24.2.09

Número de pessoas sem emprego cresceu 27,3 por cento em Janeiro

João Ramos de Almeida, in Jornal Público

Os números do mês passado prolongam uma tendência já visível desde meados de 2008 e revelam o segundo maior pico de crescimento dos últimos 30 anos


Foi a segunda maior subida mensal em 30 anos, depois de Setembro de 2004. Só em Janeiro passado registaram-se nos centros de emprego 70 mil novos desempregados. Quase todos as actividades contribuíram para a subida do desemprego e apenas o Estado parece fazer contracorrente. O desemprego entre os licenciados voltou a aumentar.

Os dados do desemprego inscrito ontem divulgado pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) mostram que a tendência de subida é inegável. Todos os indicadores do desemprego acentuaram o seu declive ascendente.

Os números de Janeiro passado não são, todavia, os mais altos de sempre. Nesta última década, que apresentou os níveis mais elevados de desemprego, o pico situou-se ao longo da segunda metade de 2005 até ao início de 2006, em resultado da recessão de 2003. Na altura, chegou-se aos 491 mil desempregados registados.

Mas os valores de Janeiro passado não só se aproximam já desse nível, como revelam uma trajectória abrupta de degradação. Só num mês inscreveram-se mais 70 mil desempregados, o que - apesar de Janeiro ser sempre um mês de queda do emprego - representa um prolongamento da trajectória de subida. Se o número de desempregados inscritos em Junho de 2008 tinha crescido 10,5 por cento face a Junho de 2007, agora, em Janeiro passado, a subida foi de 27,3 por cento face a Janeiro de 2008.
Sinal dessa aceleração é igualmente o crescimento mais rápido do número de desempregados inscritos há menos de um ano e, por outro lado, de estar a ser cada vez mais difícil a colocação dos desempregados há mais de um ano. A prova é que caiu tanto o número de ofertas de emprego ao longo de Janeiro, como o das colocações pelos centros de emprego.

Os valores da execução orçamental, divulgados ontem pela Direcção-
-Geral do Orçamento, confirmaram a tendência. Em Janeiro, as despesas com o subsídio de desemprego aumentaram 8,6 por cento, face a Janeiro de 2008.

A subida do desemprego foi generalizada em todo o país (mais 12,1 por cento). Mas continua a sangrar sobretudo o Norte, que concentra 43 por cento do desemprego inscrito, e a região de Lisboa e Vale do Tejo, com 29 por cento.

Por ramos de actividade, são ainda a construção e as actividades ligados ao imobiliário as mais afectadas. Em Janeiro, eram já 97 mil pessoas inscritas. A seguir, surge o comércio grossista e o retalhista, com mais 50 mil desempregados.
Mas se o desemprego começou nos serviços, a indústria já foi tocada. Em Janeiro passado, o número de trabalhadores industriais representava mais 20,3 por cento do que em igual período de 2008. E o sector têxtil só começou a contribuir para o desemprego desde Dezembro passado. E com subidas pronunciadas.

As mulheres são ainda as mais lesadas (56 por cento do total). Mas a perda do emprego entre os homens está a acelerar-se. O desemprego afecta todos os níveis de instrução, sobretudo os menos qualificados (35 por cento do total). Mas a novidade é que o número de licenciados desempregados (9 por cento do total) voltou a crescer e já contribui para a subida do desemprego registado.

O fim do optimismo

Os números do IEFP deitam por terra algum optimismo que poderia ter subsistido após a divulgação na semana passada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) dos valores da taxa oficial de desemprego para o quarto trimestre de 2008. A taxa situou-se em 8 por cento, correspondendo então a um ligeiro crescimento face à de 7,8 por cento do terceiro trimestre do mesmo ano.

Essa ténue variação apanhou de surpresa o próprio Governo, que esperava uma degradação mais rápida. O primeiro-ministro considerou os números como "animadores" e um sinal de que, "apesar de tudo, a nossa economia continua a progredir e a criar emprego". Já o ministro do Trabalho foi mais cauteloso e lembrou que os problemas não estavam "ultrapassados".

Mas os números do INE não eram o retrato actualizado da conjuntura (ver caixa). Há já vários meses que os valores dos centros de emprego vinham dando sinais de que o mercado de trabalho se estava a degradar. Desde Julho passado que vários sectores registaram subidas do desemprego (construção, imobiliário e hotelaria).

Ao longo do terceiro trimestre de 2008, juntaram-se outros sectores (vestuário, indústrias petrolíferas, comércio, entre outros). No final de 2008, já só algumas actividades não estavam a contribuir para a subida do desemprego. A sua esmagadora maioria registava uma subida de desemprego no final do ano. Os valores de Janeiro passado apenas prolongam abruptamente uma tendência já assinalada antes e nunca assumida pelas autoridades.


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