2.7.07

A Europa como "enxame de abelhas"

Alexandra Inácio, João Girão , in Jornal de Notícias

Sócrates com a "geração Europa" aprovação do novo Tratado será "a prioridade das prioridades" da presidência portuguesa da União Europeia


Foi em tom informal, mesmo intimista, que José Sócrates quis assinalar o início da presidência portuguesa da União Europeia. Naquela que será a sede dessa administração - a sala Tejo do Pavilhão Atlântico, em Lisboa - encontrou-se com 27 jovens um representante de cada estado-membro, que estuda ou trabalha em Portugal. O espírito federalista do Tratado Europeu, as alterações climáticas, a criação de uma política europeia para as migrações ou a adesão da Turquia foram algumas das questões colocadas, a que o primeiro-ministro respondeu sempre tratando todos por "tu".

A pergunta foi colocada pelo jovem do Chipre "A Europa irá falar a uma só voz, depois da aprovação do Tratado?". Naturalmente que não, retorquiu Sócrates. "A Europa não ficará perfeita, não falará a uma só voz, mas ficará melhor" e "quando nos apresentarmos numa cimeira com a Índia, a China ou a Rússia, eles saberão que estaremos mais fortes".

Sentado no centro da sala - num mini-palco destinado a elevar a sua cadeira, que girava à medida que as perguntas iam sendo colocadas - José Sócrates recorreu a uma frase do filósofo espanhol Ortega y Gasset para definir a unidade do projecto europeu "A Europa é um enxame de abelhas num só voo". E o maior desafio, apontou, é mantê-las unidas nesse voo.

À representante da Eslováquia o primeiro-ministro garantiu que a aprovação do Tratado "será a prioridade das prioridades" até ao final da presidência portuguesa, a 31 de Dezembro. "Estou convencido de que vamos fazer esse trabalho e tenho a certeza de que o primeiro-ministro do teu país nos ajudará muito", disse.

"No meu país sempre nos disseram que o comunismo foi uma mentira e a democracia a verdade. Qual será a verdade do Tratado? Será mais federalista?", questionou a jovem da Roménia. "Há muitas vantagens na democracia e uma delas é a transparência", começou por responder Sócrates, garantindo depois que o Tratado será mais reformador e menos federalista, para dar "melhores condições de funcionamento" à UE.

A proximidade conduziu a sessão de perguntas, que pretendia ser um momento simbólico. Os jovens, vestidos a rigor - os rapazes de fato e gravata - aguardavam ansiosos. Sócrates chegou sorridente, de calças de ganga e sem gravata, tal como os ministros Silva Pereira e Luís Amado. Cumprimentou todos com beijos e apertos de mão, depois de confirmar que falavam português. Apresentado como o presidente do Conselho Europeu, dirigiu-se ao grupo como representante da "geração Europa", a que cresceu "sem os traumas da guerra ou das injustiças provocadas pelas ditaduras".

Além do Tratado, a modernização das economias e a proximidade a África e ao Brasil serão as prioridades da presidência portuguesa, apontou. Respondendo a questões colocadas pelos jovens de Espanha, Luxemburgo e Alemanha, disse que deseja uma Europa líder no combate ao aquecimento global e quer definir, numa conferência internacional, as bases de um política europeia para as migrações, que combata o tráfico de seres humanos e promova estratégias de integração e coopere com os países de origem.

Sobre a adesão da Turquia, frisou que a UE não pode fugir ao compromisso da negociação, apesar de os turcos terem um longo caminho a percorrer, se quiserem cumprir os critérios fixados.

No Porto, antes do concerto na Casa da Música que assinalou o início da presidência, Sócrates assegurou que a administração e a diplomacia portuguesas estão preparadas para assumir a responsabilidade de liderar a Europa por seis meses. "Temos ideias claras sobre aquilo que queremos fazer o tratado europeu", disse, valorizando a cooperação policial na Europa como "absolutamente essencial" no combate ao terrorismo.