19.10.12

Escolas usam lucros do bar e papelaria para ajudar crianças carenciadas

in Sol

Algumas escolas estão a recorrer aos lucros conseguidos no bar, papelaria ou aluguer de pavilhões para socorrer ao aumento de crianças carenciadas que ainda não estão abrangidas pelo Apoio Social Escolar (ASE).

Todos os dias, professores e funcionários das escolas descobrem novos casos de alunos carenciados, que tentam ajudar dando refeições quentes, lanches e manuais escolares. Muitas destas crianças pertenciam a famílias de classe média que ficaram repentinamente no desemprego.

Em apenas um ano, o número de desempregados no país aumentou quase 130 mil. E, só entre Agosto e Setembro, mais de 10 mil pessoas ficaram sem emprego. O reflexo desta situação já se sente nas salas de aula.

Na Escola Secundária de Palmela, por exemplo, os funcionários detectaram em apenas um mês cerca de uma dezena de estudantes que precisam de ajuda mas não têm ASE.

«Não têm direito porque as declarações que entregam ainda dizem respeito à situação que viviam há dois anos», explicou à Lusa o funcionário dos serviços de acção social daquela escola, Paulo Parreiro.

Para apoiar estas crianças, a direcção da escola usa parte dos lucros do bar e da papelaria para pagar os lanches.

A maioria dos casos foi descoberta por professores ou funcionários. Também no agrupamento de Escolas nº 2 de Portalegre, algumas crianças desabafaram com os funcionários sobre as dificuldades que passam em casa. Nas aulas, alguns professores também dão conta de problemas «pela forma como alguns alunos se comportam», contou à Lusa Joaquim Correia, vice-presidente da Comissão Administrativa provisória do novo agrupamento, frequentado por cerca de 1800 alunos.

Em Portalegre, as «indústrias instaladas desapareceram quase todas» e agora há muitas crianças cujos pais estão desempregados, lamentou o vice-presidente do agrupamento.

Há dois anos, quase 400 alunos recebiam ASE, segundo dados do Ministério da Educação e Ciência (MEC).

Joaquim Correia estima que actualmente as necessidades sejam muito superiores: «Temos cada vez mais crianças com necessidades e estamos a garantir pelo menos uma refeição quente e um reforço a meio da manhã e a meio da tarde».

O responsável explica que a escola vai conseguindo dar resposta através de verbas próprias, como o aluguer do pavilhão escolar.

Tal como na escola de Palmela, em Portalegre os responsáveis acreditam que «ainda não estão todas as situações detectadas» e que a situação se deverá agravar.

As aulas começaram apenas há um mês e também na Escola Secundário Gago Coutinho, em Alverca do Ribatejo, há agora mais alunos carenciados sem apoio.

«Os casos têm aumentado e acredito que vão aparecer ainda mais daqui para a frente, conforme os professores se vão apercebendo», lamentou Sérgio Amorim, director da escola onde há dois anos 18,6% dos alunos tinham ASE.

«Há situações de encarregados de educação que não estão contemplados pelos apoios escolares devido ao seu IRS, mas nós tentamos resolver a situação aqui na escola», contou à Lusa Sérgio Amorim.

Assim que confirmam as situações de carência, a escola passa a apoiá-los, dando-lhes refeições.

Na terça-feira, foi denunciado um caso de uma aluna de um agrupamento de escolas de Loulé, que foi impedida de almoçar por falta de pagamento da mensalidade de alimentação. Aquele agrupamento era um dos que tinha menos crianças carenciadas no ano lectivo de 2010/2011, segundo dados do MEC, que indicava que apenas 336 alunos dos 1.828 que frequentavam o agrupamento tinha ASE.

Lusa/SOL