Henrique Cunha, in RR
Nova campanha do Banco Alimentar Contra a Fome a 28 e 29 de novembro. Responsável do Porto alerta que “existem cada vez mais pedidos de apoio das pessoas”.
A presidente do Banco Alimentar do Porto (BAP) alerta para a possibilidade de um aumento "exponencial de pedidos de ajuda", prevendo-se mesmo que "os números superem os que existiram na pandemia".
A recém-eleita presidente do BAP, Barbara Barros, diz à Renascença que a inflação está a fazer disparar os pedidos de apoio e revela que, neste momento, tem uma lista de espera de ”120 instituições”.
A responsável afirma que “existem cada vez mais pedidos de apoio das pessoas” e que, por isso, “as instituições começam a ficar com mais necessidade de produtos alimentares”.
“Falamos neste momento de uma lista de 120 instituições com tendência a aumentar. É um aumento exponencial. Calculamos que vá superar os números que existiram na pandemia”, antecipa, a responsável do BAP.
Bárbara Barros lembra ainda que a inflação não se reflete, apenas, nos bens alimentares, mas atinge também “os transportes, os combustíveis e reflete-se nos empréstimos bancários da habitação”, por isso “as famílias estão a atravessar uma dificuldade muito grande”.
“Muitas vezes chegam-nos famílias que não estão habituadas a não pedir este apoio”, acrescenta.
Nesta altura, o Banco Alimentar do Porto “apoia 300 instituições, mais de 58 mil pessoas, num total de 5.595 famílias”.
A uma semana de mais uma campanha de recolha dos Bancos Alimentares, Bárbara Barros apela à solidariedade, porque a fome é uma realidade.
“Neste momento há”, responde à pergunta, sobre se há fome em Portugal. E, insiste “nós continuamos a achar que em Portugal não há fome, mas nós continuamos a dizer que os Bancos Alimentares já apoiam 400 mil famílias; é um número muito grande”.
A responsável sugere que “só não haverá fome se nós continuarmos a dar o apoio, se continuarmos a ser solidários, se olharmos para o lado, e se podermos contribuir de qualquer maneira, seja a nível voluntário, seja a nível de contribuição no supermercado, seja a nível de contribuição de empresas”.
“Caso contrário”, sublinha, Bárbara Barros, “ficamos neste momento numa situação muito delicada, porque a inflação está a aumentar e nos bens alimentares tem sido uma loucura, um aumento permanente”.
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2.11.22
Aumento do custo de vida faz crescer pedidos de ajuda
in DN
Rita Valadas, presidente da Cáritas, revela que a ajuda está a ser procurada por pessoas de classe média e média-baixa, sobretudo porque o rendimento "dá cada vez para menos coisas".
O aumento do custo de vida está a provocar uma maior pressão junto das instituições de apoio alimentar como a Cáritas, que ajudam cada vez mais pessoas com emprego, mas cujo salário deixou de chegar para as despesas.
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Pobreza Infantil. Quase uma em cada 4 crianças portuguesas em risco de pobreza e exclusão social
A presidente da Cáritas, Rita Valadas, disse à Lusa que a ajuda está a ser procurada por pessoas de classe média e média-baixa, uma vez que "o rendimento dá cada vez para menos coisas".
Rita Valadas afirmou que esta é uma crise que se caracteriza por "um aumento brutal do custo de vida" e que tem sentido um acréscimo das dificuldades para dar resposta às solicitações.
É que, aos novos casos, juntam-se os que já eram anteriormente acompanhados desde a pandemia e que não conseguiram deixar de viver sem este apoio.
"As pessoas que se aproximaram de nós devido à pandemia não chegaram a conseguir autonomizar-se, porque, quando estavam a conseguir reprogramar a sua vida, veem-se confrontadas com a dificuldade decorrente do aumento do custo de vida, das taxas de juro, e não têm condições para fazer essa retoma", explicou Rita Valadas.
A presidente da Cáritas lembrou ainda que no período da crise social motivada pela pandemia, existiam moratórias e o 'lay-off', ao contrário das atuais "situações avulsas [como o pagamento único de 125 euros], que não resolvem a situação das pessoas senão pontualmente".
Quem está mais próximo de se aproximar do limiar da pobreza é quem fica em maior risco de ter de recorrer a este tipo de apoios, concluiu.
"Quando o rendimento se altera, altera-se o risco, mas, quando a esse risco se acrescenta uma pressão do custo médio de subsistência, as dificuldades afetam pessoas que estão deste risco para baixo e o que antes um salário mínimo dava para pagar, hoje não dá, e os custos estão a subir e não sabemos quando vão parar", sublinhou Rita Valadas.
Os que "batem à porta" da Cáritas, organização que trabalha em rede pelo país, têm dificuldades em pagar a renda de casa, a prestação da casa, a luz, a água ou outras contas importantes e na iminência de ficar sem esses serviços ou sem abrigo.
"Depois, a situação agudiza-se e traz outras necessidades", acrescentou a presidente da organização, que distribui alimentação e também outros tipos de ajuda.
Primeiro, elencou, as pessoas começam por deixar de comprar determinados produtos que não são de primeira necessidade, depois passam a comprar marcas brancas, até que chegam ao momento em que, mesmo fazendo os cortes possíveis, "não têm como comprar o básico".
Além das famílias, as instituições que fornecem alimentos no seu espaço ou ao domicílio "também estão a sofrer uma pressão enorme com o aumento dos custos dos bens", referiu.
Rita Valadas mencionou a rede alargada pelo país e exortou quem quiser dar o seu contributo a procurar a Cáritas, as paróquias ou dioceses, que têm as suas estruturas de apoio, distribuição, respostas sociais e conseguem fazê-lo "em proximidade".
A Cáritas apoiou no ano passado 120 mil pessoas, a pandemia levou a um aumento de "18 mil famílias a mais" e Rita Valadas estimou que este ano já tenha sido prestado auxílio a mais 20 mil pessoas, entre as quais muitas estrangeiras, sublinhou.
O que se sabe do impacto da crise em Portugal
Quase um terço da população portuguesa vivia em risco de pobreza em 2021, um número que já refletia alguns efeitos da pandemia da covid-19, mas não da atual crise financeira.
Nos últimos meses, e na sequência da guerra na Ucrânia, o aumento dos preços foi uma constante em vários setores. Este mês, a inflação em Portugal atingiu o valor mais alto desde há 30 anos (subiu para 10,2%), com impacto na vida da população.
Quase um quarto da população em risco de pobreza em 2021
Os dados oficiais mais recentes sobre pobreza em Portugal reportam a 2021. Nesse ano, a taxa de risco de pobreza ou exclusão social aumentou cerca de 12% face ao ano anterior para 22,4%.
Com quase um quarto da população portuguesa em risco de pobreza, 2021 registou o maior aumento anual do risco de pobreza em Portugal desde 2005, de acordo com o Observatório Nacional de Luta Contra a Pobreza, e a oitava taxa mais alta entre os países da União Europeia.
Mesmo após as transferências sociais, a taxa de risco de pobreza fixou-se nos 18,4% no ano passado, sendo a situação mais grave nas regiões autónomas dos Açores e Madeira, no Norte e Algarve.
Privação material e social atingiu 13,5% da população
Além do risco de pobreza, medido com base nos rendimentos individuais, as dificuldades económicas das famílias refletem-se também na taxa de privação material e social que, em 2021, atingiu 13,5% da população, a sétima mais elevada da União Europeia.
Para 6% dos residentes em Portugal, a situação foi de privação severa, o que significa que não tiveram capacidade de suportar mais de quatro em nove encargos, que incluem o pagamento de rendas ou empréstimos, férias fora de casa, uma refeição de carne ou peixe de dois em dois dias, despesas inesperadas, telefone, televisão a cores, uma máquina de lavar, um carro e manter a casa adequadamente aquecida.
Antecipando os efeitos da inflação, o Observatório Nacional de Luta Contra a Pobreza alerta que, apesar de não se assistir a uma perda de rendimentos por parte da população portuguesa, os dados de 2022 deverão revelar a perda de poder de compra que atinge quer a população em emprego, quer a população sem emprego.
Idosos, desempregados e famílias monoparentais são os mais vulneráveis
A pobreza e a privação material e social afetam, sobretudo, a população mais idosa, desempregados e as famílias monoparentais.
De acordo com o relatório do Observatório Nacional da Luta Contra a Pobreza, divulgado em 17 de outubro, cerca de 25% das pessoas com mais de 65 anos de idade encontravam-se em risco de pobreza no ano passado e 17,6% viviam em privação material e social.
A pobreza afetava 60,4% da população desempregada, sendo que 33% encontrava-se em situação de privação. No caso das famílias monoparentais, as taxas de risco de pobreza e de privação material foram de 38,2% e 20,5%, respetivamente.
Dados do Eurostat divulgados na quinta-feira indicam que, no ano passado, 22,9% das crianças portuguesas com menos de 18 anos viviam em situação de pobreza, um valor abaixo da média da União Europeia (24,4%).
Inflação no valor mais alto em 30 anos
A taxa de variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor terá aumentado para 10,2% em outubro, face aos 9,28% de setembro, atingindo o máximo desde maio de 1992, segundo a estimativa rápida divulgada pelo Instituto Nacional de Estatística na sexta-feira.
Já em setembro a inflação tinha atingido um máximo em quase 30 anos, com a variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor a fixar-se em 9,3%, a mais elevada desde outubro de 1992.
O aumento dos preços tem-se feito sentir, sobretudo, no setor energético, habitação e alimentação. Por exemplo, segundo estimativas do Banco de Portugal, o custo de um cabaz básico de bens alimentares subiu 15% entre outubro de 2021 e agosto deste ano, com alguns produtos a dispararem 20%.
Consequências da inflação são mais severas para quem tem menos rendimentos
Os portugueses que recebem o salário mínimo têm atualmente menos 65 euros de poder de compra do que há um ano devido à inflação, segundo dados da Portada, que indicam ainda que as pessoas que recebem pensões mínimas de velhice e invalidez ficam, na prática, com menos 25,9 euros de poder de compra do que há um ano.
Já o Banco de Portugal alertou, no início do mês, que a inflação tem consequências mais severas para as famílias de menores rendimentos do que as de rendimento mais elevado, porque para as primeiras a inflação sente-se, sobretudo, no preço de bens essenciais.
Medidas de apoio às famílias incluem pagamento extraordinário de 125 euros
Em setembro, o primeiro-ministro anunciou que os contribuintes com rendimento mensal até 2.700 euros iriam receber um pagamento extraordinário de 125 euros, sendo este valor atribuído por pessoa, e um subsídio de 50 euros por dependente.
Foi uma das medidas excecionais do Governo de apoio às famílias para mitigar os efeitos da inflação e que inclui o pagamento aos pensionistas de 14 meses e meio de pensões, em vez dos habituais 14 meses.
Para as crianças, o Governo tinha anunciado ainda em outubro do ano passado um complemento ao abono de família, destinado a 150 crianças e jovens com menos de 18 anos que vivem em situação de pobreza extrema. A Garantia para a Infância começou a ser paga em setembro.
Mais de 108 mil pessoas recebem ajuda alimentar
Atualmente, mais de 108 mil pessoas beneficiam do cabaz alimentar do Programa de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas, que chegou a 134 mil pessoas desde janeiro deste ano.
No final do mês de setembro, a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social anunciou que está em curso a implementação de um novo modelo de apoio às pessoas mais carenciadas, que passará a ser feito através de cartão.
Além deste programa do Governo, as pessoas procuram apoio nas instituições sociais que fazem cada vez mais pedidos ao Banco Alimentar para conseguirem apoiar o número crescente de famílias que pedem ajuda, segundo a presidente, Isabel Jonet.
Rita Valadas, presidente da Cáritas, revela que a ajuda está a ser procurada por pessoas de classe média e média-baixa, sobretudo porque o rendimento "dá cada vez para menos coisas".
O aumento do custo de vida está a provocar uma maior pressão junto das instituições de apoio alimentar como a Cáritas, que ajudam cada vez mais pessoas com emprego, mas cujo salário deixou de chegar para as despesas.
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A presidente da Cáritas, Rita Valadas, disse à Lusa que a ajuda está a ser procurada por pessoas de classe média e média-baixa, uma vez que "o rendimento dá cada vez para menos coisas".
Rita Valadas afirmou que esta é uma crise que se caracteriza por "um aumento brutal do custo de vida" e que tem sentido um acréscimo das dificuldades para dar resposta às solicitações.
É que, aos novos casos, juntam-se os que já eram anteriormente acompanhados desde a pandemia e que não conseguiram deixar de viver sem este apoio.
"As pessoas que se aproximaram de nós devido à pandemia não chegaram a conseguir autonomizar-se, porque, quando estavam a conseguir reprogramar a sua vida, veem-se confrontadas com a dificuldade decorrente do aumento do custo de vida, das taxas de juro, e não têm condições para fazer essa retoma", explicou Rita Valadas.
A presidente da Cáritas lembrou ainda que no período da crise social motivada pela pandemia, existiam moratórias e o 'lay-off', ao contrário das atuais "situações avulsas [como o pagamento único de 125 euros], que não resolvem a situação das pessoas senão pontualmente".
Quem está mais próximo de se aproximar do limiar da pobreza é quem fica em maior risco de ter de recorrer a este tipo de apoios, concluiu.
"Quando o rendimento se altera, altera-se o risco, mas, quando a esse risco se acrescenta uma pressão do custo médio de subsistência, as dificuldades afetam pessoas que estão deste risco para baixo e o que antes um salário mínimo dava para pagar, hoje não dá, e os custos estão a subir e não sabemos quando vão parar", sublinhou Rita Valadas.
Os que "batem à porta" da Cáritas, organização que trabalha em rede pelo país, têm dificuldades em pagar a renda de casa, a prestação da casa, a luz, a água ou outras contas importantes e na iminência de ficar sem esses serviços ou sem abrigo.
"Depois, a situação agudiza-se e traz outras necessidades", acrescentou a presidente da organização, que distribui alimentação e também outros tipos de ajuda.
Primeiro, elencou, as pessoas começam por deixar de comprar determinados produtos que não são de primeira necessidade, depois passam a comprar marcas brancas, até que chegam ao momento em que, mesmo fazendo os cortes possíveis, "não têm como comprar o básico".
Além das famílias, as instituições que fornecem alimentos no seu espaço ou ao domicílio "também estão a sofrer uma pressão enorme com o aumento dos custos dos bens", referiu.
Rita Valadas mencionou a rede alargada pelo país e exortou quem quiser dar o seu contributo a procurar a Cáritas, as paróquias ou dioceses, que têm as suas estruturas de apoio, distribuição, respostas sociais e conseguem fazê-lo "em proximidade".
A Cáritas apoiou no ano passado 120 mil pessoas, a pandemia levou a um aumento de "18 mil famílias a mais" e Rita Valadas estimou que este ano já tenha sido prestado auxílio a mais 20 mil pessoas, entre as quais muitas estrangeiras, sublinhou.
O que se sabe do impacto da crise em Portugal
Quase um terço da população portuguesa vivia em risco de pobreza em 2021, um número que já refletia alguns efeitos da pandemia da covid-19, mas não da atual crise financeira.
Nos últimos meses, e na sequência da guerra na Ucrânia, o aumento dos preços foi uma constante em vários setores. Este mês, a inflação em Portugal atingiu o valor mais alto desde há 30 anos (subiu para 10,2%), com impacto na vida da população.
Quase um quarto da população em risco de pobreza em 2021
Os dados oficiais mais recentes sobre pobreza em Portugal reportam a 2021. Nesse ano, a taxa de risco de pobreza ou exclusão social aumentou cerca de 12% face ao ano anterior para 22,4%.
Com quase um quarto da população portuguesa em risco de pobreza, 2021 registou o maior aumento anual do risco de pobreza em Portugal desde 2005, de acordo com o Observatório Nacional de Luta Contra a Pobreza, e a oitava taxa mais alta entre os países da União Europeia.
Mesmo após as transferências sociais, a taxa de risco de pobreza fixou-se nos 18,4% no ano passado, sendo a situação mais grave nas regiões autónomas dos Açores e Madeira, no Norte e Algarve.
Privação material e social atingiu 13,5% da população
Além do risco de pobreza, medido com base nos rendimentos individuais, as dificuldades económicas das famílias refletem-se também na taxa de privação material e social que, em 2021, atingiu 13,5% da população, a sétima mais elevada da União Europeia.
Para 6% dos residentes em Portugal, a situação foi de privação severa, o que significa que não tiveram capacidade de suportar mais de quatro em nove encargos, que incluem o pagamento de rendas ou empréstimos, férias fora de casa, uma refeição de carne ou peixe de dois em dois dias, despesas inesperadas, telefone, televisão a cores, uma máquina de lavar, um carro e manter a casa adequadamente aquecida.
Antecipando os efeitos da inflação, o Observatório Nacional de Luta Contra a Pobreza alerta que, apesar de não se assistir a uma perda de rendimentos por parte da população portuguesa, os dados de 2022 deverão revelar a perda de poder de compra que atinge quer a população em emprego, quer a população sem emprego.
Idosos, desempregados e famílias monoparentais são os mais vulneráveis
A pobreza e a privação material e social afetam, sobretudo, a população mais idosa, desempregados e as famílias monoparentais.
De acordo com o relatório do Observatório Nacional da Luta Contra a Pobreza, divulgado em 17 de outubro, cerca de 25% das pessoas com mais de 65 anos de idade encontravam-se em risco de pobreza no ano passado e 17,6% viviam em privação material e social.
A pobreza afetava 60,4% da população desempregada, sendo que 33% encontrava-se em situação de privação. No caso das famílias monoparentais, as taxas de risco de pobreza e de privação material foram de 38,2% e 20,5%, respetivamente.
Dados do Eurostat divulgados na quinta-feira indicam que, no ano passado, 22,9% das crianças portuguesas com menos de 18 anos viviam em situação de pobreza, um valor abaixo da média da União Europeia (24,4%).
Inflação no valor mais alto em 30 anos
A taxa de variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor terá aumentado para 10,2% em outubro, face aos 9,28% de setembro, atingindo o máximo desde maio de 1992, segundo a estimativa rápida divulgada pelo Instituto Nacional de Estatística na sexta-feira.
Já em setembro a inflação tinha atingido um máximo em quase 30 anos, com a variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor a fixar-se em 9,3%, a mais elevada desde outubro de 1992.
O aumento dos preços tem-se feito sentir, sobretudo, no setor energético, habitação e alimentação. Por exemplo, segundo estimativas do Banco de Portugal, o custo de um cabaz básico de bens alimentares subiu 15% entre outubro de 2021 e agosto deste ano, com alguns produtos a dispararem 20%.
Consequências da inflação são mais severas para quem tem menos rendimentos
Os portugueses que recebem o salário mínimo têm atualmente menos 65 euros de poder de compra do que há um ano devido à inflação, segundo dados da Portada, que indicam ainda que as pessoas que recebem pensões mínimas de velhice e invalidez ficam, na prática, com menos 25,9 euros de poder de compra do que há um ano.
Já o Banco de Portugal alertou, no início do mês, que a inflação tem consequências mais severas para as famílias de menores rendimentos do que as de rendimento mais elevado, porque para as primeiras a inflação sente-se, sobretudo, no preço de bens essenciais.
Medidas de apoio às famílias incluem pagamento extraordinário de 125 euros
Em setembro, o primeiro-ministro anunciou que os contribuintes com rendimento mensal até 2.700 euros iriam receber um pagamento extraordinário de 125 euros, sendo este valor atribuído por pessoa, e um subsídio de 50 euros por dependente.
Foi uma das medidas excecionais do Governo de apoio às famílias para mitigar os efeitos da inflação e que inclui o pagamento aos pensionistas de 14 meses e meio de pensões, em vez dos habituais 14 meses.
Para as crianças, o Governo tinha anunciado ainda em outubro do ano passado um complemento ao abono de família, destinado a 150 crianças e jovens com menos de 18 anos que vivem em situação de pobreza extrema. A Garantia para a Infância começou a ser paga em setembro.
Mais de 108 mil pessoas recebem ajuda alimentar
Atualmente, mais de 108 mil pessoas beneficiam do cabaz alimentar do Programa de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas, que chegou a 134 mil pessoas desde janeiro deste ano.
No final do mês de setembro, a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social anunciou que está em curso a implementação de um novo modelo de apoio às pessoas mais carenciadas, que passará a ser feito através de cartão.
Além deste programa do Governo, as pessoas procuram apoio nas instituições sociais que fazem cada vez mais pedidos ao Banco Alimentar para conseguirem apoiar o número crescente de famílias que pedem ajuda, segundo a presidente, Isabel Jonet.
12.2.21
Vila Real: Pedidos de ajuda «mais do que duplicaram» com a pandemia – Cáritas
in Agência Ecclesia
Instituição destaca pedidos de bens alimentares ou de medicação para crianças, num contexto de «pobreza extrema»
Vila Real, 11 fev 2021 (Ecclesia) – O vice-presidente da Cáritas Diocesana de Vila Real disse hoje que os pedidos de ajuda à organização católica “mais do que duplicaram”, por causa da pandemia, nas áreas do apoio alimentar, pagamento de rendas, bens essenciais e medicação.
“Infelizmente, há cada vez mais pessoas a bater à porta da Cáritas Diocesana de Vila Real com pedidos de ajuda. Em média acompanhávamos cerca de mil famílias por mês, neste momento, no relatório de janeiro, estávamos próximas das 1300 famílias”, explicou Carlos Martins à Agência ECCLESIA.
O responsável sublinha o impacto da crise no aumento dos pedidos de bens alimentares, apoio a pagamento de “rendas em atraso”, despesas de eletricidade, de gás ou medicação.
“Houve um aumento, que nos tem deixado apreensivos, que é o pedido de apoio para medicação para crianças. A compra de uma caneta para a insulina, até coisas mais básicas, e é aflitivo para a pessoa e para nós, porque notamos que há uma pobreza extrema”, acrescentou.
Carlos Martins refere que a Cáritas de Vila Real tem um programa alimentar para a entrega mensal de cabazes, com a Segurança Social, que apoia 794 beneficiários, atualmente; em março de 2020, eram 397.
Uma resposta que, ainda assim, “é insuficiente” para todas as solicitações, por isso, a organização católica distribuiu “vales para bens essenciais”, através do programa nacional para ‘inverter a curva da pobreza’ da Cáritas Portuguesa, e ainda atribui internamente mais cabazes
O entrevistado explica que o aumento dos pedidos de ajuda é motivado pelo “desemprego e consequente perda de rendimentos das famílias”, segundo a informação das fichas de atendimento social.
O responsável destaca também que existe uma “onda de solidariedade” com a organização social e caritativa, de particulares a empresas, e as comunidades paroquiais, que esperem que continue porque “advinham-se tempos difíceis”.
A Cáritas Diocesana está sediada em Vila Real, onde concentra mais a sua ação, com área de atuação em toda a diocese que inclui serviços de apoio domiciliário, por exemplo, no concelho de Ribeira de Pena, em Alvadia, “em ambientes rurais”.
Carlos Martins assinala que a Cáritas Diocesana tem “diferentes serviços de atendimento”, como a equipa do Rendimento Social de Inserção, que “foi alargada” para permitir acompanhar aproximadamente 700 agregados, mensalmente.
A toxicodependência é outra área de intervenção, e a partir do primeiro confinamento, em março de 2020, “houve uma redução” na procura dos serviços, mas agora houve um regresso aos números habituais, com o “acrescento nos consumidores de álcool”.
A Cáritas Diocesana de Vila Real tem uma comunidade terapêutica, uma equipa de intervenção direta, apartamentos de reinserção social, e um projeto de redução de riscos e minimização de danos e outro de reinserção social, para pessoas com comportamentos aditivos e dependências.
CB/OC
Instituição destaca pedidos de bens alimentares ou de medicação para crianças, num contexto de «pobreza extrema»
Vila Real, 11 fev 2021 (Ecclesia) – O vice-presidente da Cáritas Diocesana de Vila Real disse hoje que os pedidos de ajuda à organização católica “mais do que duplicaram”, por causa da pandemia, nas áreas do apoio alimentar, pagamento de rendas, bens essenciais e medicação.
“Infelizmente, há cada vez mais pessoas a bater à porta da Cáritas Diocesana de Vila Real com pedidos de ajuda. Em média acompanhávamos cerca de mil famílias por mês, neste momento, no relatório de janeiro, estávamos próximas das 1300 famílias”, explicou Carlos Martins à Agência ECCLESIA.
O responsável sublinha o impacto da crise no aumento dos pedidos de bens alimentares, apoio a pagamento de “rendas em atraso”, despesas de eletricidade, de gás ou medicação.
“Houve um aumento, que nos tem deixado apreensivos, que é o pedido de apoio para medicação para crianças. A compra de uma caneta para a insulina, até coisas mais básicas, e é aflitivo para a pessoa e para nós, porque notamos que há uma pobreza extrema”, acrescentou.
Carlos Martins refere que a Cáritas de Vila Real tem um programa alimentar para a entrega mensal de cabazes, com a Segurança Social, que apoia 794 beneficiários, atualmente; em março de 2020, eram 397.
Uma resposta que, ainda assim, “é insuficiente” para todas as solicitações, por isso, a organização católica distribuiu “vales para bens essenciais”, através do programa nacional para ‘inverter a curva da pobreza’ da Cáritas Portuguesa, e ainda atribui internamente mais cabazes
O entrevistado explica que o aumento dos pedidos de ajuda é motivado pelo “desemprego e consequente perda de rendimentos das famílias”, segundo a informação das fichas de atendimento social.
O responsável destaca também que existe uma “onda de solidariedade” com a organização social e caritativa, de particulares a empresas, e as comunidades paroquiais, que esperem que continue porque “advinham-se tempos difíceis”.
A Cáritas Diocesana está sediada em Vila Real, onde concentra mais a sua ação, com área de atuação em toda a diocese que inclui serviços de apoio domiciliário, por exemplo, no concelho de Ribeira de Pena, em Alvadia, “em ambientes rurais”.
Carlos Martins assinala que a Cáritas Diocesana tem “diferentes serviços de atendimento”, como a equipa do Rendimento Social de Inserção, que “foi alargada” para permitir acompanhar aproximadamente 700 agregados, mensalmente.
A toxicodependência é outra área de intervenção, e a partir do primeiro confinamento, em março de 2020, “houve uma redução” na procura dos serviços, mas agora houve um regresso aos números habituais, com o “acrescento nos consumidores de álcool”.
A Cáritas Diocesana de Vila Real tem uma comunidade terapêutica, uma equipa de intervenção direta, apartamentos de reinserção social, e um projeto de redução de riscos e minimização de danos e outro de reinserção social, para pessoas com comportamentos aditivos e dependências.
CB/OC
19.10.20
Pedidos de ajuda à AMI duplicaram nos últimos três meses
in SicNotícias
Nos primeiros nove meses de 2020, a AMI apoiou mais de 7.000 pessoas em situação de pobreza e exclusão social em Portugal, 1.418 foram apoiadas pela primeira vez.
Em comunicado, a AMI adianta que no terceiro trimestre de 2020, o número de pessoas que pediram ajuda pela primeira vez (726), é superior ao total de novos casos registados nos primeiros seis meses do ano (692), tendo a média de novos casos do terceiro trimestre (242) mais do que duplicado em relação à média mensal do primeiro semestre (116).
A instituição adianta também que nos primeiros nove meses de 2020, a AMI apoiou através dos seus equipamentos sociais em Portugal, mais de 7.000 pessoas em situação de pobreza e exclusão social, das quais 1.418 foram apoiadas pela primeira vez.
De acordo com a AMI, os serviços sociais mais procurados foram, por ordem decrescente, a distribuição de géneros alimentares, o apoio social e o roupeiro.
Na nota, e porque hoje se celebra o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, a AMI manifestou também a sua preocupação com o agravamento da pressão social, a degradação das condições de vida em Portugal e no mundo e a marginalização de temas fulcrais para a Humanidade como a pobreza e a fome, as migrações e as alterações climáticas.
A pandemia de covid-19 e os seus efeitos na perda de postos de trabalho e de remuneração tem vindo a fazer com que os pedidos de ajuda aumentem em várias instituições, nomeadamente a na Rede de Emergência Alimentar e na Cáritas.
Nos primeiros nove meses de 2020, a AMI apoiou mais de 7.000 pessoas em situação de pobreza e exclusão social em Portugal, 1.418 foram apoiadas pela primeira vez.
Em comunicado, a AMI adianta que no terceiro trimestre de 2020, o número de pessoas que pediram ajuda pela primeira vez (726), é superior ao total de novos casos registados nos primeiros seis meses do ano (692), tendo a média de novos casos do terceiro trimestre (242) mais do que duplicado em relação à média mensal do primeiro semestre (116).
A instituição adianta também que nos primeiros nove meses de 2020, a AMI apoiou através dos seus equipamentos sociais em Portugal, mais de 7.000 pessoas em situação de pobreza e exclusão social, das quais 1.418 foram apoiadas pela primeira vez.
De acordo com a AMI, os serviços sociais mais procurados foram, por ordem decrescente, a distribuição de géneros alimentares, o apoio social e o roupeiro.
Na nota, e porque hoje se celebra o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, a AMI manifestou também a sua preocupação com o agravamento da pressão social, a degradação das condições de vida em Portugal e no mundo e a marginalização de temas fulcrais para a Humanidade como a pobreza e a fome, as migrações e as alterações climáticas.
A pandemia de covid-19 e os seus efeitos na perda de postos de trabalho e de remuneração tem vindo a fazer com que os pedidos de ajuda aumentem em várias instituições, nomeadamente a na Rede de Emergência Alimentar e na Cáritas.
1.10.20
AMI regista aumento de 55% no número de pedidos de ajuda depois do confinamento
in RTP
Apesar da abertura da economia e muitas pessoas e famílias terem voltado ao trabalho, a AMI registou um aumento de 55 por cento no número de pedidos de ajuda, por parte de famílias em situação de pobreza.
Os serviços com maior procura foram os de distribuição alimentar.
A Assistência Médica Internacional alerta para o agravamento da pressão social.
Jornalista Rita Fernandes.
Apesar da abertura da economia e muitas pessoas e famílias terem voltado ao trabalho, a AMI registou um aumento de 55 por cento no número de pedidos de ajuda, por parte de famílias em situação de pobreza.
Os serviços com maior procura foram os de distribuição alimentar.
A Assistência Médica Internacional alerta para o agravamento da pressão social.
Jornalista Rita Fernandes.
7.5.20
Em duas semanas, Rede de Emergência Alimentar recebeu mais de 3100 pedidos de ajuda
Cristiana Faria Moreira (Texto) e Miguel Manso (Fotografia), in Público on-line
A maioria dos pedidos recebidos pela rede de emergência são de pessoas que não tinham qualquer apoio e que, de um momento para o outro, se viram desamparadas. Numa associação da Outurela, o apoio continua mesmo a meio-gás.
O estado de emergência não deixou só as cidades desertas. Dentro de quatro paredes estão pessoas sem empregos, sem rendimentos. E a carência de comida já se nota, diz Isabel Jonet, presidente da Federação dos Bancos Alimentares Contra a Fome. Foi a pensar nesta franja da população mais desprotegida que, com o apoio da associação Entrajuda, criou uma plataforma online para registar novos pedidos de ajuda alimentar e tentar assim responder às carências mais imediatas. Em duas semanas (contabilizados até às 23h de 2 de Abril) chegaram à Rede de Emergência Alimentar 3126 pedidos de todo o país — 223 por dia, em média. Desses, 1.843 (59%) já foram encaminhados.
Lisboa, Setúbal, Porto e Braga são os distritos onde se registam mais pedidos. E Isabel Jonet atribui essa distribuição ao facto de serem cidades onde se dispõe grande parte do rendimento mensal só para a renda da casa. “Estas pessoas enfrentam aquele que é o maior desafio que há nas famílias carenciadas que são as rendas de casa, que aumentaram imenso e que ocupam quase o seu salário total”, admite.
E quem está na linha da frente da perda de rendimentos é precisamente quem já menos tem. “Nós temos muitas mulheres cabeleireiras, empregadas domésticas, que não tinham uma relação laboral estável, por vezes informal. São pessoas que ficaram completamente desamparadas”, diz a responsável.
São pedidos de pessoas que não estavam a precisar de apoio, mas que agora tiveram de o pedir. “As mães de baixos recursos tinham os filhos nas creches, no infantário ou no ATL, e as crianças comiam na instituição. E agora que está em casa, a mãe tem de lhe dar de comer. A própria mãe, muitas vezes, também comia no trabalho. Isto é tão perverso porque é um sistema que se enrola a si próprio”, nota a responsável.
Estes novos pedidos somam-se às 400 mil pessoas que são apoiadas normalmente pelo Banco Alimentar. Os pedidos são feitos através de um site. A equipa da Rede de Emergência Alimentar trata depois de reencaminhar para a associação mais próxima da área de residência de quem faz o pedido.
Perante a pandemia, muitas instituições de apoio social viram-se sem pessoas que assegurassem os serviços e foram também forçadas a encerrar — outras estão a meio gás. Como a rede de apoio social acabou por ficar desfalcada, a Rede de Emergência Alimentar acabou por montar uma rede com as juntas de freguesia. “A rede é no fundo isto: potenciar em cima do que já existe.”
Campanha de Maio em risco
Nos armazéns do Banco Alimentar tudo funciona com aparente normalidade: os monta-cargas andam cá fora a levar mercadorias de um lado para o outro, as associações vão carregando frescos para as carrinhas. Mas há menos voluntários — alguns têm máscaras e luva, outros dispensam o material de protecção.
António Beltrão, de 62 anos e ali voluntário há três, confirma o cenário: “Os voluntários mais velhos estão resguardados em casa. Mas nós continuamos a servir.”
Para já, o Banco Alimentar tem tido “generosos donativos”. A Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) avançou com um donativo de 350 mil euros à Rede de Emergência Alimentar. A Fundação do Futebol, uma organização de responsabilidade social da Liga Portuguesa, deu dez mil litros de leite.
O maior receio de Isabel Jonet é a campanha de recolha de Maio, nos supermercados, onde muita gente contribui, mesmo que seja com pouco. É quase certo que não se realizará e isso é um “problema”, reconhece. “As campanhas representam uma grande percentagem dos produtos secos (massas, arroz, farinhas) que entram nos bancos alimentares.”
“Para já, vamo-nos aguentando”
Por estes dias, a palavra de ordem na associação onde Bruno Ribeiro e José Marques dão uma mão é improviso. É quarta-feira, dia de ir a Lisboa recolher frescos ao Banco Alimentar. Eles tratam de carregar paletes de bananas, cogumelos, laranjas, para a carrinha da associação. Não são eles quem costuma fazer este serviço — o primeiro é tesoureiro, o segundo administrativo —, mas tiveram agora de arregaçar as mangas porque parte dos funcionários e voluntários do Projecto Família Global estão resguardados em casa por serem mais velhos ou por terem crianças a seu cuidado.
Esta associação, que presta apoio no bairro social da Outurela e Portela, existe há mais de duas décadas. Ao longo dos anos, foi acrescentando valências à sua actividade: tem apoio domiciliário a idosos, fornece alimentação, tem o banco alimentar com cabazes para as famílias do bairro, uma creche, um ATL, e até uma clínica dentária social. A pandemia fê-los diminuir os apoios: a creche, o ATL e a clínica fecharam, o resto mantém-se.
“É quase um padrão das instituições todas. Mantêm o apoio domiciliário, as refeições, e em alguns casos aquilo a que chamam banco alimentar, que é a distribuição de sacos de alimentos às famílias”, nota Isabel Jonet.
Com a carrinha carregada, é hora de Bruno e José partirem para a associação para deixarem os alimentos, que serão distribuídos pelas famílias. O projecto Família Global apoia 168 agregados e, para já, não surgiram novos pedidos de ajuda — até porque grande parte das famílias do bairro beneficia de Rendimento Social de Inserção ou então são reformados. “Mas há angústia pela incerteza”, repara a assistente social da instituição, Marisa Cardoso. “As pessoas estavam com medo que deixássemos de fazer entregas.”
A associação apoia 168 famílias do bairro social da Outurela e Portela com bens alimentares
Ela e Isabel Ribeiro, também da associação, vão acomodando os bens recebidos para que caibam nos frigoríficos. Naquela tarde, iam começar a distribuição dos cabazes mensais. As prateleiras estão cheias de pacotes de arroz, massas, farinha e açúcar, azeite, óleo, enlatados, salsichas, atum, bolachas. Semanalmente entregam os frescos. “Aqui, apoiamos desde a família de sete, até ao agregado familiar de um”, diz Marisa Cardoso.
No refeitório da associação, perto do meio-dia, acabavam de encher as marmitas para os 38 idosos que apoiam. Mesmo a meio-gás têm continuado a sua missão. Parar é um luxo que eles não têm, caso contrário muita gente ficaria desamparada, diz Isabel Ribeiro. “Para já, vamo-nos aguentando.”
A maioria dos pedidos recebidos pela rede de emergência são de pessoas que não tinham qualquer apoio e que, de um momento para o outro, se viram desamparadas. Numa associação da Outurela, o apoio continua mesmo a meio-gás.
O estado de emergência não deixou só as cidades desertas. Dentro de quatro paredes estão pessoas sem empregos, sem rendimentos. E a carência de comida já se nota, diz Isabel Jonet, presidente da Federação dos Bancos Alimentares Contra a Fome. Foi a pensar nesta franja da população mais desprotegida que, com o apoio da associação Entrajuda, criou uma plataforma online para registar novos pedidos de ajuda alimentar e tentar assim responder às carências mais imediatas. Em duas semanas (contabilizados até às 23h de 2 de Abril) chegaram à Rede de Emergência Alimentar 3126 pedidos de todo o país — 223 por dia, em média. Desses, 1.843 (59%) já foram encaminhados.
Lisboa, Setúbal, Porto e Braga são os distritos onde se registam mais pedidos. E Isabel Jonet atribui essa distribuição ao facto de serem cidades onde se dispõe grande parte do rendimento mensal só para a renda da casa. “Estas pessoas enfrentam aquele que é o maior desafio que há nas famílias carenciadas que são as rendas de casa, que aumentaram imenso e que ocupam quase o seu salário total”, admite.
E quem está na linha da frente da perda de rendimentos é precisamente quem já menos tem. “Nós temos muitas mulheres cabeleireiras, empregadas domésticas, que não tinham uma relação laboral estável, por vezes informal. São pessoas que ficaram completamente desamparadas”, diz a responsável.
São pedidos de pessoas que não estavam a precisar de apoio, mas que agora tiveram de o pedir. “As mães de baixos recursos tinham os filhos nas creches, no infantário ou no ATL, e as crianças comiam na instituição. E agora que está em casa, a mãe tem de lhe dar de comer. A própria mãe, muitas vezes, também comia no trabalho. Isto é tão perverso porque é um sistema que se enrola a si próprio”, nota a responsável.
Estes novos pedidos somam-se às 400 mil pessoas que são apoiadas normalmente pelo Banco Alimentar. Os pedidos são feitos através de um site. A equipa da Rede de Emergência Alimentar trata depois de reencaminhar para a associação mais próxima da área de residência de quem faz o pedido.
Perante a pandemia, muitas instituições de apoio social viram-se sem pessoas que assegurassem os serviços e foram também forçadas a encerrar — outras estão a meio gás. Como a rede de apoio social acabou por ficar desfalcada, a Rede de Emergência Alimentar acabou por montar uma rede com as juntas de freguesia. “A rede é no fundo isto: potenciar em cima do que já existe.”
Campanha de Maio em risco
Nos armazéns do Banco Alimentar tudo funciona com aparente normalidade: os monta-cargas andam cá fora a levar mercadorias de um lado para o outro, as associações vão carregando frescos para as carrinhas. Mas há menos voluntários — alguns têm máscaras e luva, outros dispensam o material de protecção.
António Beltrão, de 62 anos e ali voluntário há três, confirma o cenário: “Os voluntários mais velhos estão resguardados em casa. Mas nós continuamos a servir.”
Para já, o Banco Alimentar tem tido “generosos donativos”. A Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) avançou com um donativo de 350 mil euros à Rede de Emergência Alimentar. A Fundação do Futebol, uma organização de responsabilidade social da Liga Portuguesa, deu dez mil litros de leite.
O maior receio de Isabel Jonet é a campanha de recolha de Maio, nos supermercados, onde muita gente contribui, mesmo que seja com pouco. É quase certo que não se realizará e isso é um “problema”, reconhece. “As campanhas representam uma grande percentagem dos produtos secos (massas, arroz, farinhas) que entram nos bancos alimentares.”
“Para já, vamo-nos aguentando”
Por estes dias, a palavra de ordem na associação onde Bruno Ribeiro e José Marques dão uma mão é improviso. É quarta-feira, dia de ir a Lisboa recolher frescos ao Banco Alimentar. Eles tratam de carregar paletes de bananas, cogumelos, laranjas, para a carrinha da associação. Não são eles quem costuma fazer este serviço — o primeiro é tesoureiro, o segundo administrativo —, mas tiveram agora de arregaçar as mangas porque parte dos funcionários e voluntários do Projecto Família Global estão resguardados em casa por serem mais velhos ou por terem crianças a seu cuidado.
Esta associação, que presta apoio no bairro social da Outurela e Portela, existe há mais de duas décadas. Ao longo dos anos, foi acrescentando valências à sua actividade: tem apoio domiciliário a idosos, fornece alimentação, tem o banco alimentar com cabazes para as famílias do bairro, uma creche, um ATL, e até uma clínica dentária social. A pandemia fê-los diminuir os apoios: a creche, o ATL e a clínica fecharam, o resto mantém-se.
“É quase um padrão das instituições todas. Mantêm o apoio domiciliário, as refeições, e em alguns casos aquilo a que chamam banco alimentar, que é a distribuição de sacos de alimentos às famílias”, nota Isabel Jonet.
Com a carrinha carregada, é hora de Bruno e José partirem para a associação para deixarem os alimentos, que serão distribuídos pelas famílias. O projecto Família Global apoia 168 agregados e, para já, não surgiram novos pedidos de ajuda — até porque grande parte das famílias do bairro beneficia de Rendimento Social de Inserção ou então são reformados. “Mas há angústia pela incerteza”, repara a assistente social da instituição, Marisa Cardoso. “As pessoas estavam com medo que deixássemos de fazer entregas.”
A associação apoia 168 famílias do bairro social da Outurela e Portela com bens alimentares
Ela e Isabel Ribeiro, também da associação, vão acomodando os bens recebidos para que caibam nos frigoríficos. Naquela tarde, iam começar a distribuição dos cabazes mensais. As prateleiras estão cheias de pacotes de arroz, massas, farinha e açúcar, azeite, óleo, enlatados, salsichas, atum, bolachas. Semanalmente entregam os frescos. “Aqui, apoiamos desde a família de sete, até ao agregado familiar de um”, diz Marisa Cardoso.
No refeitório da associação, perto do meio-dia, acabavam de encher as marmitas para os 38 idosos que apoiam. Mesmo a meio-gás têm continuado a sua missão. Parar é um luxo que eles não têm, caso contrário muita gente ficaria desamparada, diz Isabel Ribeiro. “Para já, vamo-nos aguentando.”
9.3.18
Depois do «pânico», ciganos pedem ajuda para recuperar o que o tornado destruiu
Por Pedro Lemos, in Sul Informação
Foram «momentos de pânico», com crianças a chorar e «tudo a ir pelos ares». A comunidade cigana do Cerro do Bruxo não esquece o tornado que ontem, 4 de Março, arrasou o seu acampamento. Agora, as cerca de 130 pessoas estão no Pavilhão Municipal da Penha, até o tempo melhorar, mas exigem que a Câmara de Faro as ajude a recuperar o que o tornado destruiu.
À porta do Pavilhão, há crianças, jovens, adultos e idosos. Uns vão conversando e outros apenas estão sentados a olhar para a estrada que passa ali perto. Todos passaram lá à noite e têm sido ajudados por técnicos de Ação Social da Câmara de Faro. A autarquia tem, também, providenciado refeições a todos os desalojados.
Henrique Garcias Martins está sozinho à entrada. Ao Sul Informação, recorda a tarde de ontem. «Foi tudo pelo ar. Foram placas, plástico. Nós não sabíamos o que fazer. Tudo aconteceu de repente».
A primeira reação de todos foi fugir para o Hospital de Faro para se abrigarem. «Entrou a água toda, partiu as portas. Agora temos de nos aguentar», refere.
Maria de Lurdes Martins também foi uma das afetadas. Tem a filha ao colo e fala com emoção na voz. «Os meus filhos são doentes e estão assustados. Não querem ir para as barracas porque temos tudo encharcado».
Com a sua filha pequena ao colo, garante que «não arranca» do Pavilhão «até o presidente decidir alguma coisa para todos nós». E que solução poderá ser essa? «Arranjar-nos uma casa ou madeira para fazermos uma barraca. Mas, se fizer estes ventos, voa tudo outra vez», diz.
Rogério Bacalhau, num briefing com os jornalistas, realizado na manhã desta segunda-feira, 5 de Março, falou sobre o futuro desta comunidade cigana.
«Mal o tempo esteja com maior estabilidade, vão voltar às suas casas. Em 2012, todo este acampamento ficou destruído. Logo que as condições o permitam vão ter de regressar. Nós estamos a estudar soluções para o futuro», disse.
Quanto a uma possível ajuda a estas pessoas, o edil explicou que, «se se justificar, podemos ajudar na reconstrução de algumas casas». Só que, alerta, «o município tem uma carência muito grande de habitação social. Temos uma lista de espera muito grande».
Na visita que o Sul Informação fez ao acampamento do Cerro do Bruxo, comprovou a destruição que o tornado deixou. Por todo o lado, vêem-se chapas que voaram, mas também portas arrancadas e sítios alagados. A situação mais preocupante é de duas barracas que foram destruídas.
Numa delas, moravam João Manuel e Dulce Madeiro que, esta manhã, ainda faziam contas aos estragos. «Tinha aqui os meus quatro filhos, graças a Deus que não lhes aconteceu nada de mal», diz Dulce, enquanto olha para o pouco que resta.
Passaram a noite na casa de um familiar e, tal como a comunidade cigana que está no Pavilhão, pedem a ajuda da Câmara neste momento de dor.
«Isto foi enorme. Destruiu tudo», conclui Dulce, emocionada.
Foram «momentos de pânico», com crianças a chorar e «tudo a ir pelos ares». A comunidade cigana do Cerro do Bruxo não esquece o tornado que ontem, 4 de Março, arrasou o seu acampamento. Agora, as cerca de 130 pessoas estão no Pavilhão Municipal da Penha, até o tempo melhorar, mas exigem que a Câmara de Faro as ajude a recuperar o que o tornado destruiu.
À porta do Pavilhão, há crianças, jovens, adultos e idosos. Uns vão conversando e outros apenas estão sentados a olhar para a estrada que passa ali perto. Todos passaram lá à noite e têm sido ajudados por técnicos de Ação Social da Câmara de Faro. A autarquia tem, também, providenciado refeições a todos os desalojados.
Henrique Garcias Martins está sozinho à entrada. Ao Sul Informação, recorda a tarde de ontem. «Foi tudo pelo ar. Foram placas, plástico. Nós não sabíamos o que fazer. Tudo aconteceu de repente».
A primeira reação de todos foi fugir para o Hospital de Faro para se abrigarem. «Entrou a água toda, partiu as portas. Agora temos de nos aguentar», refere.
Maria de Lurdes Martins também foi uma das afetadas. Tem a filha ao colo e fala com emoção na voz. «Os meus filhos são doentes e estão assustados. Não querem ir para as barracas porque temos tudo encharcado».
Com a sua filha pequena ao colo, garante que «não arranca» do Pavilhão «até o presidente decidir alguma coisa para todos nós». E que solução poderá ser essa? «Arranjar-nos uma casa ou madeira para fazermos uma barraca. Mas, se fizer estes ventos, voa tudo outra vez», diz.
Rogério Bacalhau, num briefing com os jornalistas, realizado na manhã desta segunda-feira, 5 de Março, falou sobre o futuro desta comunidade cigana.
«Mal o tempo esteja com maior estabilidade, vão voltar às suas casas. Em 2012, todo este acampamento ficou destruído. Logo que as condições o permitam vão ter de regressar. Nós estamos a estudar soluções para o futuro», disse.
Quanto a uma possível ajuda a estas pessoas, o edil explicou que, «se se justificar, podemos ajudar na reconstrução de algumas casas». Só que, alerta, «o município tem uma carência muito grande de habitação social. Temos uma lista de espera muito grande».
Na visita que o Sul Informação fez ao acampamento do Cerro do Bruxo, comprovou a destruição que o tornado deixou. Por todo o lado, vêem-se chapas que voaram, mas também portas arrancadas e sítios alagados. A situação mais preocupante é de duas barracas que foram destruídas.
Numa delas, moravam João Manuel e Dulce Madeiro que, esta manhã, ainda faziam contas aos estragos. «Tinha aqui os meus quatro filhos, graças a Deus que não lhes aconteceu nada de mal», diz Dulce, enquanto olha para o pouco que resta.
Passaram a noite na casa de um familiar e, tal como a comunidade cigana que está no Pavilhão, pedem a ajuda da Câmara neste momento de dor.
«Isto foi enorme. Destruiu tudo», conclui Dulce, emocionada.
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