26.2.09

Igreja mobiliza-se contra a crise

in Agência Ecclesia

Quaresma é marcada por apelos em favor da partilha e da solidariedade por parte dos Bispos do nosso país


A crise económica e financeira mundial que ganha impactos particulares na sociedade portuguesa é a preocupação dominante dos Bispos portugueses. As consequências sociais são uma realidade próxima de quem acompanha a vida em cada diocese, traçando um quadro de atenção aos mais pobres, sejam famílias carenciadas, os sem-abrigo ou crianças.

A atenção cristã e solidária está patente nos destinos das renúncias quaresmais de 2009. D. Manuel Quintas, bispo do Algarve, indica que os cristãos não podem “ficar surdos ao clamor dos pobres ou fechar o coração diante do sofrimento dos outros” perante a “insegurança e a instabilidade geradas pela crise financeira, económica e social em que vivemos”. Já D. Manuel Pelino, Bispo de Santarém, dá conta de um “momento de profunda crise da economia que se traduz numa crise social que a todos atinge e preocupa. Cada vez há mais necessitados”.

Mas se as mensagens se revestem de alertas, não ganham a forma de lamentos. Vários bispos afirmam que a crise constituiu uma oportunidade para mudar de vida. D. Manuel Pelino indica ser uma ocasião para “rever o modelo de sociedade e o estilo de vida pautado pelo consumismo desenfreado”. O bispo de Santarém evoca em especial os cristãos, para quem esta situação é um convite “a pôr em prática o estilo de vida evangélico, mais simples e austero, menos consumista e menos egoísta, menos centrado em cada um e mais solidário”. Também D. Januário Torgal Ferreira, bispo das Forças armadas e de Segurança apela “à coerência e à moderação”. D. António de Sousa Braga, bispo de Angra, fala num “salto de qualidade na civilização humana”.

A diocese de Leiria – Fátima, com vista à praxis cristã, elegeu o centro de acolhimento da paróquia da Sé de Leiria e a Comunidade Vida e Paz, concretamente na ajuda aos sem-abrigo, pois, indica o bispo, “num ano marcado pela crise sócio-económica as primeiras vítimas são os mais pobres”.

A diocese de Lisboa volta-se para as crianças da Casa do Gaiato, apostada em continuar a obra do Padre Américo que promoveu a educação e reintegração de crianças e jovens em risco. Coimbra vai apoiar também os mais pequenos da Casa de Mira da Obra do Frei Gil, privilegiando ainda as crianças, cujos pais estão desempregados, com uma colónia de férias. As crianças de Setúbal vão ter também a ajuda do Ordinariato Castrense, que vai apoiar a Congregação das Missionárias da Caridade.


Famílias carenciadas


A preocupação com a Igreja doméstica é recorrente no episcopado português. Afectadas por créditos e endividamentos, desemprego ou empregos precários, são muitos os casos que chegam aos responsáveis diocesanos, quer directamente quer também através das Caritas.

Algumas dioceses, já consequência do aumento da pobreza e dos pedidos de ajuda, constituíram, em anos anteriores, Fundos Sociais diocesanos.

Angra dispõe também de um Fundo de Solidariedade de ajuda às famílias em maiores dificuldades apostada em quebrar o “fosso entre pobres e ricos”.

D. Jorge Ortiga, centrando a ajuda na Caritas Arquidiocesana, vai criar um espaço capaz de recolher, durante todo o ano, tudo o que “seja útil aos pobres (material) e que, para nós, seja desnecessário”. Será a Casa Alavanca a dar resposta aos inúmeros casos de desemprego que o Arcebispo de Braga acompanha. D. Jorge sublinha mesmo que a situação social “pede alguma coisa dos cristãos".

Ajuda internacional

Conscientes que a crise não afecta exclusivamente os portugueses e dando continuidade aos laços que a Igreja no nosso país mantêm com as Igrejas lusófonas, os bispos portugueses destinam parte da renúncia quaresmal ao países lusófonos.

Aveiro vai ajudar a “Igreja de Benguela que desde há vários anos partilha com Aveiro o dom dos seus sacerdotes”, explica D. António Francisco dos Santos, bispo da cidade dos moliceiros.

Portalegre e Castelo Branco vão ajudar São Tomé e Príncipe, num projecto aviário na Roça “Bôbô Fôrro”, uma exploração agrícola e pecuária pertencente à Caritas daquele país africano. Também Lisboa mantém um “Fundo de Ajuda Inter-Eclesial”, através do qual presta ajuda a Igrejas mais pobres espalhadas pelo mundo.