18.2.09

O caso especial do desemprego português

Editorial, in Diário de Notícias

Os dados do desempenho da economia e do emprego no último trimestre de 2008, agora publicados, traçam, em conjunto, um retrato importante do desempenho dos agentes económicos do País num cenário de colapso à escala internacional. O nosso produto caiu 2% face ao trimestre anterior, com um recuo fortíssimo das exportações devido a uma quebra geral no comércio internacional. Mas o emprego só recuou 0,4% (menos 19 500 postos de trabalho), sem que isso significasse um aumento muito acentuado do número de desempregados. Ele cresceu, apenas, 3900 unidades, já que as restantes perdas no emprego se justificam pela passagem à inactividade, sobretudo de mulheres, que engrossaram o número de reformados.

Desta complexa dinâmica social resulta a constatação de que as empresas estão a tentar manter o emprego, minimizando o impacto social da perda de vendas e, consequentemente, do aumento de existências em armazém, provocando a redução dos níveis de produção em inúmeros sectores produtivos. No actual trimestre, tudo indica que os dados se irão inverter: é provável que a nova quebra no produto não seja tão forte como nos fins de 2008, mas a perda de postos de trabalho será maior, com mais alta incidência no aumento dos desempregados.

Tudo isto aconselha uma concertação social a sério, capaz de distribuir com justiça e equilíbrio a retracção da actividade das empresas, tendo sempre em mira evitar despedimentos. É a prova de fogo das novas normas para a contratação colectiva do Código do Trabalho e do sentido de responsabilidade social dos empresários deste país.

Quem viu Terra Sangrenta, de Roland Joffé, pode ter uma ideia aproximada sobre o terror que viveram os cambojanos de 1976 a 1979 até o exército vietnamita derrubar os khmers vermelhos. Uma ideia aproximada, porque a realidade foi tão dramática, que nenhum filme a pode verdadeiramente retratar. Calcula-se que dois milhões de pessoas tenham sido mortas pelo regime dos khmers vermelhos (que mesmo assim se manteve na ONU após 1979, graças a chineses e americanos) e o nome do seu líder máximo, Pol Pot, tornou-se sinónimo de carniceiro. Julgado pelos seus antigos homens, Pol Pot acabou por morrer em 1998, sem prestar contas perante um tribunal credível. Mas alguns dirigentes estão ainda vivos, entre os quais Kaing Guek Eav (Douch), que dirigiu uma prisão onde 15 mil pessoas foram torturadas. E é este homem franzino, de 66 anos, que está agora a ser julgado em Phnom Penh por um tribunal nacional com assistência de juristas da ONU. No máximo, poderá ser condenado a prisão perpétua, mas só a sua presença perante juízes é já um sinal de que crimes como os cometidos pelos khmers vermelhos não passarão impunes, mesmo que tenham ocorrido há mais de três décadas.