19.2.10

Biocombustíveis: meta da UE pode levar 100 milhões de pessoas a passar fome

Virgílio Azevedo, in Expresso

Mais de 100 milhões de pessoas poderão passar fome se a UE cumprir a meta fixada para os biocombustíveis, alerta a agência ActionAid.Clique para visitar o dossiê Tudo sobre As Alterações Climáticas.

Para a UE atingir a meta de 10% de biocombustíveis em 2020 precisa de 175 mil km2 de terras, o equivalmente a metade da área da Itália.

Mais de 100 milhões de pessoas poderão passar fome se os 27 Estados-membros da UE cumprirem as metas estabelecidas pela legislação europeia para os biocombustíveis, conclui um relatório da agência internacional anti-pobreza ActionAid.

Os 27 comprometeram-se a obter 10% dos combustíveis consumidos no sector dos transportes a partir de fontes renováveis até 2020, o que implica quadruplicar o consumo actual, segundo a ActionAid. E 2/3 deste aumento do consumo será assegurado através de importações, com origem maioritária nos países em desenvolvimento.

A substituição de culturas alimentares por culturas destinadas ao fabrico de biocombustíveis vai provocar um aumento nos preços dos alimentos nesses países. De acordo com a ActionAid, cada vez que os preços aumentarem 1% mais 16 milhões de pobres começarão a passar fome.

Biocombustíveis não reduzem emissões de CO2
Por outro lado, a organização fez as contas e concluiu que "a maioria dos biocombustíveis industriais não reduzem as emissões de gases com efeito de estufa quando comparados com os combustíveis que substituem".

E para a União Europeia alcançar a quota de 10% "a área total de terras necessárias para o crescimento de biocombustíveis industriais nos países pobres poderia atingir os 175 mil quilómetros quadrados, isto é, metade da área da Itália".

A maioria dos biocombustíveis industriais vendidos no mercado mundial é fabricada a partir do milho, trigo, cana-de-açúcar e óleos vegetais, como os óleos de palma, soja e colza.

Impacto negativo nos países pobres
A ActionAid salienta que o impacto local da sua introdução nos países em desenvolvimento é grande, porque gera a deslocação de populações, a escassez e subida de preço dos alimentos, falsas expectativas de criação de empregos e a desflorestação.

A UE prevê apresentar um documento sobre critérios de sustentabilidade para os biocombustíveis em Março. Os documentos actualmente em discussão na Comissão Europeia estão a gerar polémica.

A publicação online EurActiv revela que um desses documentos sugere que a produção de biocombustíveis a partir de óleo de palma deve ser incentivada pelos novos critérios ambientais que estão em discussão.

E outro documento avisa que se esses critérios forem apertados podem pôr em sério risco uma indústria europeia com receitas anuais de cinco mil milhões de euros.