Por António Marujo, in Jornal Público
Os bispos dos países lusófonos denunciaram as "oligarquias de poder político e económico que, sem qualquer escrúpulo, enriquecem à custa dos pobres". No final do IX encontro das conferências episcopais lusófonas, os responsáveis dos episcopados dos sete países representados (faltou Timor e Macau, que por vezes participa como observador) denunciaram ainda "a apropriação indevida dos bens que deviam ser de todos".
A reunião decorreu em São Tomé e Príncipe, entre 2 e 8 de Julho. No documento de conclusões, divulgado pela agência Ecclesia, os bispos manifestam-se ainda preocupados com "novas e sofisticadas formas de corrupção" e com a "comercialização da droga, o tráfico de pessoas, o desrespeito pela vida".
O encontro teve como tema central a pobreza e a exclusão social. Como causa importante para este fenómeno, os bispos apontam "as debilidades cada vez maiores das instituições da chamada sociedade civil, por falta de preparação técnica e consciencialização cívica na defesa dos seus legítimos direitos". E afirmam que é mais importante investir na "alteração das estruturas" (através da preparação técnica e ética de novos quadros) do que gerir "conjunturas", reduzindo o combate à pobreza ao assistencialismo.
São necessárias também medidas de "partilha da terra e de distribuição da riqueza, sem esquecer o combate à corrupção e a promoção de empregos dignos". A aposta na educação e na saúde, bem como a promoção da justiça, são outras áreas.
Os bispos não esquecem os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, que deveriam estar alcançados em 2015. Mas "estão muito longe de serem atingidos", lamentam. Foi ocasião para pedir aos responsáveis da União Europeia "que honrem o seu compromisso de disponibilizar 0,7 por cento do rendimento nacional para ajuda pública ao desenvolvimento".
A corrupção merece uma referência explícita dos bispos dos sete países - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé. Há "novas e sofisticadas formas de corrupção" que atingem, muitas vezes, as próprias "administrações públicas das quais seria legítimo esperar a defesa dos cidadãos".
No comunicado, os bispos dizem que é desejável a "monitorização das políticas orçamentais" dos vários Governos, de modo a garantir a boa utilização das verbas para o desenvolvimento.