23.2.10

Mais de 400 mil pessoas sem qualquer tipo de alojamento

in Diário de Notícias

Mais de 400 mil pessoas continuam a dormir ao relento no Haiti, "a viver sem qualquer tipo de alojamento, nem tendas", disse hoje à Lusa Ricardo Gabriel, da organização não governamental Associação Saúde em Português (ASP).

Contactado telefonicamente pela Lusa a partir de Lisboa, Ricardo Gabriel salientou que "neste momento a OMS [Organização Mundial de Saúde] ainda está a lidar com os problemas actuais. Ainda há cerca de 400 mil pessoas que não têm qualquer tipo de alojamento. Nem sequer tendas. A OMS, apesar de saber que vem aí a época das chuvas, está neste momento a lidar com os problemas dos desalojados".

O Haiti, sobretudo a capital, Port-au-Prince, foi violentamente sacudido por um forte sismo no passado dia 12 de Janeiro, que provocou pelo menos 217 mil mortos e mais de um milhão de desalojados.

Para Ricardo Gabriel, de 30 anos e que chegou no passado dia 10 a Port-au-Prince para a sua primeira missão humanitária em zona de catástrofe, há duas lutas a travar pela ASP no Haiti: salvar pessoas e angariar apoios que permitam continuar a prestar assistência médica.

Composta agora por dois médicos e dois enfermeiros, um dos quais chegou domingo à República Dominicana, a ASP deverá continuar a assistir "entre 20 mil a 25 mil pessoas" somente até ao próximo dia 06 de Março, a não ser que sejam mobilizados mais apoios.

"Tem sido um grande esforço da ASP em Portugal para obter donativos da população e de nós cá, a tentar encontrar outros apoios", afirmou Ricardo Gabriel, que lamentou a falta de apoio do Estado português à missão.

"Mantém-se a falta de apoio. O que temos sabido aqui é que Portugal não tem dado apoio à ASP. Não há apoio à nossa acção", vincou.

"O número de doentes que a equipa da ASP trata diariamente varia entre 100 e 150, nunca menos de 100, e para receber alimentos e mantimentos é uma luta constante", frisou.

A equipa da ASP "está constantemente em reuniões. Está constantemente a fazer contactos para que esses fornecimentos não parem. Mas tem sido um pouco inconstante, o que faz com que, no dia a dia, muitas horas são a tentar que não acabe o stock de medicamentos nem alguma comida".

Os quatro elementos da ASP no Haiti estão no campo de deslocados situado junto à Escola Etnológica, junto ao Palácio Presidencial e prestam ainda apoio a um bairro de lata da periferia de Port-au-Prince e a um orfanato. "Diria que somos uma clínica aberta, um hospital aberto", explicou.

Nesta sua primeira experiência de trabalho humanitário em zona de catástrofe, Ricardo Gabriel destaca como positivo a segurança que se começa a sentir e a resiliência dos haitianos.

"Não são visíveis problemas de segurança. Nas ruas não tenho visto quaisquer movimentos de gangues. Não podemos dizer que isso não exista, mas a cidade está segura", disse, acentuando que encontrou um povo "com muita força, a olhar para a frente, que tem espírito e não é derrotista".