in Diário de Notícias
Matteo Renzi, primeiro-ministro eleito pelo Partido Democrático, de centro-esquerda, diz que continuar a humilhar a Grécia "é impensável".
O primeiro-ministro italiano Matteo Renzi disse que é preciso parar de "humilhar" a Grécia. "O bom senso tem de prevalecer e temos de alcançar um acordo. A Itália não quer que a Grécia abandone o euro e digo à Alemanha: já chega", disse em declarações ao jornal italiano Il Messaggero.
Renzi, primeiro-ministro eleito pelo Partido Democrático, de centro-esquerda, acrescentou que agora que o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras fez propostas em linha com as exigências europeias, é fundamental assinar um acordo. "Humilhar um parceiro europeu depois de a Grécia ter desistido de quase tudo é impensável", concluiu.
"Então é preciso que se faça até ao fim um esforço coletivo para chegar a um resultado que junte reformas concretas e urgentes na Grécia e o sentido de responsabilidade dos países europeus."
É esta a posição que o primeiro-ministro italiano tenciona transmitir esta tarde à chanceler alemã Angela Merkel na cimeira do euro, com início marcado para as 16:00 em Bruxelas (15.00 hora de Lisboa).
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13.7.15
22.3.13
Chipre. Bruxelas acendeu o fósforo num triângulo explosivo
Por António Ribeiro Ferreira, in iOnline
Rússia quer o gás natural cipriota. Mas a Turquia, que controla metade da ilha, está disposta a tudo para travar Nicósia e Moscovo
No sábado de madrugada, quando os ministros das Finanças do Eurogrupo discutiam arduamente os valores das taxas que iriam cobrar aos depositantes cipriotas para atingirem 5,8 mil milhões de euros de um resgate que não ultrapassava os 10 mil milhões, ninguém se terá lembrado que Chipre não é apenas uma pequena ilha perdida no Mediterrâneo com 800 mil habitantes e uma economia que vale 0,2% do PIB da zona euro? Os financeiros e os economistas que conduzem a União Europeia e a zona euro não terão tido tempo para estudar história, geografia ou um pouco de ciência política? E não estavam informados dos interesses económicos e estratégicos que têm Nicósia como epicentro? Tudo indica que não. A discussão centrava-se no castigo aos depositantes, particularmente os russos, que teriam cerca de 24 mil milhões de euros nos bancos cipriotas à beira da falência. E se os alemães diziam mata, com taxas de 18,5%, o FMI dizia esfola, com taxas impensáveis, que poderiam chegar aos 40%.
O presidente Anastasiades mediou a discussão e conseguiu impor um tecto de 9,9% e mais tarde alterou a proposta com a isenção para os depositantes com menos de 20 mil euros nos bancos. Tudo em vão. O parlamento cipriota rejeitou tudo sem um voto a favor e o ministro das Finanças, acompanhado pelo seu colega da Energia, partiu para Moscovo para renegociar a maturidade e a redução dos juros de um empréstimo de 2,5 mil milhões de euros concedido pela Rússia em 2011. E, claro, algo mais. Um mais que se chama gás natural e as enormes reservas que Chipre dispõe na sua plataforma continental.
200 MIL milhões de metros cúbicos Os especialistas da companhia norte-americana Noble anunciaram no final de 2011 a descoberta de 200 mil milhões de metros cúbicos da gás na plataforma continental, que valem qualquer coisa como 80 mil milhões de euros, algo muito interessante para os russos e para a Gazprom, o gigante do gás natural de Moscovo. Na quarta-feira saíram notícias que davam como certa uma oferta aliciante da Gazprom ao governo cipriota. Basicamente, os russos assumiam o valor do resgate necessário para os cipriotas resolverem os problemas financeiros da sua banca em troca dos direitos de exploração do gás natural. A companhia russa limitou-se a fazer um seco desmentido na altura em que os ministros cipriotas já iam a caminho de Moscovo, visita que irritou Angela Merkel, que telefonou ao presidente Anastasiades a lembrar-lhe que Chipre só podia negociar com o Eurogrupo. Mas, lembra o espanhol “El Mundo”, a Gazprom apresentou recentemente uma das melhores propostas na privatização da DEPA, empresa pública de gás da vizinha Grécia, irmã de sangue do Chipre grego.
40% das necessidades de gás da UE A quantidade de gás descoberta em Chipre representa 40% das necessidades anuais da União Europeia, que actualmente está completamente dependente do gás russo. Mas, como recorda o diário espanhol, ainda há muitas dúvidas quanto ao gás cipriota. A exploração só começará em 2015 e a sua produção e comercialização nunca serão possíveis antes de 2018.
A ameaça turca Mas há mais problemas. Um, grave, é a recusa da Turquia de exploração das reservas de gás natural porque não reconhece a soberania cipriota na zona continental. Tudo fruto da divisão da ilha entre cipriotas turcos e gregos na sequência do golpe de Estado de 1974 na ilha, que provocou num grave conflito armado entre Ancara e Atenas. A situação mantém-se desde então e nem a adesão de Chipre em 2004 à União Europeia e o facto de a Grécia e a Turquia integrarem a NATO foi ultrapassada na região. A recusa levou Ancara a ameaçar Nicósia em 2011 com o envio de navios de guerra se o governo cipriota iniciasse a exploração de gás na sua plataforma continental.
Ainda por cima, Nicósia está a estabelecer acordos com vários países vizinhos do Mediterrâneo, nomeadamente com Israel, para a partilha dos recursos naturais da referida plataforma. Segundo Nicósia, devem ser concretizados acordos semelhantes com o Egipto e o Líbano.
O velho Médio Oriente O caldo pode entornar-se muito rapidamente se a Rússia dá mesmo a mão a Nicósia e assume um papel de parceiro privilegiado da ilha. E isto porque Moscovo, apesar das relações de muitos anos com Chipre, olha para a Síria como seu aliado preferencial, ou quase único, no Médio Oriente. Com o regime de Damasco envolvido há dois anos numa guerra civil em que os turcos são os principais apoiantes dos rebeldes e Moscovo se mantém de pedra e cal ao lado de Damasco, a entrada em força dos russos no gás natural cipriota e mesmo no sistema financeiro da ilha são ameaças reais para a já de si frágil paz podre do Médio Oriente.
É por isso também que as reuniões de hoje e amanhã em Moscovo entre a Comissão Europeia e o governo russo ganham uma maior importância. A União Europeia, já irrelevante em matérias de política externa, nomeadamente no Médio Oriente, pode, com a crise cipriota, revelar mais uma vez a sua incapacidade de ser um grande parceiro mundial.
Rússia quer o gás natural cipriota. Mas a Turquia, que controla metade da ilha, está disposta a tudo para travar Nicósia e Moscovo
No sábado de madrugada, quando os ministros das Finanças do Eurogrupo discutiam arduamente os valores das taxas que iriam cobrar aos depositantes cipriotas para atingirem 5,8 mil milhões de euros de um resgate que não ultrapassava os 10 mil milhões, ninguém se terá lembrado que Chipre não é apenas uma pequena ilha perdida no Mediterrâneo com 800 mil habitantes e uma economia que vale 0,2% do PIB da zona euro? Os financeiros e os economistas que conduzem a União Europeia e a zona euro não terão tido tempo para estudar história, geografia ou um pouco de ciência política? E não estavam informados dos interesses económicos e estratégicos que têm Nicósia como epicentro? Tudo indica que não. A discussão centrava-se no castigo aos depositantes, particularmente os russos, que teriam cerca de 24 mil milhões de euros nos bancos cipriotas à beira da falência. E se os alemães diziam mata, com taxas de 18,5%, o FMI dizia esfola, com taxas impensáveis, que poderiam chegar aos 40%.
O presidente Anastasiades mediou a discussão e conseguiu impor um tecto de 9,9% e mais tarde alterou a proposta com a isenção para os depositantes com menos de 20 mil euros nos bancos. Tudo em vão. O parlamento cipriota rejeitou tudo sem um voto a favor e o ministro das Finanças, acompanhado pelo seu colega da Energia, partiu para Moscovo para renegociar a maturidade e a redução dos juros de um empréstimo de 2,5 mil milhões de euros concedido pela Rússia em 2011. E, claro, algo mais. Um mais que se chama gás natural e as enormes reservas que Chipre dispõe na sua plataforma continental.
200 MIL milhões de metros cúbicos Os especialistas da companhia norte-americana Noble anunciaram no final de 2011 a descoberta de 200 mil milhões de metros cúbicos da gás na plataforma continental, que valem qualquer coisa como 80 mil milhões de euros, algo muito interessante para os russos e para a Gazprom, o gigante do gás natural de Moscovo. Na quarta-feira saíram notícias que davam como certa uma oferta aliciante da Gazprom ao governo cipriota. Basicamente, os russos assumiam o valor do resgate necessário para os cipriotas resolverem os problemas financeiros da sua banca em troca dos direitos de exploração do gás natural. A companhia russa limitou-se a fazer um seco desmentido na altura em que os ministros cipriotas já iam a caminho de Moscovo, visita que irritou Angela Merkel, que telefonou ao presidente Anastasiades a lembrar-lhe que Chipre só podia negociar com o Eurogrupo. Mas, lembra o espanhol “El Mundo”, a Gazprom apresentou recentemente uma das melhores propostas na privatização da DEPA, empresa pública de gás da vizinha Grécia, irmã de sangue do Chipre grego.
40% das necessidades de gás da UE A quantidade de gás descoberta em Chipre representa 40% das necessidades anuais da União Europeia, que actualmente está completamente dependente do gás russo. Mas, como recorda o diário espanhol, ainda há muitas dúvidas quanto ao gás cipriota. A exploração só começará em 2015 e a sua produção e comercialização nunca serão possíveis antes de 2018.
A ameaça turca Mas há mais problemas. Um, grave, é a recusa da Turquia de exploração das reservas de gás natural porque não reconhece a soberania cipriota na zona continental. Tudo fruto da divisão da ilha entre cipriotas turcos e gregos na sequência do golpe de Estado de 1974 na ilha, que provocou num grave conflito armado entre Ancara e Atenas. A situação mantém-se desde então e nem a adesão de Chipre em 2004 à União Europeia e o facto de a Grécia e a Turquia integrarem a NATO foi ultrapassada na região. A recusa levou Ancara a ameaçar Nicósia em 2011 com o envio de navios de guerra se o governo cipriota iniciasse a exploração de gás na sua plataforma continental.
Ainda por cima, Nicósia está a estabelecer acordos com vários países vizinhos do Mediterrâneo, nomeadamente com Israel, para a partilha dos recursos naturais da referida plataforma. Segundo Nicósia, devem ser concretizados acordos semelhantes com o Egipto e o Líbano.
O velho Médio Oriente O caldo pode entornar-se muito rapidamente se a Rússia dá mesmo a mão a Nicósia e assume um papel de parceiro privilegiado da ilha. E isto porque Moscovo, apesar das relações de muitos anos com Chipre, olha para a Síria como seu aliado preferencial, ou quase único, no Médio Oriente. Com o regime de Damasco envolvido há dois anos numa guerra civil em que os turcos são os principais apoiantes dos rebeldes e Moscovo se mantém de pedra e cal ao lado de Damasco, a entrada em força dos russos no gás natural cipriota e mesmo no sistema financeiro da ilha são ameaças reais para a já de si frágil paz podre do Médio Oriente.
É por isso também que as reuniões de hoje e amanhã em Moscovo entre a Comissão Europeia e o governo russo ganham uma maior importância. A União Europeia, já irrelevante em matérias de política externa, nomeadamente no Médio Oriente, pode, com a crise cipriota, revelar mais uma vez a sua incapacidade de ser um grande parceiro mundial.
21.3.13
Merkel defende solução da União Europeia para Chipre
in Diário de Notícias
A chanceler alemã Angela Merkel defendeu hoje a necessidade de se encontrar uma solução para a crise no Chipre no quadro dos países da zona euro, após o Parlamento cipriota ter recusado as condições do plano de resgate proposto pela tróica.
Angela Merkel considerou um"dever" para os países da zona euro encontrarem uma solução para a crise em Chipre, tanto mais que o país integra o eurogrupo. "O Chipre é nosso parceiro na zona euro e, por isso, é nosso dever encontrar em conjunto uma solução", afirmou a chanceler em Berlim, após uma reunião do Governo alemão.
"Vamos agora analisar as propostas feitas pelo Governo cipriota à tróica (FMI-BCE e UE)", disse Merkel, recordando que o eurogrupo recuou na intenção de cobrar uma taxa sobre os depósitos inferiores a cem mil euros nos bancos cipriotas, ao contrário da proposta inicial que previa a aplicação de taxas sobre todos os depósitos, independentemente do seu montante.
Merkel sublinhou que "é importante, em termos políticos, o Chipre tenha no futuro um setor bancário seguro", disse a chanceler, sublinhando ser fundamental que a banca cipriota "contribua para tornar a dívida sustentável"
A chanceler alemã Angela Merkel defendeu hoje a necessidade de se encontrar uma solução para a crise no Chipre no quadro dos países da zona euro, após o Parlamento cipriota ter recusado as condições do plano de resgate proposto pela tróica.
Angela Merkel considerou um"dever" para os países da zona euro encontrarem uma solução para a crise em Chipre, tanto mais que o país integra o eurogrupo. "O Chipre é nosso parceiro na zona euro e, por isso, é nosso dever encontrar em conjunto uma solução", afirmou a chanceler em Berlim, após uma reunião do Governo alemão.
"Vamos agora analisar as propostas feitas pelo Governo cipriota à tróica (FMI-BCE e UE)", disse Merkel, recordando que o eurogrupo recuou na intenção de cobrar uma taxa sobre os depósitos inferiores a cem mil euros nos bancos cipriotas, ao contrário da proposta inicial que previa a aplicação de taxas sobre todos os depósitos, independentemente do seu montante.
Merkel sublinhou que "é importante, em termos políticos, o Chipre tenha no futuro um setor bancário seguro", disse a chanceler, sublinhando ser fundamental que a banca cipriota "contribua para tornar a dívida sustentável"
15.1.13
Presidente do Parlamento Europeu diz que UE gasta em coisas sem sentido
in Jornal de Notícias
O presidente do Parlamento Europeu reconheceu esta sexta-feira que a União Europeia nem sempre gasta dinheiro em coisas que façam sentido, salientando contudo que as verbas utilizadas no combate à crescente pobreza e exclusão social são bem gastas.
O social-democrata alemão Martin Schulz, que está a realizar uma visita oficial a Portugal, visitou esta sexta-feira o centro da Cais, em Lisboa, para conhecer o trabalho que esta associação de solidariedade social desenvolve junto das pessoas em situação de pobreza e exclusão social.
"Faço-vos esta visita porque, enquanto União Europeia, também prestamos uma contribuição ao vosso trabalho. A UE gasta muito dinheiro, nem sempre em coisas que façam sentido. O dinheiro que aqui gastamos é bem gasto", vincou o presidente do Parlamento Europeu.
Schulz reconheceu que Portugal enfrenta "graves problemas", mas garantiu que o país tem a solidariedade da UE para sair das dificuldades, um caminho que só pode ser percorrido se todos os países, ricos e pobres, "cooperarem juntos".
"Sou deputado de um país rico da Europa, mas o meu país [Alemanha] vende muitos dos seus produtos a Portugal. Se os portugueses estiverem nesta situação, não podem comprar os nossos produtos", frisou, acrescentando que a solidariedade para com Portugal é do interesse de todos, e "também dos países ricos".
O presidente do Parlamento Europeu incluiu a Cais, no roteiro da sua visita a Portugal, porque esta associação foi recentemente distinguida a nível internacional com o prémio "CESE - Civil Society Prize 2012", pelo Comité Económico e Social Europeu (CESE), entre outras organizações dos 27 estados membros da União Europeia.
Pela primeira vez atribuído a uma instituição portuguesa, este prémio reconheceu a Cais com o segundo lugar, pelos seus projetos de empregabilidade social, no âmbito do Programa CAHO - Capacitar Hoje, para pessoas desempregadas e em situação de pobreza extrema.
O presidente do Parlamento Europeu reconheceu esta sexta-feira que a União Europeia nem sempre gasta dinheiro em coisas que façam sentido, salientando contudo que as verbas utilizadas no combate à crescente pobreza e exclusão social são bem gastas.
O social-democrata alemão Martin Schulz, que está a realizar uma visita oficial a Portugal, visitou esta sexta-feira o centro da Cais, em Lisboa, para conhecer o trabalho que esta associação de solidariedade social desenvolve junto das pessoas em situação de pobreza e exclusão social.
"Faço-vos esta visita porque, enquanto União Europeia, também prestamos uma contribuição ao vosso trabalho. A UE gasta muito dinheiro, nem sempre em coisas que façam sentido. O dinheiro que aqui gastamos é bem gasto", vincou o presidente do Parlamento Europeu.
Schulz reconheceu que Portugal enfrenta "graves problemas", mas garantiu que o país tem a solidariedade da UE para sair das dificuldades, um caminho que só pode ser percorrido se todos os países, ricos e pobres, "cooperarem juntos".
"Sou deputado de um país rico da Europa, mas o meu país [Alemanha] vende muitos dos seus produtos a Portugal. Se os portugueses estiverem nesta situação, não podem comprar os nossos produtos", frisou, acrescentando que a solidariedade para com Portugal é do interesse de todos, e "também dos países ricos".
O presidente do Parlamento Europeu incluiu a Cais, no roteiro da sua visita a Portugal, porque esta associação foi recentemente distinguida a nível internacional com o prémio "CESE - Civil Society Prize 2012", pelo Comité Económico e Social Europeu (CESE), entre outras organizações dos 27 estados membros da União Europeia.
Pela primeira vez atribuído a uma instituição portuguesa, este prémio reconheceu a Cais com o segundo lugar, pelos seus projetos de empregabilidade social, no âmbito do Programa CAHO - Capacitar Hoje, para pessoas desempregadas e em situação de pobreza extrema.
19.10.12
Portugueses e espanhóis precisam de "uma perspectiva que não seja apenas a da austeridade"
Por Alexandre Martins, in Público on-line
O Presidente francês, François Hollande, dirigiu-se "aos espanhóis e aos portugueses, que estão a pagar caro por desavenças de outros". "Chegou a hora de lhes dar uma perspectiva que não seja apenas a da austeridade”, defendeu numa entrevista concedida no Palácio do Eliseu a seis jornais europeus.
No encontro com os jornalistas, Hollande declarou que “não é possível, para o bem comum, impor uma prisão perpétua a algumas nações que já fizeram sacrifícios consideráveis, se os seus povos não vêem, em momento algum, os resultados desses esforços”.
“Estou convencido de que, se não dermos um novo alento à economia europeia, as medidas de disciplina, por muito desejáveis que sejam, não poderão traduzir-se em nada”, sublinhou o Presidente francês. A frase que proferiu para rematar esta parte da entrevista pode mesmo vir a tornar-se num novo slogan: “A ameaça da recessão é hoje tão importante como a ameaça dos défices!”
União política a discutir após as eleições europeias de 2014
François Hollande diz ser uma evidência que a União Europeia de hoje não pode funcionar da mesma forma que funcionou no início da década de 1960 e defende “uma Europa a várias velocidades”, com o objectivo final de uma maior integração política.
“Nessa época havia seis países, depois oito, depois 12. Hoje somos 27 e seremos 28, com a Croácia. Ao mudar de dimensão, a Europa mudou também de modelo. A minha postura é a de uma Europa que avance a várias velocidades, com círculos diferentes. Podemos chamar-lhes a vanguarda, os Estados precursores, o núcleo duro, isso não importa. O que importa é a ideia”, afirmou o Presidente francês.
Hollande afirma mesmo que a União Europeia moderna – a Europa da moeda única – “requer uma nova forma de governar” e “deve assumir uma dimensão política”.
“Defendo que o Eurogrupo, que reúne os ministros das Finanças, reforce os seus poderes; que o presidente do Eurogrupo tenha um mandato reconhecido, claro e suficientemente longo. Defendo também – e já o disse aos meus colegas da Zona Euro – uma reunião mensal de todos os chefes de Estado e de Governo desses países. Acabemos com essas cimeiras ‘de desesperados’, essas cimeiras ‘históricas’, que no passado não alcançaram nada mais do que êxitos efémeros”, afirmou o Presidente francês.
Terá chegado, então, o momento de se avançar para uma verdadeira união política? Para Hollande, ainda não: “A união política virá depois, é uma etapa que se seguirá à união dos orçamentos, à união bancária, à união social. Será um marco democrático para o que alcançarmos em matéria de integração social.”
O processo de construção de uma união política pode não ser para já, mas Hollande não vê que se possa esperar muito mais tempo, pelo que aponta para “depois das eleições europeias de 2014”. “Esse é o momento para mobilizar os cidadãos e para elevar os índices de participação em torno de um debate sério, o do futuro da Europa”, defende.
Na entrevista, François Hollande afirma também que já é altura de “deixar de pensar que só há um país a pagar por todos os outros”, em resposta a uma pergunta sobre a acção política da Alemanha de Angela Merkel. “A solidariedade é uma coisa de todos, não apenas dos alemães! É dos franceses, dos alemães e de todos os europeus. Deixemos de pensar que só há um país a pagar por todos os outros. Isso não é verdade”, afirmou o Presidente francês.
Mas Hollande faz questão de sublinhar que compreende o ponto de vista alemão. “Estou consciente da sensibilidade dos nossos amigos alemães perante a dívida. Quem paga deve controlar, quem paga deve sancionar”, embora “a união orçamental deva ser alcançada mediante a mutualização parcial das dívidas, através dos eurobonds”, conclui.
Nobel da Paz à UE é “uma homenagem e um apelo”
Para François Hollande, o pior que pode acontecer à União Europeia é que os europeus desistam dela. À pergunta “Qual é a maior
ameaça que pesa sobre a Europa?”, o Presidente francês responde: “A de já não a querermos. A de a considerarmos, no melhor dos casos, uma mera janela que procuramos, uns em busca de fundos estruturais, outros de política agrícola, outros em busca de um cheque e, no pior dos casos, um reformatório.”
Por isso, os líderes europeus têm de “dar sentido ao seu projecto e eficácia às suas decisões”. Ainda assim, afirma Hollande, “a União Europeia continua a ser a mais bela aventura do nosso continente. É a principal potência económica mundial, um espaço político de referência, um modelo social e cultural”.
Daí considerar que a atribuição do Nobel da Paz à União Europeia é, “ao mesmo tempo, uma homenagem e um apelo”. A homenagem é para “os pais fundadores, por terem sido capazes de construir a paz depois da carnificina”. E o apelo é para “os governantes actuais, para que tenham consciência de que é fundamental reagir”.
O Presidente francês termina com a convicção de que a crise da Zona Euro “já passou”, mas admite que “o melhor ainda não chegou”. Depois da “saída da crise da Zona Euro”; de garantir que a Grécia vai continuar a fazer parte desse grupo; de garantir um “financiamento razoável” aos países “que têm feito as reformas exigidas”; e de “pôr em marcha a união bancária”, faltará construir uma nova União Europeia: “Poderemos então discutir a mudança do nosso modo de tomar decisões e aprofundar a nossa união. Será essa a nossa principal tarefa para o início de 2013.”
Entrevista concedida aos jornais Le Monde (França), The Guardian (Reino Unido), El País (Espanha), Gazeta Wyborcza (Polónia), La Stampa (Itália) e Süddeutsche Zeitung (Alemanha).
O Presidente francês, François Hollande, dirigiu-se "aos espanhóis e aos portugueses, que estão a pagar caro por desavenças de outros". "Chegou a hora de lhes dar uma perspectiva que não seja apenas a da austeridade”, defendeu numa entrevista concedida no Palácio do Eliseu a seis jornais europeus.
No encontro com os jornalistas, Hollande declarou que “não é possível, para o bem comum, impor uma prisão perpétua a algumas nações que já fizeram sacrifícios consideráveis, se os seus povos não vêem, em momento algum, os resultados desses esforços”.
“Estou convencido de que, se não dermos um novo alento à economia europeia, as medidas de disciplina, por muito desejáveis que sejam, não poderão traduzir-se em nada”, sublinhou o Presidente francês. A frase que proferiu para rematar esta parte da entrevista pode mesmo vir a tornar-se num novo slogan: “A ameaça da recessão é hoje tão importante como a ameaça dos défices!”
União política a discutir após as eleições europeias de 2014
François Hollande diz ser uma evidência que a União Europeia de hoje não pode funcionar da mesma forma que funcionou no início da década de 1960 e defende “uma Europa a várias velocidades”, com o objectivo final de uma maior integração política.
“Nessa época havia seis países, depois oito, depois 12. Hoje somos 27 e seremos 28, com a Croácia. Ao mudar de dimensão, a Europa mudou também de modelo. A minha postura é a de uma Europa que avance a várias velocidades, com círculos diferentes. Podemos chamar-lhes a vanguarda, os Estados precursores, o núcleo duro, isso não importa. O que importa é a ideia”, afirmou o Presidente francês.
Hollande afirma mesmo que a União Europeia moderna – a Europa da moeda única – “requer uma nova forma de governar” e “deve assumir uma dimensão política”.
“Defendo que o Eurogrupo, que reúne os ministros das Finanças, reforce os seus poderes; que o presidente do Eurogrupo tenha um mandato reconhecido, claro e suficientemente longo. Defendo também – e já o disse aos meus colegas da Zona Euro – uma reunião mensal de todos os chefes de Estado e de Governo desses países. Acabemos com essas cimeiras ‘de desesperados’, essas cimeiras ‘históricas’, que no passado não alcançaram nada mais do que êxitos efémeros”, afirmou o Presidente francês.
Terá chegado, então, o momento de se avançar para uma verdadeira união política? Para Hollande, ainda não: “A união política virá depois, é uma etapa que se seguirá à união dos orçamentos, à união bancária, à união social. Será um marco democrático para o que alcançarmos em matéria de integração social.”
O processo de construção de uma união política pode não ser para já, mas Hollande não vê que se possa esperar muito mais tempo, pelo que aponta para “depois das eleições europeias de 2014”. “Esse é o momento para mobilizar os cidadãos e para elevar os índices de participação em torno de um debate sério, o do futuro da Europa”, defende.
Na entrevista, François Hollande afirma também que já é altura de “deixar de pensar que só há um país a pagar por todos os outros”, em resposta a uma pergunta sobre a acção política da Alemanha de Angela Merkel. “A solidariedade é uma coisa de todos, não apenas dos alemães! É dos franceses, dos alemães e de todos os europeus. Deixemos de pensar que só há um país a pagar por todos os outros. Isso não é verdade”, afirmou o Presidente francês.
Mas Hollande faz questão de sublinhar que compreende o ponto de vista alemão. “Estou consciente da sensibilidade dos nossos amigos alemães perante a dívida. Quem paga deve controlar, quem paga deve sancionar”, embora “a união orçamental deva ser alcançada mediante a mutualização parcial das dívidas, através dos eurobonds”, conclui.
Nobel da Paz à UE é “uma homenagem e um apelo”
Para François Hollande, o pior que pode acontecer à União Europeia é que os europeus desistam dela. À pergunta “Qual é a maior
ameaça que pesa sobre a Europa?”, o Presidente francês responde: “A de já não a querermos. A de a considerarmos, no melhor dos casos, uma mera janela que procuramos, uns em busca de fundos estruturais, outros de política agrícola, outros em busca de um cheque e, no pior dos casos, um reformatório.”
Por isso, os líderes europeus têm de “dar sentido ao seu projecto e eficácia às suas decisões”. Ainda assim, afirma Hollande, “a União Europeia continua a ser a mais bela aventura do nosso continente. É a principal potência económica mundial, um espaço político de referência, um modelo social e cultural”.
Daí considerar que a atribuição do Nobel da Paz à União Europeia é, “ao mesmo tempo, uma homenagem e um apelo”. A homenagem é para “os pais fundadores, por terem sido capazes de construir a paz depois da carnificina”. E o apelo é para “os governantes actuais, para que tenham consciência de que é fundamental reagir”.
O Presidente francês termina com a convicção de que a crise da Zona Euro “já passou”, mas admite que “o melhor ainda não chegou”. Depois da “saída da crise da Zona Euro”; de garantir que a Grécia vai continuar a fazer parte desse grupo; de garantir um “financiamento razoável” aos países “que têm feito as reformas exigidas”; e de “pôr em marcha a união bancária”, faltará construir uma nova União Europeia: “Poderemos então discutir a mudança do nosso modo de tomar decisões e aprofundar a nossa união. Será essa a nossa principal tarefa para o início de 2013.”
Entrevista concedida aos jornais Le Monde (França), The Guardian (Reino Unido), El País (Espanha), Gazeta Wyborcza (Polónia), La Stampa (Itália) e Süddeutsche Zeitung (Alemanha).
12.10.12
Crise seria menor se mulheres tivessem mais poder, defende vice-presidente da CE
in Público on-line
A vice-presidente da Comissão Europeia Viviane Reding acredita que, se mais mulheres tivessem poder de decisão nas instituições financeiras e económicas, menos erros teriam sido cometidos, evitando uma crise com a dimensão da actual.
Questionada pela agência Lusa sobre os efeitos que uma liderança mais equilibrada entre homens e mulheres poderia ter tido na dimensão da crise económico-financeira que a zona euro atravessa, a responsável europeia, que participa no Fórum de Mulheres, a decorrer em Deauville, na região francesa da Normandia, apoiou-se em estudos que concluíram que, se houvesse mais mulheres nos cargos de decisão, menos riscos imprudentes teriam sido corridos, mais perguntas teriam sido feitas e menos erros teriam sido cometidos.
Em conferência de imprensa à margem do Fórum de Mulheres, que dura até sexta-feira e tem, nesta oitava edição, um foco sobretudo económico, aproveitou ainda para manifestar a sua desilusão com o que se passa nos bancos centrais, liderados exclusivamente por homens.
A actual gestão do Banco Central Europeu não é saudável, criticou, esperando que as instituições financeiras europeias que venham a ser desenvolvidas no futuro dêem uma oportunidade ao talento feminino disponível.
Viviane Reding, também comissária europeia da Justiça, está a trabalhar numa proposta de directiva que imporá um sistema de quotas para os conselhos de administração (não executivos) das empresas de todos os estados-membros, que passariam a ter de incluir 40% de mulheres.
Este sistema de quotas aplicar-se-á apenas às situações em que homens e mulheres tenham as mesmas qualificações e capacidades. Ou seja, face a candidatos em igualdade de circunstâncias, a escolha recairia sobre a pessoa do sexo sub-representado no mundo actual, uma mulher.
É uma questão de garantir o acesso e as mesmas oportunidades, resume Reding. As mais importantes escolas de negócios do mundo forneceram-lhe um número que ela não se cansa de utilizar: há oito mil mulheres com qualificações e capacidades à espera de serem chamadas.
A proposta de quotas, ainda em fase inicial, alerta a comissária, já desencadeou uma forte rejeição de nove estados-membros, liderados pelo Reino Unido, que se opõem às quotas.
Reconhecendo ter ficado desiludida com a reacção ideológica a um documento que ainda nem sequer está concluído, Reding garante que não deixará cair a proposta e acredita que o bom senso acabará por prevalecer.
A comissária explicou que a quota não é um fim mas uma ferramenta para acelerar a mudança, que, deixada nas mãos da auto-regulação das empresas, tem sido muito lenta.
Nos últimos dois anos, a percentagem de mulheres em cargos de decisão na União Europeia aumentou de 12 para 14%, apontou, mas sobretudo em tempo de crise, defendeu, não se pode esperar tanto tempo, comparando com o que o sistema de quotas adoptado em França já fez:12 para 22% de mulheres, em apenas um ano.
Onze estados-membros, entre os quais Portugal, já dispõem de algum tipo de quotas para mulheres em cargos de decisão, mas os dados mostram que esta pluralidade de modelos resulta num progresso lento e nem sempre na direcção certa, alertou Reding, justificando assim a adopção de uma directiva com regras comuns para todos.
A inclusão de mulheres na liderança não é mais um tabu, frisou, recordando que, em sondagens recentes, 75% dos cidadãos europeus consideravam injustos os actuais níveis de representação feminina nos cargos de decisão.
“Não me sinto de todo sozinha. Isto é um caminho. Será uma luta terrível, mas eu quero ganhar a guerra. No final, temos de ter o talento das mulheres on board [nos conselhos de administração]”, frisou.
A vice-presidente da Comissão Europeia Viviane Reding acredita que, se mais mulheres tivessem poder de decisão nas instituições financeiras e económicas, menos erros teriam sido cometidos, evitando uma crise com a dimensão da actual.
Questionada pela agência Lusa sobre os efeitos que uma liderança mais equilibrada entre homens e mulheres poderia ter tido na dimensão da crise económico-financeira que a zona euro atravessa, a responsável europeia, que participa no Fórum de Mulheres, a decorrer em Deauville, na região francesa da Normandia, apoiou-se em estudos que concluíram que, se houvesse mais mulheres nos cargos de decisão, menos riscos imprudentes teriam sido corridos, mais perguntas teriam sido feitas e menos erros teriam sido cometidos.
Em conferência de imprensa à margem do Fórum de Mulheres, que dura até sexta-feira e tem, nesta oitava edição, um foco sobretudo económico, aproveitou ainda para manifestar a sua desilusão com o que se passa nos bancos centrais, liderados exclusivamente por homens.
A actual gestão do Banco Central Europeu não é saudável, criticou, esperando que as instituições financeiras europeias que venham a ser desenvolvidas no futuro dêem uma oportunidade ao talento feminino disponível.
Viviane Reding, também comissária europeia da Justiça, está a trabalhar numa proposta de directiva que imporá um sistema de quotas para os conselhos de administração (não executivos) das empresas de todos os estados-membros, que passariam a ter de incluir 40% de mulheres.
Este sistema de quotas aplicar-se-á apenas às situações em que homens e mulheres tenham as mesmas qualificações e capacidades. Ou seja, face a candidatos em igualdade de circunstâncias, a escolha recairia sobre a pessoa do sexo sub-representado no mundo actual, uma mulher.
É uma questão de garantir o acesso e as mesmas oportunidades, resume Reding. As mais importantes escolas de negócios do mundo forneceram-lhe um número que ela não se cansa de utilizar: há oito mil mulheres com qualificações e capacidades à espera de serem chamadas.
A proposta de quotas, ainda em fase inicial, alerta a comissária, já desencadeou uma forte rejeição de nove estados-membros, liderados pelo Reino Unido, que se opõem às quotas.
Reconhecendo ter ficado desiludida com a reacção ideológica a um documento que ainda nem sequer está concluído, Reding garante que não deixará cair a proposta e acredita que o bom senso acabará por prevalecer.
A comissária explicou que a quota não é um fim mas uma ferramenta para acelerar a mudança, que, deixada nas mãos da auto-regulação das empresas, tem sido muito lenta.
Nos últimos dois anos, a percentagem de mulheres em cargos de decisão na União Europeia aumentou de 12 para 14%, apontou, mas sobretudo em tempo de crise, defendeu, não se pode esperar tanto tempo, comparando com o que o sistema de quotas adoptado em França já fez:12 para 22% de mulheres, em apenas um ano.
Onze estados-membros, entre os quais Portugal, já dispõem de algum tipo de quotas para mulheres em cargos de decisão, mas os dados mostram que esta pluralidade de modelos resulta num progresso lento e nem sempre na direcção certa, alertou Reding, justificando assim a adopção de uma directiva com regras comuns para todos.
A inclusão de mulheres na liderança não é mais um tabu, frisou, recordando que, em sondagens recentes, 75% dos cidadãos europeus consideravam injustos os actuais níveis de representação feminina nos cargos de decisão.
“Não me sinto de todo sozinha. Isto é um caminho. Será uma luta terrível, mas eu quero ganhar a guerra. No final, temos de ter o talento das mulheres on board [nos conselhos de administração]”, frisou.
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