12.10.12

Crise seria menor se mulheres tivessem mais poder, defende vice-presidente da CE

in Público on-line

A vice-presidente da Comissão Europeia Viviane Reding acredita que, se mais mulheres tivessem poder de decisão nas instituições financeiras e económicas, menos erros teriam sido cometidos, evitando uma crise com a dimensão da actual.

Questionada pela agência Lusa sobre os efeitos que uma liderança mais equilibrada entre homens e mulheres poderia ter tido na dimensão da crise económico-financeira que a zona euro atravessa, a responsável europeia, que participa no Fórum de Mulheres, a decorrer em Deauville, na região francesa da Normandia, apoiou-se em estudos que concluíram que, se houvesse mais mulheres nos cargos de decisão, menos riscos imprudentes teriam sido corridos, mais perguntas teriam sido feitas e menos erros teriam sido cometidos.

Em conferência de imprensa à margem do Fórum de Mulheres, que dura até sexta-feira e tem, nesta oitava edição, um foco sobretudo económico, aproveitou ainda para manifestar a sua desilusão com o que se passa nos bancos centrais, liderados exclusivamente por homens.

A actual gestão do Banco Central Europeu não é saudável, criticou, esperando que as instituições financeiras europeias que venham a ser desenvolvidas no futuro dêem uma oportunidade ao talento feminino disponível.

Viviane Reding, também comissária europeia da Justiça, está a trabalhar numa proposta de directiva que imporá um sistema de quotas para os conselhos de administração (não executivos) das empresas de todos os estados-membros, que passariam a ter de incluir 40% de mulheres.

Este sistema de quotas aplicar-se-á apenas às situações em que homens e mulheres tenham as mesmas qualificações e capacidades. Ou seja, face a candidatos em igualdade de circunstâncias, a escolha recairia sobre a pessoa do sexo sub-representado no mundo actual, uma mulher.

É uma questão de garantir o acesso e as mesmas oportunidades, resume Reding. As mais importantes escolas de negócios do mundo forneceram-lhe um número que ela não se cansa de utilizar: há oito mil mulheres com qualificações e capacidades à espera de serem chamadas.

A proposta de quotas, ainda em fase inicial, alerta a comissária, já desencadeou uma forte rejeição de nove estados-membros, liderados pelo Reino Unido, que se opõem às quotas.

Reconhecendo ter ficado desiludida com a reacção ideológica a um documento que ainda nem sequer está concluído, Reding garante que não deixará cair a proposta e acredita que o bom senso acabará por prevalecer.

A comissária explicou que a quota não é um fim mas uma ferramenta para acelerar a mudança, que, deixada nas mãos da auto-regulação das empresas, tem sido muito lenta.

Nos últimos dois anos, a percentagem de mulheres em cargos de decisão na União Europeia aumentou de 12 para 14%, apontou, mas sobretudo em tempo de crise, defendeu, não se pode esperar tanto tempo, comparando com o que o sistema de quotas adoptado em França já fez:12 para 22% de mulheres, em apenas um ano.

Onze estados-membros, entre os quais Portugal, já dispõem de algum tipo de quotas para mulheres em cargos de decisão, mas os dados mostram que esta pluralidade de modelos resulta num progresso lento e nem sempre na direcção certa, alertou Reding, justificando assim a adopção de uma directiva com regras comuns para todos.

A inclusão de mulheres na liderança não é mais um tabu, frisou, recordando que, em sondagens recentes, 75% dos cidadãos europeus consideravam injustos os actuais níveis de representação feminina nos cargos de decisão.

“Não me sinto de todo sozinha. Isto é um caminho. Será uma luta terrível, mas eu quero ganhar a guerra. No final, temos de ter o talento das mulheres on board [nos conselhos de administração]”, frisou.