31.10.12

Mais de 500 idosos em Lisboa precisam de apoio urgente

Por Pedro Rainho, in iOnline

Levantamento da Santa Casa da Misericórdia revela aumento de casos de pessoas fechadas em casa e a passar fome


Só casos a exigir intervenção urgente são 542. No âmbito do programa Intergerações, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) encontrou idosos fechados em casa há vários anos, idosos a passar fome, idosos que precisam de ajuda para realizar as tarefas básicas e idosos com sintomas depressivos – situações que se dispersam por várias freguesias da cidade de Lisboa, muitas das quais nunca tinham sido detectadas.

Desde Março deste ano, e durante três meses, 57 recém-licenciados percorreram as ruas dos bairros lisboetas para, através de inquéritos aos moradores, fazer um levantamento dos casos de idosos isolados e a precisar de apoio. Nesse levantamento, as equipas da SCML encontraram pessoas que “nunca foram a lado nenhum, nunca pediram nada a ninguém. Alguns são os ‘novos pobres velhos’ que aparecem à janela como sempre, com a postura de outros tempos, sem que se perceba que, dentro de portas, tudo se alterou para pior”, refere o texto de introdução do documento, assinado por João Marrana.

Santa Maria dos Olivais é de longe a freguesia com maior número de casos detectados a exigir intervenção urgente (77). A seguir surgem São João, com 39 situações graves, Marvila (29) e Santa Engrácia, com 24. As equipas chegaram à conclusão de que quem precisa tem “mais dificuldade e vergonha de o admitir e mais dificilmente procura apoio” e encontraram situações de idosos que não tinham saído de casa nos últimos sete anos. As situações que exigem “intervenção urgente” foram encaminhadas para o gabinete de apoio social da SCML, mas a instituição refere que há mais casos “preocupantes que carecem da mesma atenção e respostas”.

o programa Inicialmente, o Intergerações pretendia realizar 21 mil inquéritos em toda a cidade. Mas depois de partir para o terreno a realidade acabou por se revelar mais complexa, resultando em quase 23 mil questionários, realizados em parceria com as juntas de freguesia e muitas associações da capital.

As necessidades mais frequentes, num total de 135, prendem--se com a necessidade de apoio alimentar, para higiene pessoal ou apoio domiciliário. Há as também graves situações de isolamento (82), de problemas de saúde (81) e de precariedade nas condições de habitação e segurança (67).

IMUNIDADE AUTÁRQUICA Não pode existir, segundo António Costa, presidente da Câmara Municipal de Lisboa. No debate da assembleia municipal “sobre o estado da cidade”, o autarca defendeu que “nesta altura de crise, a cidade não pode ser imune ao quadro em que nos inserimos”.

Da subida dos números do desemprego ao “número crescente de pedidos de acesso à habitação” municipal, vários são os sinais detectados por António Costa para concluir que “a situação social” se tem agravado, o que se traduz numa “maior pressão sobre o município” e sobre os apoios concedidos.