12.8.21

Covid-19 mantém 475,5 mil pessoas a trabalhar em casa há mais de seis meses

Raquel Martins, in Público on-line

No segundo trimestre de 2021, um total de 717 mil pessoas estavam em teletrabalho, o que representa 14,9% da população empregada. Proporção reduziu-se face ao ano passado, mas é a terceira mais elevada desde o início da pandemia.

A pandemia da covid-19 obrigou a que milhares de trabalhadores deixassem o escritório para passarem a trabalhar a partir de casa e, no segundo trimestre de 2021, havia 475,5 mil pessoas nessa situação há pelo menos seis meses. Esta é uma das conclusões que se pode retirar dos dados divulgados nesta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), que dão conta de uma diminuição de pessoas a trabalhar fora do escritório e em regime de teletrabalho.

Entre Abril e Junho, o país iniciou um processo de desconfinamento. Embora a obrigatoriedade do teletrabalho se tivesse mantido, o alívio das restrições levou a uma redução do número de pessoas que trabalharam sempre ou quase sempre em casa, passando de quase um milhão, no primeiro trimestre do ano, para 740,7 mil no segundo trimestre.


Nesse universo, o INE dá conta de 607,3 mil pessoas empurradas para essa situação por causa da pandemia (as restantes 133,3 mil já trabalhavam em casa ou passaram a fazê-lo por outra razão que não a covid-19), das quais 475,5 mil encontravam-se nessa situação há seis ou mais meses, o que corresponde a uma proporção de 78,3%. No primeiro trimestre, a percentagem era de 48,2%, o que significa que houve um elevado número de trabalhadores que continuaram a desenvolver a sua actividade fora do escritório.

Isso aconteceu sobretudo na Área Metropolitana de Lisboa, sendo que a maioria das pessoas que estão há pelo menos seis meses a trabalhar no domicílio são homens (50,4%), têm 45 ou mais anos (41,6%), o ensino superior (72,9%) e trabalham nos serviços (87%).
Teletrabalho recuou e abrangeu 717 mil pessoas

No segundo trimestre assistiu-se a uma diminuição das pessoas em teletrabalho, resultado do alívio das restrições. Das 740,7 mil pessoas que entre Abril e Junho trabalharam sempre ou quase sempre fora do escritório, 717 mil estiveram em teletrabalho (ou seja, trabalharam a partir de casa com recurso a tecnologias da informação e comunicação), o que corresponde a um recuo de 25,9% em relação às 967,7 mil pessoas que estavam nesse regime no primeiros meses do ano, altura em que as escolas fecharam e o país se viu obrigado a confinar novamente.

Na prática, o teletrabalho abrangia 14,9% da população empregada, o que representa uma queda de 5,8 pontos percentuais face aos três primeiros meses do ano (quando a proporção atingiu os 20,7%) e de 7,6 pontos percentuais em comparação com o segundo trimestre de 2020 (22,6%), data que coincide com o início da pandemia em Portugal. Ainda assim, nota o INE, os 14,9% correspondem “à terceira proporção mais elevada deste indicador desde que começou a ser acompanhado há cinco trimestres”.

Os dados agora divulgados mostram que o teletrabalho se restringe a actividades e trabalhadores específicos e não tem uma distribuição uniforme pelo território, com mais de metade das pessoas abrangidas a viverem na Área Metropolitana de Lisboa (51,5%), no Norte (25,5%) e no Centro (15,6%), sendo muito incipiente nas restantes regiões.

Ao contrário do que aconteceu no primeiro trimestre, em que a maioria dos teletrabalhadores eram mulheres, agora a tendência alterou-se e 51,5% das pessoas em teletrabalho são homens. O INE não avança uma explicação para esta inversão, mas pode estar relacionada com o facto de o Governo ter aprovado legislação que reforça os apoios às famílias que partilham os cuidados das crianças durante o confinamento.

No segundo trimestre continua a predominar o teletrabalho entre as pessoas que completaram o ensino superior (72% do total) e que têm contratos sem termo (71,8%), desenvolvendo actividades intelectuais e científicas (55,3%).

O sector dos serviços representa 87,1% do teletrabalho, sendo que as actividades de informação e comunicação, as actividades de consultoria e científicas, a educação e a Administração Pública juntam mais de metade das pessoas que estavam em teletrabalho (52,4%).

O resultado do inquérito ao emprego do INE faz ainda uma análise à forma como os trabalhadores remotos desenvolvem a sua actividade através de computados e de smartphone, sendo que a maioria usa os dois equipamentos. Já a ligação à empresa é feita sobretudo com recurso a videoconferência, e-mail e a uma rede virtual privada (VPN). Com menor expressão surgem as “pastas partilhadas na nuvem” e outras aplicações.

O teletrabalho deixou de ser obrigatório a 1 de Agosto, passando a ser apenas recomendado em todo o território do continente.