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3.3.21

Plano de Recuperação e Resiliência tem que contemplar políticas de emprego, diz CCP

in Económico

A confederação do comércio e serviços lamentou também a ausência de uma política territorial, vincando que as cidades têm que ser incluídas no PRR, necessitando de novos instrumentos para saírem da crise.

A Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP) defendeu esta terça-feira que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) deve dinamizar a procura, dando atenção a políticas de emprego para assegurar a capitalização e sustentabilidade das empresas.

“O PRR não pode confinar-se em ações com impacto apenas no médio prazo, pois é essencial, no mais curto espaço de tempo, dinamizar a procura […]. E, deste modo, o plano tem que ter em atenção políticas de emprego e de viabilização do tecido produtivo, incorporando medidas que, não sendo propriamente de emergência, devem estar focadas no propósito de assegurar a sustentabilidade financeira das empresas e a sua capitalização”, indicou, em comunicado, a CCP.

A confederação apontou ainda como uma das dificuldades de leitura do plano a falta de enquadramento com outros instrumentos como o Portugal 2020, o Portugal 2030, o Programa Nacional de Reformas ou o programa Nacional da Política de Ordenamento do Território.

No entanto, disse concordar com algumas das ideias presentes no PRR, como a afirmação da vocação atlântica de Portugal, a necessidade de colocar as empresas no centro da recuperação económica, a importância de apoiar a tesouraria das empresas ou a necessidade de reforma do Estado e de revisão do modelo de financiamento da Segurança Social.

A CCP identificou um “desequilíbrio notório” na afetação dos recursos financeiros entre investimento público e privado, considerando que a “preponderância” do primeiro no plano “é excessiva”.

Por outro lado, considerou ser preocupante a “discriminação perfeitamente assumida” dos setores “cujo contributo para a competitividade do país é determinante e o ter-se optado por uma estratégia de confrontação entre escolhas setoriais, onde a principal orientação expressa é a da reindustrialização”.

De acordo com CCP, o plano deveria assim estar orientado para a valorização “dos fatores de competitividade e para uma abordagem integrada das cadeias de valor”, sem escolhas setoriais e com uma aposta no robustecimento da integração de atividades e setores.

A confederação lamentou também a ausência de uma política territorial, vincando que as cidades têm que ser incluídas no PRR, necessitando de novos instrumentos para saírem da crise.

A aposta tem que estar assim na habitação, melhoria das acessibilidades em edifícios públicos, descarbonização dos transportes públicos, eficiência energética e em novas políticas que “implicam repensar a cidade futura, como um espaço que se quer inteligente, ecológico e sustentável ambientalmente, mas também vivo, dinâmico e interativo”.

Para a CCP, “sem comércio e serviços de qualidade não é possível tornar as nossas cidades de novo atrativas e sem políticas de cidade que valorizem o espaço público e as atividades de comércio dificilmente conseguirão sobreviver”.

A confederação estranhou a ausência do ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, na equipa de coordenação do plano, notando ainda que a comissão nacional de acompanhamento vai desempenhar um “papel diminuto”.

Relativamente à área da saúde, a CCP disse que as farmácias comunitárias podem melhorar a qualidade dos cuidados prestados, potenciando respostas ao nível do diagnóstico precoce, resposta a desafios do envelhecimento da população e à integração da rede de farmácias nos programas de vacinação, permitindo uma “maior massificação” da cobertura vacinal.

Ainda dentro da saúde, a confederação disse que os sistemas de informação entre farmácias e prescritores podem potenciar um melhor acompanhamento do doente e que a rede de farmácias é “essencial na resposta de saúde de proximidade”.

Ao nível das respostas sociais, nomeadamente no domínio da natalidade e envelhecimento demográfico, a confederação referiu ser desejável que o PRR contemple a definição de uma estratégia para enfrentar o desafio demográfico, um debate sobre a sustentabilidade da Segurança Social para a introdução de novas soluções, uma política que facilite as restruturações empresariais e um balanço das profissões que beneficiam de regimes especiais de reforma.

“Criação de instrumentos financeiros que facilitem a concretização de projetos de urbanismo comercial, nomeadamente nos centros históricos das cidades, que articulem a requalificação do espaço público com a requalificação e reanimação dos espaços e atividades do comércio e serviços, medida fundamental num momento em que se perspetiva um retrocesso significativo na qualidade dos núcleos com grande predomínio de comércio e serviços de proximidade”, avançou a confederação como uma das iniciativas para o comércio e serviços de proximidade.

A CCP considerou ainda que, para repor a capacidade financeira das empresas em níveis pré-pandemia, são necessários apoios financeiros, como o pagamento de compensações pelos prejuízos sofridos pelas empresas dos setores mais atingidos.

O PRR deverá incluir um auxílio “consubstanciado na implementação de um pagamento para compensação dos danos sofridos pelo impacto da covid-19”.

Em matéria de cultura, a confederação propõe o reforço dos apoios do Instituto do Cinema e do Audiovisual, a criação de apoios dirigidos ao investimento na modernização de infraestruturas e equipamentos e o reforço da dotação atribuída ao fundo de apoio ao turismo, cinema e audiovisual.

“A execução do PRR vai coincidir temporalmente com três anos de execução final do PT 2020 e com quatro anos de execução inicial do próximo PT 2030, exigindo um esforço de investimento sem precedentes em Portugal. Este enorme desafio em termos de investimento público exige uma explicitação adequada sobre a estratégia e as medidas concretas que o Governo prevê adotar para a sua boa viabilização”, notou.

A confederação encontrou ainda lacunas no que se refere à mobilidade sustentável, como a ausência de estímulo à compra de veículos elétricos e híbridos, pedindo o reforço dos postos de carregamento.

O PRR tem um período de execução até 2026 e prevê um conjunto de reformas e investimentos para alavancar o crescimento económico.

14.8.17

Desemprego a descer e a política a desmerecer

Por António Bagão Félix, in Público on-line

Há dias, foram conhecidos os resultados do inquérito trimestral ao emprego do INE, relativo ao 2º trimestre de 2017. Verifica-se uma sensível melhoria no mercado de trabalho, em praticamente todos os índices. Em termos homólogos comparando o 2º trimestre de 2017 face ao 2º trimestre de 2016 (assim se evitando desvios de sazonalidade), podemos constatar que:

– A população empregada cresceu 3,4% (+158 mil), o que permitiu diminuir a taxa de desemprego em 2 pontos percentuais (de 10,8% para 8,8%) correspondente a menos 98 mil desempregados e aumentar a taxa de actividade de 50,1% para 50,8%.

– As duas expressões de desemprego mais gravosas também tiveram uma assinalável quebra: desemprego de longa duração, DLD, de 6,9% para 5,2% e desemprego juvenil de 26,9% para 22,7%. Os DLD representam agora 59% do total contra 64% há um ano.

– Ainda que com valor mais reduzido, assinalam-se o número de desempregados que têm formação superior (87 mil) e os jovens à procura do primeiro emprego (54 mil).

– Vista do lado do emprego, a evolução foi também positiva. Para o já citado aumento do volume de emprego de 158.000 trabalhadores contribuíram fundamentalmente os trabalhadores por conta de outrem com contrato sem termo (142.000), já que os contratados com termo tiveram um ligeiríssimo aumento (16.000). Excelente resultado que se deve às empresas, não havendo dados para se saber qual o impacto do aumento do emprego público pago pelos contribuintes.

– A população tecnicamente inactiva, mas desencorajada para voltar ao mercado de trabalho (os chamados inactivos disponíveis, mas que não procuram emprego), reduziu-se em 14,5% (de 239 mil para 205 mil). Igualmente o trabalho a tempo parcial subutilizado diminuiu 6,7%, mantendo, todavia, um valor elevado de 210 mil pessoas. Se considerarmos a taxa de subutilização do trabalho, que é o indicador que agrega a população desempregada, o subemprego de trabalhadores a tempo parcial, os inactivos à procura de emprego, mas não disponíveis e os inactivos disponíveis, mas que não procuram emprego, todos em relação à população activa alargada temos, ainda, a elevada e indesejável taxa de 16,6%, correspondentes a 904 mil pessoas.

Em suma, dados globalmente positivos, ainda que longe do início do século. E daqui parto para uma constatação que não enobrece a politics. De um lado, a oposição que não é capaz de saudar o essencial destes dados sem quaisquer reticências; de outro lado, o governo e os partidos apoiantes que ignoram injustamente o quinhão da responsabilidade do anterior Executivo na diminuição acentuada da taxa de desemprego (por exemplo, é bom recordar que a maior descida se verificou entre o 2º trimestre de 2013 e de 2014, de 16,4% para 13,9%, isto é 2,5 pontos percentuais) e, também, em algumas medidas políticas que, seguramente, contribuíram para a melhoria da evolução do emprego. De ambos os lados, silêncios parciais, ensurdecedores e comprometidos. Será que em Portugal temos de aturar sempre governos e maiorias (ainda que circunstanciais e tácticas) que, relativamente a governos anteriores, ignoram o que é positivo e os responsabilizam por tudo o que é negativo, bem como oposições que não são capazes de reconhecer mérito a governos em funções? Que pobreza!

Também no contexto europeu, o desemprego é totalmente ignorado nos tratados (em 410 páginas dos tratados e da carta dos direitos fundamentais não se encontra uma vez sequer a palavra “desemprego”), sendo encarado como uma mera resultante das outras variáveis macroeconómicas.

A verdade é que a mais personalizada avaliação ético-social da política está sempre relacionada com a criação ou destruição de emprego. Porque se trata de pessoas, não apenas de frios números.

5.11.13

OIT contra medidas indiscriminadas em Portugal que afectem o emprego

in iOnline

Nos últimos anos, "entre as políticas adotadas como consequência do pedido de assistência" financeira, verificaram-se "algumas medidas que claramente afetaram o crescimento económico e o desemprego", reconheceu Raymond Torres
O diretor do Instituto de Estudos sobre o Trabalho da Organização Internacional do Trabalho (OIT) afirmou à Lusa que o caso português não recomenda "medidas indiscriminadas de cortes orçamentais, sobretudo em áreas importantes para o emprego".

Em declarações à Lusa, Raymond Torres, admitiu que, "se há dispositivos ineficazes ou despesas inúteis, a racionalização do orçamento público é normal", mas sem causar problemas adicionais no "crescimento económico e desemprego".

Nos últimos anos, "entre as políticas adotadas como consequência do pedido de assistência" financeira, verificaram-se "algumas medidas que claramente afetaram o crescimento económico e o desemprego", reconheceu Raymond Torres.

"Se a Europa tivesse tido à disposição instrumentos de coesão mais fortes na zona Euro" e "se houvesse uma verdadeira união bancária, possivelmente a situação atual podia ter sido diferente", salientou.

"Portugal enfrenta a situação económica e social mais crítica da sua história económica recente. Desde o início da crise global, em 2008, perdeu-se um em cada sete empregos -- a mais significativa deterioração do mercado de trabalho entre os países europeus, depois da Grécia e de Espanha", refere o relatório sobre o mercado de trabalho e o desemprego em Portugal, hoje apresentado.

Para o dirigente da OIT, a atual situação "tem consequências graves em termos de confiança nos sistemas políticos e o que pode causar uma fragmentação dos sistemas políticos, um desinteresse crescente acerca do sistema eleitoral", compreendendo a fuga de mão-de-obra qualificada para outros países.

"Para alguns jovens é a melhor opção porque não há trabalho e ter uma experiência profissional é uma boa coisa", disse, embora salientando que este êxodo leva também a custos económicos para o país.

"Portugal tinha investido na educação de jovens e de alguma forma este investimento fica perdido", disse Raymond Torres, salientando que o relatório sugere uma série de medidas suplementares para ajudar o país a sair da crise, com maior aposta nas exportações para fora da Europa e melhor financiamento das pequenas e médias empresas (PME).

Para os jovens, a OIT recomenda a implementação de ações de formação e apoios sociais para combater o desemprego juvenil.

"Em relação a outros países, a cadeia de decisão ainda funciona em Portugal e não podemos subestimar isso. Desta forma as recomendações podem ser imediatamente aplicadas", concluiu Raymond Torres.