as exportações ficaram 15,3% abaixo do valor alcançado no mesmo período de 2019, muitos penalizadas pela componente dos serviços, onde o turismo tem um peso decisivo. De facto, os dados do INE mostram que, em termos reais, as exportações de bens ficaram perto do patamar pré-crise (quebra de 5,6% entre o segundo trimestre de 2019 e o mesmo período de 2021), mas nos serviços ainda estão muito longe desse nível (menos 36,1%). Até porque a retoma parcial que se tem sentido no sector do turismo tem sido conseguida sobretudo com turistas nacionais. Já o turismo internacional com destino a Portugal permanece débil.
Quanto às importações, ficaram 4,7% abaixo do patamar do segundo trimestre de 2019, com reduções de 2,6% nos bens e de 15,2% nos serviços.
Uma nota importante a ter em conta na evolução de exportações e importações em termos reais foi a deterioração dos termos de troca para Portugal, penalizando o contributo da frente externa para o PIB. O INE destaca que "no segundo trimestre de 2021, em termos homólogos, registou-se uma perda nos termos de troca, tendo o comportamento do deflator das importações sido influenciado, em larga medida, pelo crescimento pronunciado dos preços dos produtos energéticos".