Céu Neves, in Diário de Notícias
270 milhões de pobres a menos no mundo
O número de pobres no mundo baixou de 1,25 mil milhões para 980 milhões de pessoas, o que corresponde a 16% dos habitantes da Terra. Mas há ainda um longo caminho a percorrer para se cumprirem as metas de desenvolvimento até 2015, sublinham as Nações Unidas. Eis algumas cifras negras: morrem anualmente 500 mil mulheres por complicações evitáveis derivadas da gravidez e do parto e as mortes por sida aumentaram para 2,9 milhões em 2006 (2,2 milhões em 2001). Em 2005, 15 milhões de crianças perderam um ou ambos os pais devido à pandemia.
"Falta ainda muito para o êxito global estar assegurado", sublinha o relatório dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio 2007 (OMD), que será apresentado hoje em Genebra.
Os peritos da ONU registam os "progressos significativos no sentido de reduzir para metade a pobreza extrema". Sublinham, no entanto, que a evolução positiva está a ser lenta e que na Ásia Ocidental há recuos. Nesta região, a taxa de pobreza duplicou de 1,6% da população para 3,8% nos últimos 14 anos. E, além disso, os que são pobres são cada vez mais pobres.
Desigualdades
Na África subsariana, a taxa de pobreza extrema baixou quase cinco pontos percentuais, de 45,9% da população (em 1999) para 41,1% (2004), mas ainda estão longe de conseguir os objectivos propostos até 2015: reduzir para metade o número de pobres.
O panorama é mais animador no Sul e Sudoeste da Ásia e Extremo Oriente, onde "o crescimento económico colocou a região a caminho de alcançar a meta de pobreza dos OMD", diz o relatório. E registam-se alguns progressos em certos países africanos, o que demonstra que é possível alcançar os objectivos se "há uma liderança política forte, políticas consistentes, estratégias práticas associadas a apoios financeiros e técnicos internacionais".
Os objectivos para o saneamento básico também estão a ser difíceis de alcançar. Metade da população do mundo em desenvolvimento continua a não ter acesso ao saneamento básico. A meta era que mais 1,6 mil milhões de pessoas vivessem as casas com as infra-estruturas básicas, mas a manter-se a actual situação, 600 milhões ficarão fora desse objectivo. Estas pessoas vivem sobretudo na África subsariana, onde existem as maiores desigualdades em termos de acesso a bens básicos.
Entre as razões para a falta de progressos mais visíveis, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, destaca no prefácio do relatório, o "facto de os benefícios do crescimento económico não estarem a ser distribuídos de forma equitativa. Além disso, nalguns países os esforços estão a ser comprometidos pela insegurança e instabilidade causadas por factores como os conflitos armados e o VIH/sida.
Ban Ki-moon puxa as orelhas à comunidade internacional, acusando os países ricos de fugirem à responsabilidades a que se comprometeram em 2000, na cimeira promovida pela ONU e em que foram aprovados os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio até 2015. E, em 2005, na Cimeira de Gleneagles, concordaram com o reforço do apoio monetário, o que não aconteceu. Em alguns casos, as ajudas diminuíram.
"Os países mais industrializados do mundo comprometeram-se a duplicar a ajuda a África até 2010, mas a ajuda oficial total diminuiu em termos reais em 2,1% entre 2005 e 2006. Só cinco países doadores alcançaram ou excederam a meta das Nações Unidas de afectar 0,7% do seu Produto Interno Bruto à ajuda ao Desenvolvimento", diz o secretário-geral da ONU, concluindo: "Não restam dúvidas que é necessário que os líderes políticos tomem medidas urgentes e concertadas".
O relatório da ONU chama ainda a atenção para os perigos do aquecimento global e alterações climatéricas, "cujos efeitos potencialmente catastróficos se começam a fazer sentir na área económica e social", refere José António Campo, subsecretário-geral para os assuntos económicos e sociais. As emissões de dióxido carbono, o principal responsável das mudanças, passaram de 23 mil milhões de toneladas em 1990 para 29 mil milhões em 2004.