25.2.09

Desemprego é a preocupação central dos alentejanos, perder o emprego vem a seguir

Carlos Dias, in Jornal Público

A taxa de desemprego no Alentejo atingiu os 10,8 por cento no primeiro mês de 2009,
a mais alta do país. Sobe o número de famílias que reclamam apoio em géneros alimentares


O Alentejo continua a ser a região do país que apresenta os mais elevados índices de desemprego. Segundo os dados revelados nos últimos dias pelo Instituto Nacional de Estatística, o número de inscritos nos centros de emprego da região, durante o mês passado, atingiu uma taxa de 10,8 por cento.

Este valor pode já ter sofrido alteração, pois tanto as organizações sindicais como as instituições de solidariedade social da região confrontam-se desde o início de 2009 com o aumento do número de desempregados que deixaram de procurar resposta nos centros de emprego ou de um número crescente de pessoas que reclamam auxílio alimentar.

Em meados de Fevereiro, o PÚBLICO acompanhou elementos do executivo da Câmara de Beja, no contacto com as populações das freguesias rurais do concelho. Francisco Santos, presidente da autarquia, diz que o objectivo da iniciativa Beja, orgulha-se... é dar a conhecer as obras que foram feitas, o que está em marcha e o que se
pode ainda fazer.

Numa das localidades já visitada, Salvada, a sala de reuniões da junta de freguesia estava cheia. Francisco Santos antevia que o desemprego seria a questão mais abordada. Não se enganou. Tem sido assim desde que a autarquia iniciou o contacto com as populações, em 6 de Fevereiro. Olhando as 40 pessoas na sala, a maioria está de cabeça baixa. Os depoimentos confirmam o estado de espírito. Uma responsável de uma instituição de solidariedade social na freguesia da Salvada explica que "está tudo triste por causa do desemprego".

"Folgar a reforma"

Alguns não tiveram coragem para falar em público e aguardaram que o presidente da câmara chegasse à rua para lhe colocar o seu problema. Uma mulher pedia ocupação para o marido. Um idoso implorava trabalho para um dos filhos ou, em alternativa, para um neto que já anda sem "trambelho". Para ver, esclareceu, "se me folgam um pouco a reforma".

Nem os que tinham trabalho estavam mais descansados. "Eles têm medo de perder o emprego", observa o autarca, confirmando que este tipo de questão "é uma constante nos nossos encontros com a população": "Uns falam de desemprego e outros assumem que têm medo de perder o seu posto de trabalho".

Francisco Santos deixa claro que o município não tem condições para solucionar os problemas das pessoas sem trabalho. Mas tenta animá-las com as possibilidades que o novo aeroporto de Beja pode vir a oferecer à região, assim como a instalação, para breve, de uma grande superfície comercial na cidade. A tentativa de alento cheira a futuro e as pessoas querem respostas no presente, que a Cáritas Diocesana de Beja, por exemplo, tem cada vez mais dificuldade em dar. O número de pessoas no refeitório da instituição sobe constantemente, "mas os apoios decrescem", salienta a responsável da instituição, Teresa Chaves.

Todas as instituições de solidariedade social no concelho de Beja "estão com o garrote financeiro ao pescoço", frisa o vereador Miguel Ramalho, dando como exemplo o que se passa no Centro de Apoio Social do Concelho de Beja, que dava apoio a 125 idosos e socorre neste momento 145 com o mesmo fundo de maneio. As dificuldades financeiras e alimentares são extensíveis a um número crescente de imigrantes e estudantes bolseiros. A Cáritas é solicitada a ajudar a comunidade brasileira e cabo-verdiana que vieram "trabalhar na área da construção civil".

Para além de "uma intervenção mais articulada" junto da Cáritas de Beja e de outras instituições sociais, para activar "imediatamente" apoios "às camadas mais desfavorecidas da população e às situações mais dramáticas", a autarquia alentejana compromete-se a garantir o enquadramento de "pelo menos" 50 desempregados, no âmbito do chamado emprego social, e a criar 20 estágios profissionais para jovens licenciados. O município diz que dará prioridade a quem não aufere qualquer rendimento.

Ao mesmo tempo, a Câmara de Beja disponibiliza-se para dar sequência ao que foi acordado na última reunião do Conselho Local de Acção Social (CLAS) de Beja, no passado dia 9, para analisar e debater formas de apoio aos habitantes do concelho que se encontram em condições precárias. Do encontro saiu um apelo a todos os membros para um esforço acrescido, dado o agravamento da situação social, tendo sempre em vista "o direito à dignidade e à salvaguarda da exposição a situações de humilhação". O CLAS concluiu que é "cada vez mais frequente o recurso de famílias às instituições de caridade e apoio social" que até possuíam um razoável suporte económico.

Teresa Chaves, da Cáritas de Beja, teme que os pedidos de auxílio aumentem para além da capacidade de resposta. O problema já se colocou em 2008, quando se registou "um aumento significativo de pedidos de ajuda à instituição". A título de exemplo, o número de refeições servidas no refeitório da Cáritas "cresceu cerca de 30 por cento em relação a 2007".

A responsável também está preocupada com a emergência constante de "novos pobres", oriundos da chamada classe média, explicando que estas pessoas "têm mais dificuldade em assumir que precisam de ajuda". A Câmara de Beja vai discutir hoje as recomendações do CLAS.