Gilberto Igrejas, opinião, in JN
Na rota do futuro. É sempre possível!
Alguns aspetos sociológicos e culturais que nos definem enquanto portugueses justificam uma reflexão, considerando a presidência do Conselho da União Europeia e a celebração dos 35 anos de relação com a Europa.
Se, por um lado, conseguimos acompanhar os avanços que a vanguarda europeia nos impôs, por outro, preservámos traços identitários contraproducentes para o desenvolvimento social, económico ou cultural do país.
Portugal melhorou consistentemente diversos indicadores desde 1986, com a redução acentuada do abandono escolar, dos índices de pobreza, exclusão social e mortalidade infantil. Aumentou a esperança média de vida, tem melhor acesso à saúde e à educação. Tem uma geração jovem com formação académica de excelência, reconhecida internacionalmente. Os produtos, as empresas e as instituições portuguesas têm notoriedade no estrangeiro, e os nossos cidadãos são reconhecidos pelo seu profissionalismo, inovação e empreendedorismo.
Continuamos, no entanto, a preservar um sentimento de desconfiança em relação à qualidade das instituições, empresas, serviços ou produtos. O saudosismo e o conservadorismo social são características muito recorrentes. O que não se percebe, se atendermos à forma hábil e inteligente como os portugueses resolvem os conflitos políticos e defendem os direitos e liberdades de todos os cidadãos, de forma inclusiva. Essa forma de estar em sociedade faz de Portugal um exemplo de como é possível integrar na diferença, embora o povo português continue cético em relação ao seu valor e às suas capacidades.
A defesa e a promoção da marca Portugal devem começar a nível interno. O reconhecimento dos nossos valores deve partir de nós. O futuro da nossa economia, da nossa cultura, depende da nossa ação, promovendo e valorizando a profissionalização, o rigor, a entrega e a dedicação a causas e princípios. Enquanto sociedade moderna, de um universo ocidental pós-industrial, Portugal deve libertar-se de amarras do passado e assumir-se plenamente, e de vez, como a cabeça reflexiva da Europa tolerante, porque o futuro é agora.
Presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto