Mostrar mensagens com a etiqueta Envelhecimento - População. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Envelhecimento - População. Mostrar todas as mensagens

11.7.23

Mais velhos e mais sós. O retrato de quem trabalhou sem descontos

Paula Sofia Luz, in DN


Número de pessoas com mais de 80 anos aumentou muito nos últimos dois anos em Portugal, chegando atualmente aos 750 mil. E continuará a subir. No Dia Mundial da População, a Pordata divulga um estudo revelador: há meio milhão em risco de pobreza, a viver com menos de 551 euros por mês. A investigadora Luísa Loura diz que na próxima década o quadro se vai alterar, a vários níveis.

Os níveis de pobreza em Portugal têm muito a ver com a população mais idosa". Luísa Loura, coordenadora do estudo que a Pordata divulga esta terça-feira, Dia Mundial da População, junta à frase o alerta: o número total de idosos com mais de 80 anos aumentou bastante: atualmente serão 750 mil, "mas serão mais de um milhão daqui a 15 anos", refere a professora que coordenou o trabalho, insistindo na ideia de que "os idosos devem ser olhados de outra forma -- desde os menos idosos, que embora com idade avançada ainda têm autonomia, aos muito idosos", lembrando que "os dados dos Censos nos mostram com uma enorme clareza quando é que começam a perder autonomia, a capacidade de se movimentar, de ir ao médico". Ao mesmo tempo, outro dado a inquieta: a (pouca) capacidade instalada nos Lares da Segurança Social.

"Estas são as pessoas [população com mais de 80 anos] com uma carreira contributiva mais curta, que não foram abrangidas pela obrigatoriedade dos empregadores no sentido de fazerem descontos. Por isso este grupo é especialmente vulnerável: são pessoas que têm dificuldades financeiras enormes e já não têm autonomia". A verdade é que, apesar de serem já uma população muito grande, "vão aumentar em número muito rapidamente", adverte Luísa Loura.

Alterações no perfil

O estudo da Pordata deixa sinais preocupantes em várias perspetivas. Se neste momento se contabilizam 2 milhões e 500 mil idosos em território nacional, é certo que o número irá escalar muito rapidamente. "Mas é preciso termos em conta que a população idosa vai ter alterações fundamentais no seu perfil: as habilitações literárias, que vão ser muito parecidas no grupo dos homens e das mulheres -- até com um pouco mais de escolaridade nas mulheres do que nos homens, o que altera completamente o perfil atual, em que as mulheres têm menos escolaridade -- e também uma grande parte dessa população já terá uma carreira contributiva completa, e a pensão de reforma com que vão ficar já alinha com o tempo de trabalho que tiveram".

"Estas pessoas só recebem pensões mínimas porque o Estado (a sociedade como um todo) não lhes deu essa proteção. E essas pessoas trabalharam. Tinham 30 a 40 anos quando aconteceu o 25 de abril. Contribuíram muito para a qualidade de vida que hoje em dia a população mais nova tem". Ou seja, "houve uma grande preocupação com a proteção na saúde, o que se nota com a esperança média de vida, que aumentou muito, mas não com a proteção social". E esse investimento na saúde é notório no grande aumento do número de centenários no país. O estudo mostra que, na última década, os idosos com 100 anos ou mais aumentaram 77%, com tendência para crescer. Em 2022 viviam em Portugal 2940 pessoas com 100 ou mais anos.


"É bom que estejamos por cá mais tempo, mas já agora que seja de vida saudável", sublinha Luísa Loura. "Os próximos 10 anos ainda vão ser muito críticos na atenção que a sociedade tem de dar a este grupo mais vulnerável. Sem proteção, são pessoas que deram muito do seu esforço ao país na fase da democratização e da melhoria das condições de vida", adianta. Os números mostram que 163 mil idosos receberam o Complemento Solidário para Idosos nos últimos dois anos, embora o número de beneficiários tenha estado a diminuir desde 2019 (quando mais de 176 mil idosos foram apoiados) e está hoje longe dos cerca de 242 mil apoiados anualmente entre 2009 e 2013.

Já os beneficiários do Rendimento Social de Inserção com 65 ou mais anos (cerca de 12,8 mil) representam 5% do total dos beneficiários deste subsídio. A atribuição do RSI aos mais idosos tem estado a aumentar desde 2015 (quando o número de beneficiários rondava os 4,5 mil).

"Estas pessoas são completamente merecedoras de todo o apoio que nós lhes possamos dar", conclui a autora do estudo. A crueza dos números mostra que mais de 400 mil estão em risco de pobreza, vivendo com menos de 551 € mensais.

Em 2021, 17% das pessoas com 65 e mais anos estavam em risco de pobreza (em Portugal, o valor abaixo do qual alguém é considerado pobre situava-se, em 2021, nos 6608 euros anuais, o que equivale a 551€ mensais) mesmo depois de receber transferências sociais, como pensões e outros apoios do estado. Sem transferências sociais, 86% dos idosos estariam em situação de pobreza. E as mulheres têm maior risco de pobreza do que os homens (18,7% vs. 14,7%). "Por terem sido domésticas, muitas vezes o suporte de toda a família, não tiveram qualquer tipo de descontos, e por isso são elas as mais vulneráveis".

Ainda assim, a taxa de risco de pobreza entre os idosos foi a que mais baixou entre 2020 e 2021. Em 2006, por exemplo, a pobreza atingia 1 em cada 4 idosos.

A investigadora está ciente de que, daqui por 15 ou 20 anos, esse será um problema esbatido, porque "nessa altura as pensões já vão dar aquele conforto financeiro que permita às pessoas comprarem os remédios, ou pagarem o serviço de apoio domiciliário. Ou seja, já terão fundo de maneio para acautelar essas situações. E neste momento isso não acontece".
Continuar a trabalhar na idade da reforma

Doutorada em Estatística e Computação e licenciada em Matemática, Luísa Loura é docente e investigadora da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Ela própria já integra a população-alvo do estudo, como refere ao DN. Aos 69 anos continua a trabalhar, e o seu caso é um entre os milhares que, em Portugal, continuam a contribuir para a economia do país, mesmo depois da chamada idade da reforma. De acordo com este documento da Pordata, 9% da população com 65 anos (ou mais) permanece no mercado de trabalho. Um total de 240 mil trabalham ou ocupam-se na agricultura. Note-se que a taxa de emprego entre as pessoas com 65 ou mais anos tem vindo a aumentar desde 2015 (9% em 2022 face a 6% em 2015), acompanhando a tendência nacional, e em 2022 era mais do dobro entre os homens comparativamente às mulheres (14% vs. 6%).

Na União Europeia, a taxa de emprego nesta faixa etária variou entre os 2% da Roménia e os 17% da Estónia. Portugal situa-se na 10.ª posição entre os 27 países.

O lado "utilitário" dos mais velhos tem aqui um duplo sentido. Luísa Loura fala dessa ambiguidade, que por um lado coloca pessoas ativas no mercado de trabalho, e por outro prende-se com a forma como é ocupado o tempo livre, "usando as infraestruturas que o país tem, nomeadamente culturais". "Tudo está interligado, nomeadamente a questão da solidão. As pessoas sentem-se sozinha principalmente se não estiverem ocupadas", enfatiza a coordenadora do estudo. Os dados mostram que cerca de 12% dessa faixa etária se diz muitas vezes só, quando no resto da população são 7%. "É uma diferença muito assinalável. E a solidão traz outros problemas, nomeadamente na saúde mental. Portanto, sentirem-se ocupadas é uma das coisas que traz mais satisfação com a vida. Seja mais ou menos útil para a sociedade". "E a questão financeira tem implicações também no lazer, com viagens de turismo, idas aos museus, espetáculos e outros. Isso custa dinheiro", sublinha Luísa Loura, para quem "a perspetiva de virmos a ter uma população idosa com mais disponibilidade financeira também traz uma boa visão para o país no uso desses recursos".

Mas até lá chegar, o panorama presente não é animador.



pauptla.sofia.luz@ext.dn.

5.6.23

Quão envelhecida é a população portuguesa?

Ana Baptista, in Expresso


O Expresso e a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) juntam-se para debater as últimas cinco décadas de democracia em Portugal. Nos próximos 10 meses, vamos escrever (no Expresso) e falar (na SIC Notícias) sobre 10 tópicos diferentes, da economia à sociedade. Neste mês de junho, abordaremos a adequação da população ao envelhecimento

Os factos

Segundo dados das Nações Unidas, Portugal tem um pouco mais de dois milhões de pessoas com mais de 65 anos, sendo o 43º país com o maior número de idosos num total de 50 países do mundo analisados.

Mas olhando para a proporção de pessoas com mais de 65 anos sobre o total da população, Portugal surge como o quarto país, apenas superado pelo Japão, Itália e Finlândia.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), em 2021, as pessoas com 65 e mais anos representavam 23,4% da população residente em Portugal (inclui pessoas de naturalidade portuguesa, mas também estrangeiros que se tenham instalado no País).

Em 1970, apenas 9,7% da população residente em Portugal tinha 65 ou mais anos.

Este cenário não se vai inverter, vai até agravar-se. As projecções do INE apontam que a fatia da população que tem 65 e mais anos seja de 36,8% em 2080.

Como chegámos até aqui

Foi uma conjugação de três factores, um considerado bom e outros dois menos bons.

O bom foi o aumento da esperança de vida, fruto dos avanços da medicina, mas também da evolução da sociedade e do mercado de trabalho que, com o aparecimento de outros tipos de empregos, mais bem pagos e menos exigentes fisicamente, melhoraram de forma geral as condições de vida da população.

“Em 1940, uma pessoa com 20 anos tinha mais 46,6 anos de vida pela frente. Em 2015, já tinha mais 61,6 anos de vida pela frente”, repara Alda Azevedo, doutorada em demografia e investigadora no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS). Em 2020, segundo dados da Pordata e do INE, a esperança de vida à nascença para ambos os sexos situava-se nos 80,7 anos.

Quanto aos dois factores menos bons, um deles foi a descida na natalidade. Por exemplo, segundo dados do INE de 2022, em 1970 existiam 34 pessoas com 65 ou mais anos por cada 100 jovens com menos de 15 anos. Em 2021, essa proporção já tinha aumentado para 182 pessoas idosas por cada 100 jovens com menos de 15 anos. Há várias causas para este cenário, mas a economia tem um peso significativo. “Mais de metade da população portuguesa vive com cerca de €900 por mês”, repara Pedro Góis, sociólogo e professor na Universidade de Coimbra, o que faz com que os jovens saiam mais tarde de casa e adiem o nascimento do primeiro filho, diz Alda Azevedo, lembrando que Portugal tem uma das maiores percentagens da Europa de jovens entre os 18 e os 34 anos a viver em casa dos pais.

O terceiro factor foi a emigração. Os jovens têm mais escolaridade, mas depois não são remunerados de acordo com essas qualificações, o que faz com que procurem melhores oportunidades fora de Portugal, principalmente na Europa, onde existe uma fácil mobilidade entre países, repara Pedro Góis. Ora, quem sai são precisamente os jovens adultos em idade reprodutiva, o que significa que perdemos jovens que depois contribuiriam para a natalidade e para o aumento da população jovem em Portugal, acrescenta Alda Azevedo.

Para onde caminhamos

Caminhamos para uma população mais envelhecida, mas não porque a natalidade vá diminuir e a emigração vá aumentar. Aliás, “as projecções em relação à fecundidade são optimistas”, repara Alda Azevedo. De facto, segundo dados de maio do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), em 2022 registaram-se 83.436 nascimentos, mais 5,3% que em em 2021 (79.217), ano em que tinha havido uma quebra histórica da natalidade. Já no primeiro trimestre de 2023 registaram-se 21.065 bebés, o valor mais elevado para o trimestre desde o início da pandemia de covid-19.

Ou seja, caminhamos para uma população mais envelhecida porque continuarão a haver avanços na medicina que permitem que isso aconteça mas, sem políticas adequadas, esses anos de vida ganhos podem não ter a qualidade desejada.



“O discurso político tem sido o de combater o envelhecimento, mas a tendência não vai inverter-se. Devíamos antes pensar como nos adequar ao envelhecimento”, diz Alda Azevedo, investigadora do Instituto de Ciências Sociais (ICS).

Para a doutorada em Demografia, uma das primeiras coisas a fazer é “repensar a idade de entrada na velhice. Temos andando a medir a velhice nos 65 e mais anos mas, atualmente, uma pessoa com 65 e mais anos tem uma vida ativa e não inspira tantos cuidados. Só a partir dos 75 anos é que as pessoas precisam de mais cuidados”.

Prova disso é o aumento da idade legal da reforma que, desde 2007, tem vindo a aumentar de um a dois meses, praticamente, de dois em dois anos. Por exemplo, em 2007, estava nos 65 anos e em 2022 já tinha chegado aos 66 anos e sete meses. Isto significa que deveria aumentar de novo em 2024 ou 2025 mas, por causa do aumento da mortalidade provocado pela pandemia, o Governo decidiu baixar a idade da reforma em 2023 e 2024 para os 66 anos e 4 meses o que significa que, a retomar-se o ritmo anterior, a partir de 2027 haverá um novo aumento para perto dos 67 anos.

O problema, repara Alda Azevedo, é que mesmo não precisando de tantos cuidados, esta fatia da população entre os 65 e os 75 anos precisa de uma medicina preventiva e, “infelizmente, a aposta tem sido mais na medicina curativa. Há um caminho muito grande a fazer nesse aspecto. Há medidas simples que se podiam tomar, como haver mais informação, por exemplo, para prevenir quedas em casa - que é um dos acontecimentos que mais leva à incapacidade - ou fazer mais operações às cataratas, para que as pessoas não percam a visão mais cedo”.

Esta medicina preventiva iria também contribuir para que a fatia da população com 75 e mais anos - que tem vindo a crescer - também tivesse uma maior qualidade de vida. Neste momento, são eles que precisam de mais cuidados, porque têm mais problemas de saúde, mas o Governo não tem tomado políticas nesse sentido. “Não vejo nenhum plano estatal para formar os cuidadores que as pessoas dessas idades precisam e não acho que o País esteja preparado para tratar das doenças neurodegenerativas que atingem mais essa fatia da população”, repara Pedro Góis.

E não é o facto de os descendentes poderem, agora, ter um estatuto legal de cuidador, que vai resolver o problema, repara Alda Azevedo. Porque, apesar de positivo, pode esbarrar no funcionamento das relações entre trabalhador e empregador. O que é preciso é não tomar medidas dissociadas umas das outras, mas sim fazer alterações estruturais e definir uma política continuada que se prolongue por várias legislaturas, conclui.

20.11.13

População da UE aumentou mas Portugal está em contraciclo

in Jornal de Notícias

A população da União Europeia era de 505,7 milhões de pessoas a 1 de janeiro, mais 1,1 milhões do que em 2012 (504,6 milhões), segundo uma estimativa divulgada pelo Eurostat.

O gabinete oficial de estatísticas da UE atribui o crescimento global a dois fatores: um aumento natural de população de 200 mil (0,4 por mil) e de migração em 900 mil (1,7 por mil).

O Eurostat constata que se registou crescimento populacional em 17 Estados-membros e diminuição noutros 11, incluindo Portugal, assinalando que, em 2012, cerca de 80% do aumento na UE se deveu à migração.

As menores taxas de crescimento relativas verificaram-se na Lituânia (-10,6 por mil), na Letónia (-10,3 por mil), na Estónia (-6,8 por mil), na Bulgária (-5,8 por mil), na Grécia (-5,5 por mil) e em Portugal (-5,2 por mil).

As maiores taxas de crescimento foram observadas no Luxemburgo (23 por mil), Malta (9,1 por mil), Suécia (7,7 por mil), Reino Unido (6,2 por mil), Bélgica (6,0 por mil) e Áustria (5,2 por mil).

No ano passado, nasceram 5,2 milhões de bebés na UE, o que corresponde a 10,4 por mil habitantes, estando a Irlanda à cabeça da tabela dos nascimentos (15,7 por mil), seguida do Reino Unido (12,8 por mil), França (12,6 por mil), Suécia (11,9 por mil) e Chipre (11,8 por mil).

As taxas de nascimento mais baixas verificaram-se na Alemanha (8,4 por mil), Portugal (8,5 por mil), Grécia e Itália (9,0 por mil em ambas) e Hungria (9,1 por mil).

1.10.13

População portuguesa com mais de 65 anos quase que duplica até 2050

in Jornal de Notícias

Portugal tem atualmente 26,6% da população com mais de 65 anos, mas até 2050 esse valor deverá ultrapassar os 40%, razão pela qual aparece em 34.ª posição no "Índice Global de Envelhecimento 2013", divulgado esta terça-feira.

O relatório "Índice Global de Envelhecimento 2013" elaborado pela organização HelpAge International com o financiamento do Fundo Mundial de População das Nações Unidas (UNFPA, sigla em inglês) é o primeiro índice que mede a qualidade de vida e de bem-estar das pessoas idosas em todo o mundo.

A apresentação do estudo coincide com o Dia Internacional das Pessoas Idosas, que se assinala esta terça-feira.

Nos dados específicos sobre Portugal, o relatório aponta que o país tem já uma elevada percentagem (26,6%) de pessoas idosas, sendo expectável que esse valor aumente para 40,4% até 2050 e fazendo com que Portugal passe de oitavo para segundo lugar relativamente à população idosa, entre 195 países.

No que diz respeito à segurança dos rendimentos (pensões, níveis de pobreza), o relatório revela que Portugal fica classificado em 17.º lugar porque a pobreza entre a população idosa atinge 16,6%, estando aqui incluídas as pessoas com 60 ou mais anos com um rendimento que seja menos de metade do salário médio nacional.

Na área da saúde, em que Portugal é colocado na 29.ª posição, a HelpAge International justifica esta posição com o facto das pessoas com 60 anos terem uma esperança média de vida de 23 anos e esperarem viver mais 17,6 anos de forma saudável.

Por outro lado, a organização aponta que há 90,5% de pessoas com mais de 50 anos que sentem que a sua vida tem significado, em comparação com pessoas com idades entre os 35 e os 49 anos que sentem o mesmo.

Em matéria de emprego e educação, Portugal cai para a 76.ª posição com base no facto de apenas 49,2% das pessoas com idade entre os 55 e os 64 anos estarem empregadas.

A organização explica que este indicador mede o acesso das pessoas com mais idade ao mercado de trabalho e a sua capacidade para complementar as pensões que recebem com outras formas de rendimento.

De acordo com a HelpAge International, apenas 16,5% da população com mais de 60 anos completou o secundário ou o ensino superior.

Por último, em relação ao critério de adaptação do meio ambiente, Portugal aparece na 37.ª posição, havendo 79% de pessoas com mais de 50 anos que têm amigos ou familiares com quem podem contar em caso de necessidade e 51% que se sentem em segurança ao caminhar sozinhos na rua à noite na cidade ou na zona de residência. 70% das pessoas com mais de 50 anos estão satisfeitas com o sistema de transportes locais.

Segundo o estudo, que abrange 89% dos idosos originários de 91 países, o número de pessoas com mais de 60 anos (mais de 800 milhões de pessoas em 2012) supera atualmente as crianças com menos de cinco anos a nível mundial, prevendo-se que em 2050 ultrapasse os menores de 15 anos.

Em 2030, as pessoas com mais de 60 anos irão representar 16% da população mundial, subindo para 22% em 2050.

2.7.13

Viver em Portugal, em números

in Expresso,

Mais idosos no Alentejo, rendas mais caras no Algarve e residências mais espaçosas nas regiões do Centro e dos Açores. Estes e outros dados dos Censos 2011 mostram como se vive em Portugal

19.9.12

Em 2030, 49% dos portugueses terão mais de 50 anos: haverá Estado social?

Por Natália Faria, in Público on-line

O envelhecimento dos portugueses não tem que ser uma fatalidade, mas, para assegurar o Estado social, o país tem que reconfigurar a relação das pessoas com o trabalho, segundo os especialistas.
Com vídeo

Portugal chegará a 2030 abaixo da fasquia psicológica dos 10 milhões de habitantes. Poderemos ser 9,9 milhões e, em 2050, 8,6 milhões, segundo a mais plausível das três projecções demográficas que vão ser apresentadas no encontro Presente no Futuro que vai pôr 60 oradores a discutir, amanhã e depois, em Lisboa, o futuro de um país que será de velhos dentro de muito pouco tempo.

Sem levar em consideração os fluxos migratórios (que, de resto, entraram no negativo, com mais pessoas a sair do país do que a entrar) e mesmo que a fecundidade aumente dos actuais 1,37 para os 1,6 filhos por mulher, a população não deixará de diminuir. Mas, como adiantou ao PÚBLICO Maria João Valente Rosa, demógrafa e directora do Pordata, sermos menos não é o problema. "O desafio está em saber o que é que podemos inventar no presente para nos podermos adaptar ao envelhecimento".

Por volta de 2030, a população com mais de 50 anos poderá representar metade da população (actualmente representa 38%). E uma em cada quatro pessoas terá 65 e mais anos. Dito de outro modo, o número de pessoas com 65 e mais anos será o dobro dos jovens até aos 15 anos e quase o triplo em 2050. Para ilustrar melhor a evolução havida neste campo, basta lembrar que em 1981 as crianças e jovens até aos 15 anos eram o dobro dos que tinham mais de 65 anos.

Face a estas projecções, António Barreto, presidente do conselho de administração da Fundação Francisco Manuel dos Santos, promotora do encontro, antevê um país em que deixará de ser frequente esbarrarmos com crianças e adolescentes; em que o interior estará "muito mais abandonado e despovoado"; em que "talvez várias universidades tenham de encerrar". E, sobretudo, em que o Estado de protecção social estará ainda em piores lençóis, já que haverá tantos pensionistas como contribuintes activos para a Segurança Social. "Essa relação, que seria de um para um, é hoje de 1,7 para um, o que já é fonte de preocupação e caso raro no mundo ocidental", declara Barreto, num texto que vai ser distribuído aos mais de 1200 inscritos no encontro.

Trabalhar e ter filhos

A que ponto o envelhecimento é inimigo do Estado social vai ser uma das principais questões em debate. Ao PÚBLICO, Maria João Valente Rosa adiantou que "o envelhecimento não tem que ser encarado como uma fatalidade, desde que sejamos capazes de repensarmos desde já o modo de adaptação ao novo figurino etário".

Para a demógrafa, esta "bomba demográfica" - que, de resto, é extensível à Europa, apesar de Portugal ser já dos países mais envelhecidos do mundo - deveria ter já meio país a repensar o modo como nos organizamos em sociedade. "Por detrás do envelhecimento demográfico estão conquistas que ninguém quer perder - não queremos voltar a morrer mais cedo -, por isso, e sabendo que o envelhecimento está para ficar, temos que assumir que já não faz sentido continuarmos a funcionar como funcionávamos quando tínhamos uma estrutura etária jovem, em que a vida se compartimentava em três ciclos: o da formação, da actividade e da reforma. Hoje, uma pessoa com 65 anos é completamente diferente do que era há 40 ou 50 anos e não faz sentido estarmos a empurrá-la para fora do mercado de trabalho só porque atingiu aquela idade. Por que não então desacelerarmos o ritmo de trabalho ao longo da vida, até para as pessoas se poderem dedicar a outros projectos, designadamente o de ter filhos ou receber mais formação, e prolongarmo-lo na vida até mais tarde?".

Para Valente Rosa, "a idade funcionava como marcador do valor dos indivíduos perante a sociedade numa altura em que o trabalho precisava de força física muito intensa". Hoje, "o marcador que conta é o conhecimento e esse não tem barreiras de idade".

Crise agrava projecções

Num cenário em que o país perdeu capacidade de atracção de imigrantes, ao mesmo tempo que empurra para fora os jovens em cuja formação investiu e que desincentiva a decisão de ter filhos, as projecções apresentadas podem pecar por defeito? "Podem e é isso que queremos discutir", declarou António Barreto, segundo o qual este encontro procura pôr o país a pensar para além dos efeitos imediatos da crise. "Portugal conseguirá ou não retomar um lugar na economia internacional e europeia? Será capaz de voltar a atrair populações de outros continentes? As pessoas terão mais vontade de ter filhos e, já agora, por que é que não os têm?".A imigração e a emigração são outros dos assuntos a reclamar definição urgente, segundo António Barreto, para quem o país corre o risco de esvair-se na incoerência das suas políticas. "Há políticas que promovem a natalidade e outras o seu contrário. Há políticas para fomentar as famílias numerosas e outras que as condenam. Na questão das migrações, os partidos políticos têm uma espécie de pudor em falar do assunto e mostram-se favoráveis a tudo. Falam da integração multicultural que é uma coisa que se anula mutuamente: ou promovemos a integração dos imigrantes, pondo em funcionamento os mecanismos que os levam a transformarem-se em portugueses, a falarem português e a naturalizarem-se portugueses; ou adoptamos uma política multicultural que favorece a aprendizagem da língua materna dos imigrantes, que respeita o costume das mulheres usarem chador ou dos homens praticarem a poligamia", invectiva, para concluir que "é preciso fazer opções, ter políticas coerentes e conhecidas da população".

Porque todos estes factores influenciam a demografia do país, o encontro propõe-se obter respostas a perguntas como estas: "O conflito de gerações é inevitável? Os tempos de trabalho e de família estão mesmo a competir? O que poderão significar as novas vagas de emigração? Que diferenças de povoamento e de utilização de recursos naturais podemos prever para o futuro?". Entre os oradores encontram-se nomes como o sociólogo e ex-presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, o demógrafo Carl Haub, o ex-comissário europeu António Vitorino, o psiquiatra João Barreto, o arquitecto Nuno Portas e a presidente do Banco Alimentar, Isabel Jonet, entre outros.




O futuro é um país de velhos e o pesadelo poderá ainda ser maior

Por Clara Viana, in Público on-line

Será que o futuro já aconteceu? Os demógrafos dizem que sim e, por isso, não auguram nada de bom. Por exemplo, aconteça o que acontecer até 2030 no que respeita ao crescimento da fecundidade, o número de jovens em Portugal continuará a diminuir, mesmo que as mulheres voltem a ter uma média de dois filhos, um cenário considerado "extremamente optimista" e largamente improvável.

O aviso foi feito ontem pela presidente da Associação Portuguesa de Demografia, Filomena Mendes, no primeiro dia da conferência Os Portugueses em 2030, promovida pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, em Lisboa. "O que aconteceu no passado tem implicações tremendas no futuro", explicou a investigadora. E o que aconteceu foi que em Portugal a fecundidade entrou em queda acentuada desde a década de 1970. Então, o número médio de filhos por mulher era de três e agora baixou para 1,3, um dos valores mais baixos de toda a União Europeia.

Na pior das projecções apresentadas, mantendo-se tudo como agora, Portugal terá perdido em 2030 quase um milhão de pessoas. No cenário considerado o "mais plausível" por Filomena Mendes, o nível de fecundidade voltará aos níveis de 2000 - média de 1,6 filhos por mulher - e haverá uma quebra de população na ordem das 600 mil pessoas, com a percentagem de idosos praticamente a duplicar a dos jovens.

Portugal terá também mais pessoas com qualificações superiores, mas os benefícios desta evolução encontram-se já em queda, recordou o economista Carlos Farinha Rodrigues. A percentagem dos indivíduos de referência dos agregados familiares licenciados duplicou entre 1993 e 2009, passando de 7% para 14%, mas a diferença de salário de um licenciado em relação à média passou, neste período, de três para duas vezes mais, indicou.

"O prémio para a educação tem caído fortemente desde 1995, mas só para os grupos etários mais jovens", frisou, por seu lado, o economista Mário Centeno. Mas os mais velhos também não estão a salvo, como mostram os números apontados por este economista: em 15 anos, a progressão das pessoas com mais de 45 anos que estavam há menos de um ano numa empresa passou de 11% para 22%.

Também no emprego o futuro já começou. "A procura de trabalho no mundo ocidental polarizou-se. Há grande procura para qualificações muito altas e para qualificações muito baixas. Mas toda a nossa aposta encaminhou-se para formações intermédias, o que é um risco", frisou Centeno. "Hoje já sabemos que o ensino superior não tornou os licenciados imunes ao desemprego e possivelmente também não os tornará imunes à pobreza", avisa Carlos Farinha Rodrigues.