Alexandra Marques, in Jornal de Notícias
Nos países da União Europeia (UE) - "e Portugal não é excepção", disse ontem, António Vitorino - cerca de 60% da população considera que "já há demasiados imigrantes" na Europa. Mas as recomendações do Fórum Gulbenkian Imigração, coordenado pelo ex-comissário europeu vão no sentido de se adoptarem políticas mais flexíveis. Nem uma UE-fortaleza nem "portas abertas". Um meio termo porque é benéfico para a UE captar cérebros e criar uma noção de pertença nesses imigrantes, o que passa por reforçar os direitos políticos, além da nacionalidade, como o de votar e ser eleito deputado ou até governante.
Na abertura do painel sobre as recomedações compiladas em livro pela fundação, em que esteve presente o primeiro-ministro José Sócrates, o orador resumiu a ideia numa frase "A imigração é um fenómeno que veio para ficar, que vai exigir coragem, liderança política e, às vezes, ir contra a opinião da maioria".
Ao auditório, o agora membro do grupo de trabalho da Comissão Europeia para as Políticas de Imigração, disse que "a percepção de que há um excesso de imigrantes, e não se lhes pode chamar xenófobos ", ressalvou, "está errada". "Mas não basta dizer que está errada. É preciso ultrapassar estas resistências", aludiu.
Se "a imigração desregulada pode ser uma ameaça", tanto para quem acolhe como para quem se sente rejeitado, a solução não é , por outro lado, aceitar todos "Se tivéssemos as portas abertas não acabava a imigração ilegal".
O ex-ministro referiu ainda que não são só "os miseráveis e os desesperados que imigram. "A fuga de cérebros" para países mais ricos existe e, como outros, só querem ficar um certo tempo, mas a Europa quase os obriga a integrarem-se, referiu.
Vitorino apontou depois dois modelos de integração distintos, para mostrar que "estão todos em declínio" o da França, "de assimilação e igualdade cidadã perante a lei, "mas que foi incapaz de combater a discriminação no acesso ao mercado de trabalho" dos magrebinos; e o do Reino Unido que levou ao limite máximo o respeito pelas comunidades, que as isolou, sem laços de coesão.
Tudo isto, para salientar "que não há integração política, sem direitos políticos" como o direito de voto nas legislativas", apenas permitido nas autárquicas.
A banca portuguesa foi ainda desafiada a isentar de taxas as transferências de remessas de imigrantes, como fez um banco espanhol e a financiar projectos de imigrantes através do recurso ao micro-crédito ou de parcerias com os países de origem. Uma forma de ajudarem a desenvolver as suas pátrias.
Algo que Portugal não aproveita, assinalou, em alusão às 45 mil empresas de portugueses ou luso-descendentes em França, como referiu de manhã, o embaixador português em Paris.
António Monteiro sublinhou ainda que, dos dois mil milhões e meio de euros em remessas de emigrantes para Portugal, 980 milhões vieram de França.
Europeus favoráveis a fronteiras mais vigiadas
George Therhanian mostrou quadros comparativos oito em cada dez europeus quer um controlo fronteiriço mais apertado e nove em cada dez considera a imigração ilegal um problema. Dois terços diz que há imigrantes a mais no seu país. Com os britânicos à frente da lista (76%).
Espanha é o único país que só vê lado positivo Só a Espanha e a França dizem que a imigração teve um impacto positivo nos seus países e só os espanhóis que o efeito é mais positivo que negativo.
Alemães apontam queda de emprego como ónus
A maioria dos alemães (69%) considera que o trabalho imigrante levou à redução do emprego e tem a visão mais negativa da adesão dos 12 novos países à União Europeia.
Mulheres sozinhas e países com duplo papel
"Cada vez mais as mulheres saem dos países, sozinhas ou com filhos, sem o marido ou os pais", disse António Vitorino. E um terço dos países, a nível mundial, já é emissor e receptor de migrantes. Por exemplo, Moçambique, como referiu o presidente Joaquim Chissano.