Ciganos apontam discriminação

CÉU NEVES,VASCO NEVES, in Diário de Notícias

Queixa. José Maia diz que não lhe entregaram casa
José Maia, um empresário cigano, assinou um contrato-promessa de compra e venda de um apartamento nas Colinas do Cruzeiro, em Odivelas (Lisboa). E deu 50 600 euros para a família se mudar o mais rápido possível para o novo domicílio. Só nessa altura os promotores da obra se aperceberam de que tinham vendido a casa a ciganos e, quando estes se ausentaram, mudaram as fechaduras. Uma prática que a Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CIDR) condena.

"Fui várias vezes ver o apartamento, falar com os donos da casa, acabando por a comprar. A minha aparência não é a de um cigano e eu também me esqueci de o referir", conta José Maia. E acrescenta: "Só no dia da mudança é que viram que éramos ciganos e, quando fomos almoçar, mudaram as chaves."

Gonçalo Moita, responsável pela CIDR, defende que "o princípio que está na base desse comportamento deve ser combatido". E alerta: "Sei que, da parte dos proprietários, há discriminação em relação à etnia cigana, o que atira a comunidade para guetos e dificulta a sua integração."

O caso de José Maia foi denunciado pelo SOS Racismo por considerar que se está perante mais "um nítido caso de xenofobia". E critica: "Mais uma vez, a sociedade cujos dirigentes não se cansam de se autoproclamarem como os melhores na integração das diferentes comunidades esbarra com a realidade e com estereótipos que persistem."

Amanhã está previsto um encontro entre o proprietário do imóvel (Grupo Obriverca) e José Maia no sentido de se chegar a um acordo. O DN não conseguiu falar com os responsáveis da empresa e o comprador insiste em ficar com a casa, que será sobretudo habitada por uma filha.

Mas há também entre a comunidade cigana quem se aproveite da situação para angariar dinheiro, como um esquema recentemente desmontado no Algarve. Alguém sem características físicas ciganas dá o sinal para a compra de um apartamento e, depois, quem surge para o habitar é uma família cigana. O proprietário recusa-se a fazer a escritura, acabando por duplicar o sinal.

A CIDR mediou dois processos de ciganos com um caso idêntico ao de José Maia, mas as partes acabaram por chegar a acordo. O dono dobrou o sinal.

José Maia recusa que tenha pretendido dar o "golpe". Diz que tem vários apartamentos em Aveiro, três dos quais em seu nome, e um nos Estados Unidos. Sublinha que esta foi a primeira vez que se sentiu discriminando ao tentar comprar uma casa. O empresário faz importação/exportação e a sua ideia é dar uma casa a cada um dos oito filhos.